Lula no G7: direito de defesa de Israel se transformou em “direito de vingança”

Em pronunciamento na cúpula do G7, Lula também defendeu taxação global dos super-ricos, demonstrou preocupação com mudanças climáticas e pediu controle maior sobre inteligência artificial

Fábio Matos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprimenta Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, em reunião de cúpula do G7 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprimenta Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, em reunião de cúpula do G7 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Em pronunciamento durante o segmento de engajamento externo da Cúpula do G7, na Itália, nesta sexta-feira (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender o fim dos conflitos na Faixa de Gaza e entre Rússia e Ucrânia.

Em seu discurso, Lula voltou a criticar a resposta militar do governo israelense do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aos ataques perpetrados pelo grupo terrorista Hamas, em outubro do ano passado.

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“As instituições de governança estão inoperantes diante da realidade geopolítica atual e perpetuam privilégios. O ano de 2023 viu o gasto com armamentos subir em relação a 2022, chegando a US$ 2,4 trilhões”, criticou Lula, antes de mencionar, especificamente, o conflito entre Israel e o Hamas.

“Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança. Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças. Isso nos levou a endossar a decisão da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça”, afirmou o presidente brasileiro.

Em fevereiro, Lula subiu o tom contra o governo Netanyahu e comparou os ataques na Faixa de Gaza à barbárie praticada pela Alemanha nazista de Adolf Hitler contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial.

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Recentemente, Lula reforçou as críticas e disse que as ações do governo israelense em Gaza configuram um “genocídio”.

A resposta não demorou. Netanyahu disse que Lula “cruzou uma linha vermelha” e que a declaração era “vergonhosa e grave”. Na sequência, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou que o presidente brasileiro havia se tornado “persona non grata em Israel até que retire o que disse”. Dias depois, o chanceler chamou a comparação de Lula de “promíscua” e “delirante” e questionou: “Como ousa comparar Israel a Hitler?”.

Lula não se retratou, e o governo brasileiro decidiu chamar para consultas o então embaixador em Israel, Frederico Meyer, e ao mesmo tempo convocar o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações. Além disso, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, criticou a postura do seu colega israelense. No fim de maio, Lula confirmou a retirada definitiva do embaixador do Brasil de Israel.

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No discurso no G7, reiterou, ainda, que “o Brasil condenou de maneira firme a invasão da Ucrânia pela Rússia”. “Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, disse.

“Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz”, completou.

Tributação dos super-ricos

Em seu pronunciamento no G7, Lula voltou a defender a proposta de taxação global dos super-ricos, ideia que já havia sido encampada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em recente encontro do G20 e em reunião com o papa Francisco, no Vaticano.

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“É nesse contexto de combate às desigualdades que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20”, afirmou Lula.

“Já passou da hora de os super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos. Essa concentração excessiva de poder e renda representa um risco à democracia.”

Inteligência artificial

Outro tema abordado por Lula em seu discurso na reunião do G7 foi o avanço da inteligência artificial (IA) em todo o mundo.

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Segundo o presidente da República, é necessária “uma governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento”.

“Na área digital, vivenciamos concentração sem precedentes nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países”, observou Lula.

“A inteligência artificial acentua esse cenário de oportunidades, riscos e assimetrias. Seus benefícios devem ser compartilhados por todos. Interessa-nos uma IA segura, transparente e emancipadora. Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. Que potencialize as capacidades dos Estados de adotarem políticas públicas para o meio ambiente e que contribua para a transição energética. Uma IA que também tenha a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países. E, sobretudo, uma IA como ferramenta para a paz, não para a guerra”, concluiu.

Mudanças climáticas

Ainda segundo o presidente brasileiro, “conduzir uma revolução digital inclusiva e enfrentar a mudança do clima são dilemas existenciais do nosso tempo”.

“Na última reunião similar de que participei na Itália, na Cúpula de L´Áquila, em 2009, enfrentávamos uma crise financeira global que expôs os equívocos do neoliberalismo. Hoje, o Brasil preside o G20 num contexto de múltiplos e novos desafios”, disse Lula.

“Precisamos lidar com essa dupla transição tendo como foco a dignidade humana, a saúde do planeta e um senso de responsabilidade com as futuras gerações.”

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”