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Dois dias depois de o Ministério das Relações Exteriores divulgar um comunicado manifestando “preocupação” com os rumos da eleição na Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom contra seu aliado histórico, o ditador Nicolás Maduro, e classificou a situação política no país vizinho como “grave”.
Em entrevista coletiva, ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, em Brasília, Lula criticou o fato de a principal candidata da oposição ao regime venezuelano, a filósofa e professora universitária Corina Yoris, não ter conseguido registrar sua candidatura para enfrentar Maduro nas eleições presidenciais marcadas para o dia 28 de julho.
“Eu fiquei surpreso com a decisão. Primeiro, houve a boa decisão de a candidata proibida pela Justiça [María Corina Machado] indicar uma sucessora. Achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata [Yoris] não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar, tentou usar o computador e não conseguiu entrar”, disse Lula.
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“Então, foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata que, por coincidência, leva o mesmo nome da candidata que tinha sido proibida de ser candidata. O dado concreto é que não tem explicação jurídica, política, você proibir um adversário de ser candidato”, completou o presidente brasileiro.
Lula voltou a citar o fato de ter sido impedido pela Justiça de concorrer às eleições presidenciais de 2018 – ele foi condenado por corrupção no âmbito da Operação Lava Jato e preso pela Polícia Federal. Na ocasião, Lula indicou Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda, para disputar o pleito – o petista chegou ao segundo turno e foi derrotado por Jair Bolsonaro (PL).
Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações de Lula, alegando que o ex-juiz Sergio Moro havia sido parcial durante o processo, e o petista recuperou os direitos políticos. Em 2022, ele se candidatou ao Palácio do Planalto e foi eleito, derrotando Bolsonaro no segundo turno.
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Na entrevista aos jornalistas, Lula afirmou que conversou com Maduro e que o líder venezuelano havia se comprometido a garantir eleições democráticas e transparentes na Venezuela, o que seria importante para o país “voltar ao mundo com normalidade”.
Ao lado de Lula, Emmanuel Macron também demonstrou preocupação com o processo eleitoral venezuelano. “O marco em que essas eleições estão acontecendo não pode ser considerado democrático. Temos de fazer tudo o que o presidente Lula decidiu fazer, e nós também faremos mais esforços, para convencer o presidente Maduro e o sistema para que reintegrem todos os candidatos, com observadores regionais e internacionais”, disse o presidente da França.
“Condenamos firmemente terem retirado uma candidata desse processo, e espero que seja possível ter um novo marco reconstruído, nas próximas semanas, nos próximos meses. Não nos desesperemos, mas a situação é grave e piorou na última semana”, concluiu Macron.
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Regime de Maduro reagiu
O governo da Venezuela reagiu ao comunicado divulgado pelo Itamaraty sobre o pleito naquele país. Na terça-feira (26), o Ministério das Relações Exteriores do governo Maduro divulgou nota em que afirma que a mensagem brasileira continha “comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.
Ainda de acordo com o regime de Maduro, o documento divulgado pelo governo Lula “parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
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“O governo venezuelano tem mantido uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil, em nenhuma hipótese emite nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem naquele país. Consequentemente, tem a moral para exigir o mais estrito respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e na nossa democracia, uma das mais robustas da região”, diz a nota da chancelaria venezuelana.
“A Venezuela repudia a declaração cinzenta e intrometida, redigida por funcionários do Itamaraty, que parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários carregados de profunda ignorância e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”, diz o texto.