O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrentará um cenário desafiador a partir de janeiro de 2023, quando toma posse. O petista terá de enfrentar uma dura oposição tanto na Câmara quanto no Senado, mas têm condições de formar uma base parlamentar que lhe garanta o mínimo de apoio necessário para levar adiante a agenda do novo governo. A avaliação é de analistas ouvidos na edição especial desta segunda-feira (31) do InfoMorning, programa exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube.
Lula foi eleito presidente da República, no domingo (30), com 50,9% dos votos válidos (60,3 milhões) no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto. Ele derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, que teve 49,1% (58,2 milhões).
“Uma parte do Centrão vai ser bolsonarista, mas uma parte segue sendo pragmática e está disposta a negociar cargos, emendas e barganhas. Isso deve dar ao presidente Lula a chance de construir o mínimo de base de apoio no Congresso. Esse cenário de paralisia legislativa não é algo que a gente tenha no radar”, afirmou o analista político Mário Braga, da consultoria Control Risks.
Para Rogério Schmitt, analista político da Empower Consultoria, Lula terá necessariamente de ampliar o arco de apoio no Parlamento para viabilizar os projetos de interesse do futuro governo.
“A coalizão de partidos que apoiou Lula no primeiro turno tem 23%, 24% dos votos na Câmara. Lula claramente precisa ampliar essa base. Precisa atrair apoio de partidos como União Brasil, PSD, MDB, talvez até do PSDB”, projeta.
Segundo Braga, a missão de aumentar o leque de apoio não se restringe ao Congresso Nacional, mas à própria formação do primeiro escalão do governo.
“Os desafios que se impõem são próprios de um governo de frente ampla, de coalizões”, avalia. “Esses próprios agentes têm essa percepção. Em um primeiro momento, há uma aceitação de que alguém vai ter que ceder. Esse tipo de movimento vai ser necessário dentro do governo, na formação do ministério, por exemplo.”
Duelo de rejeições
De acordo com os analistas ouvidos pelo InfoMoney, as expressivas votações de Lula e Bolsonaro no segundo turno – em que o país praticamente se dividiu ao meio – indicam que ambos os candidatos receberam muitos votos de eleitores que não se identificam nem com o petismo nem com o bolsonarismo.
“Essa foi uma eleição baseada em rejeição. Boa parte do apoio que qualquer um dos dois candidatos teria nas urnas se manifestaria em oposição a quem os eleitores não queriam que estivesse no Planalto”, afirmou Braga.
“A partir da posse, esses 50% não representam o apoio que os dois têm. Parcela desses votos, na verdade, é oposição. Podemos pensar que talvez o novo governo tenha uma ‘lua de mel’ mais curta, eventuais protestos de oposição desde o início do governo… Um cenário polarizado e de radicalização de parte do eleitorado”, avalia.
Já para Schmitt, é preciso esperar mais alguns meses para se projetar com mais clareza o cenário político do início do novo governo Lula.
“Provavelmente, vamos ter que esperar até fevereiro ou março, um ou dois meses após a posse do presidente eleito. Nem todo mundo que votou no Lula é petista radical. E a maioria dos eleitores do Bolsonaro não é bolsonarista radical. Temos de ver que parcela dessa votação muito expressiva que o Bolsonaro recebeu de fato irá se converter em rejeição ao governo Lula logo na largada”, diz. “Pode ser que aconteça uma confusão como nos Estados Unidos, mas pode ser também que não aconteça nada. O Brasil é sempre uma grande incógnita.”
Economia
Em relação ao nome a ser escolhido por Lula para comandar a área econômica do governo, Rogério Schmitt prefere não arriscar nenhum prognóstico neste momento. Entre os cotados, aparecem o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT-SP) e o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles.
“É muito difícil afirmar categoricamente quem será o futuro comandante da Economia. A única certeza é que a pasta será desmembrada, com a recriação do Ministério do Planejamento, e a Economia voltando a ser Ministério da Fazenda”, afirmou.
“Quando o Lula indicou o [Antonio] Palocci, foi uma surpresa, pois ele não estava entre os nomes mais cotados na época. Em princípio, Lula tem dito que vai indicar um político para essa função, mas pode ser que mude.”