Lula poupa BC, critica Bolsonaro e Tarcísio e diz que não pode governar só para o PT

Presidente manteve o tom mais comedido e não fez suas tradicionais críticas ao Banco Central, ao discursar durante cerimônia de entrega de 280 novas ambulâncias para 248 municípios de 24 estados brasileiros

Fábio Matos

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve o tom mais comedido e não fez suas tradicionais críticas ao Banco Central (BC), nesta quinta-feira (4), ao discursar durante uma cerimônia de entrega de 280 novas ambulâncias para 248 municípios de 24 estados brasileiros. O petista, desta vez, mirou no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Antecessor de Lula, Bolsonaro é o maior adversário político do atual presidente da República. Tarcísio, por sua vez, é apontado como principal herdeiro político do bolsonarismo e está cotado para disputar a eleição presidencial de 2026, possivelmente enfrentando Lula. Bolsonaro está inelegível até 2030, por decisão da Justiça Eleitoral.

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Em seu discurso no evento, realizado no município de Salto (SP), a 104 quilômetros da capital paulista, Lula reclamou da ausência de Tarcísio e fez uma série de ataques ao governo Bolsonaro.

“É uma pena porque o governador [Tarcísio] poderia vir com a gente. Mas ele não vem em nenhum lugar em que eu convido”, protestou Lula.

“Ele não vem porque ele diz que o dinheiro é do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], não é do Lula. Ele tem de saber que o BNDES empresta dinheiro para governador no meu governo. Porque, no governo deles, não emprestava nenhum centavo”, disse o presidente.

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Ao se referir a Bolsonaro, sem citar expressamente o nome do ex-presidente, Lula criticou a atuação do governo anterior no enfrentamento à pandemia de Covid-19.

“Veio a Covid, em um momento em que a gente tinha um governante irresponsável que brincou com a saúde do povo brasileiro. Quem evitou uma desgraça maior neste país foi a existência do Samu, as nossas enfermeiras e enfermeiros e os nossos funcionários. Muitos perderam a vida para salvar as pessoas”, afirmou Lula.

“Eu nunca vi, na história da sociedade brasileira, alguém receitar remédio sem a anuência dos médicos. Nem inventar remédio para malária para cuidar do povo com Covid. No Brasil, inventaram muita mentira, mas, graças a Deus, prevaleceu a verdade e o SUS está aqui, orgulhoso de servir ao povo brasileiro”, prosseguiu o petista.

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Segundo Lula, “o Estado brasileiro tem de assumir a responsabilidade de cuidar do seu povo”. “Criamos o Samu para dar conforto, dar ideia da responsabilidade e do compromisso. Ninguém pode morrer por falta de assistência ou porque não aparece uma ambulância”, afirmou.

“Não tem nenhum país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tenha um sistema universal de saúde como o SUS, que foi criado por nós na Constituição de 1988. E muitas vezes a gente fica vendo o Samu apenas pelo noticiário. Só aparecia na TV e no jornal aquele caso que não era atendido. Mas todas as outras pessoas que foram salvas não eram mostradas”, completou.

Ainda em seu discurso, novamente sem mencionar Bolsonaro, Lula disse que o Brasil foi “governado por gente que tinha pouca massa encefálica e que não pensava no futuro do país”.

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Governar para todos

Criticado pela contundência em seus últimos pronunciamentos, principalmente com as críticas ao BC e ao mercado financeiro, Lula disse que precisa governar para todos, e não apenas para os aliados. Ele citou o exemplo do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), seu antigo adversário e atual ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

“Vocês imaginaram que eu ia convidar o Alckmin para ser meu vice depois dele ser meu adversário, depois dele ter derrotado o PT em 4 ou 5 eleições em São Paulo? O que eu fiz? Eu preciso governar não para as pessoas do PT. Eu preciso governar para as pessoas do Brasil”, afirmou Lula.

“Tem gente de todos os partidos políticos, tem gente que torce para todos os times de futebol, de todas as religiões. Eu tenho de governar sem perguntar se elas gostam de mim ou não”, continuou.

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“Eu tenho que cuidar de gente, de homens, mulheres e crianças. Por isso, eu não tenho que perguntar se o governador gosta ou não gosta de mim. Eu não quero casar com o governador! Eu quero governar este país.”

Entrega de ambulâncias

Em Salto (SP), Lula participou da entrega de 280 novas ambulâncias para 248 municípios de 24 estados. As unidades vão substituir veículos que já têm 7 anos de uso. A renovação da frota faz parte dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (o Novo PAC) – ao todo, são R$ 89 milhões nessa entrega. Outras 25 Unidades de Suporte Básico devem ser entregues nos próximos dias.

De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, mais 6,6 milhões de pessoas passarão a receber cobertura de emergência. Em 4 anos, a cobertura deve passar de 87,3% para 90,4% dos brasileiros, diz a pasta.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”