Lula, sobre gastos: “Eu tenho de estar convencido se há necessidade ou não de cortar”

"Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este país é muito grande, este país é muito poderoso. O que é pequena é a cabeça de alguns especuladores", disse Lula

Fábio Matos

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista no Palácio do Planalto (Ricardo Stuckert/PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista no Palácio do Planalto (Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou, nesta terça-feira (16), o compromisso de seu governo com a responsabilidade fiscal e prometeu fazer “todos os esforços” para cumprir as metas estipuladas pelo novo arcabouço fiscal, aprovado no ano passado pelo Congresso Nacional.

Apesar de ter garantido que a questão fiscal merece toda a atenção do governo, Lula afirmou que, antes de tudo, precisa estar “convencido” sobre a necessidade de corte de gastos.

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Nos últimos meses, o mercado financeiro tem emitido sinais de desconfiança em relação à capacidade do governo de equacionar as contas públicas e reduzir as despesas, depois de uma série de medidas adotadas pela equipe econômica no sentido de aumentar as receitas.

“Primeiro, eu tenho que estar convencido se há necessidade ou não de cortar. Você sabe que eu tenho uma divergência de conceito com o pessoal do mercado. Nem tudo que eles tratam como gasto eu trato como gasto”, disse o presidente da República, em entrevista à TV Record.

“A minha mãe dizia que a gente nunca pode gastar mais do que a gente ganha”, prosseguiu Lula. “Às vezes, fico irritado, porque eu não sou marinheiro de primeira viagem. Eu sou o presidente da República mais longevo deste país depois de Getúlio Vargas e Dom Pedro II. Eu tenho experiência de administração bem sucedida”, defendeu o petista.

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Lula garantiu, ainda, que o governo federal vai “fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal”. “Eu dizia na campanha: vamos criar um país com estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso — posso dizer para você como se estivesse dizendo para um filho meu, para a minha mulher —, com a responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade. Eu trago do berço”, afirmou.

“É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este país é muito grande, este país é muito poderoso. O que é pequena é a cabeça dos dirigentes deste país e a cabeça de alguns especuladores”, disse o presidente.

Questionado sobre a possibilidade de zerar o déficit primário em 2025, como vem sendo buscado pela equipe econômica, Lula disse que “este país não tem nenhum problema se é déficit zero, se é déficit 0,1%, se é déficit 0,2%”.

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“Não tem nenhum problema para o país. O que é importante é que este país esteja crescendo, que a economia esteja crescendo, que o emprego esteja crescendo e que o salário esteja crescendo”, avaliou o presidente.

Regulação das redes sociais

Além da pauta econômica, Lula defendeu, na entrevista, a regulação das redes sociais. Segundo o presidente da República, as grandes plataformas digitais globais – as chamadas “big techs” – não podem continuar lucrando à base da disseminação de “mentiras”.

“Cabe ao Palácio [do Planalto] ter uma posição, e eu quero dizer com muita veemência que não é possível essas empresas continuarem ganhando dinheiro disseminando mentiras, disseminando inverdades, fazendo provocação, campanha contra vacina, sem levar em conta nenhum compromisso com a verdade”, disse Lula.

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Para o chefe do Executivo, a regulamentação das plataformas digitais é “urgente” no país.

“Eu sou a favor de que a gente tenha uma regulação. Uma regulação urgente, porque essas empresas não pagam imposto no Brasil. Essas empresas ganham bilhões de publicidade, essas empresas têm muito lucro com a disseminação do ódio neste país e no mundo inteiro. Então, eu acho que nós temos que tomar uma decisão”, afirmou.

Lula disse, ainda, que deve se reunir nos próximos dias com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para tratar do assunto.

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O Senado já aprovou um projeto de lei que prevê a regulação das redes sociais, mas o texto está parado na Câmara dos Deputados.

“Nesta semana, eu vou ter uma reunião com o ministro da Justiça para a gente discutir um critério com o Congresso Nacional, se a gente retoma aquele projeto que estava lá, se a gente vai apresentar uma nova proposta, se o Congresso Nacional vai apresentar uma proposta”, afirmou Lula.

“O dado concreto é que a gente não pode perder de vista a necessidade de fazer uma regulação para que as coisas voltem a uma certa normalidade”, disse.

“Essas empresas têm controle e elas não podem, para ganhar dinheiro, permitir aberrações que a gente vê todo santo dia nas redes digitais desse mundo. E é meia dúzia de empresas”, concluiu Lula.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”