Lula valida sistema de meta contínua de inflação, com alvo em 3%

Em junho do ano passado, Haddad anunciou que publicaria o decreto, mas isso não foi feito até o momento

Estadão Conteúdo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Publicidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva validou, nesta terça-feira, 25, o decreto que altera o regime de meta de inflação anual para o modelo de meta contínua a partir de 2025, com alvo em 3%, apurou o Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). A decisão deve ser publicada nesta quarta-feira, 26, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).

A validação do chefe do Executivo ocorreu na tarde desta terça, durante reunião com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e a ministra interina da Casa Civil, Miriam Belchior, no Palácio do Planalto. O encontro também contou com a presença do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que não constava na agenda de Lula.

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita 

Continua depois da publicidade

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a previsão é que o decreto seja publicado antes da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), para que o colegiado possa fixar a meta de inflação em 3%. O encontro do CMN está marcado para esta quarta-feira, 26, das 15h às 17h. O colegiado é um órgão formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central. Tradicionalmente as decisões são divulgados após as 18h.

Em junho do ano passado, Haddad anunciou que publicaria o decreto, mas isso não foi feito até o momento. Se a nova regulamentação da meta contínua não for publicada até a reunião do CMN, o conselho precisará definir a meta de inflação anual para 2027.

No começo de junho, o ministro da Fazenda confirmou que o decreto da meta contínua seria conhecido até o fim deste mês. A informação havia sido adiantada ao Estadão/Broadcast pelo secretário de Política Econômica, Guilherme Mello.

Continua depois da publicidade

O que muda na meta de inflação

Em junho do ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou em reunião do CMN a alteração do regime de metas de inflação do País do sistema de ano-calendário (de janeiro a dezembro), que vigora desde 1999, para contínua. O órgão também fixou o alvo a ser perseguido a partir de 2025 em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual.

O CMN, que reúne os ministros da Fazenda e do Planejamento e também o presidente do Banco Central, define, periodicamente, uma meta para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o ano. Cabe ao Banco Central perseguir essa meta, usando os instrumentos de política monetária ao seu alcance – sendo a taxa de juros (Selic) o principal deles.

Continua depois da publicidade

Quando a meta não é cumprida, o presidente do BC precisa enviar uma carta ao ministro da Fazenda se justificando pelo descumprimento.

Até agora, a meta de inflação era válida para o ano-calendário. Ou seja, o que importava era que estivesse dentro da meta em 31 de dezembro, mesmo que ficasse fora durante todo o ano. A partir de 2025, quando o Banco Central terá um novo presidente, essa meta passará a ser contínua, como já ocorre na maioria dos países que adotam o sistema de metas de inflação. Isso significa que o BC terá de olhar permanentemente para a meta, e não apenas para o resultado no fim do ano.

Para os especialistas, a mudança para a meta contínua pode ajudar o Banco Central a administrar choques inflacionários. Entre março de 2021 e agosto de 2022, por exemplo, o Copom elevou os juros de 2% ao ano para o atual patamar de 13,75% ao ano para tentar combater o aumento da inflação em função dos choques provocados pela pandemia. “Essa mudança ajuda a ter uma volatilidade menor na taxa de juros, porque o BC passa a olhar sempre para um horizonte constante. Não precisa fazer movimentos fortes”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco do Inter.

Continua depois da publicidade

Outro ponto destacado é o de que o novo regime reduz o risco de populismo econômico. Para deixar a inflação nos limites estabelecidos pela meta no fim do ano, muitos governantes optavam por segurar tarifas de transporte público, preços de combustíveis e de energia elétrica.