Lula: Não me interessa brigar com o presidente do Banco Central

Em entrevista à CNN Brasil, Lula diz que Campos Neto "tem que saber que, neste país, , a gente tem que governar para as pessoas que mais necessitam"

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (16), que não tem interesse em brigar com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. A declaração foi dada em entrevista ao canal de televisão por assinatura CNN Brasil e ocorre em um momento de tensão entre o novo governo e a autoridade monetária.

“Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central e que eu mal conheço. Se ele topar, vou levá-lo para conhecer os lugares mais miseráveis do Brasil. Ele tem que saber que, neste país, a gente tem que governar para as pessoas que mais necessitam”, disse Lula à jornalista Daniela Lima.

Lula tem criticado com frequência a política monetária adotada pelo Banco Central e manifestado discordância com o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, mantida em 13,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O desconforto é tão grande com esse patamar que, nas últimas semanas, integrantes do governo passaram a defender a possibilidade de o Conselho Monetário Nacional (CMN) mudar a meta de inflação, hoje fixada em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, para 2023.

O CMN é um órgão colegiado integrado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), além do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A primeira reunião do conselho desde o início do novo governo ocorreu na tarde desta quinta-feira (16), sob os ecos da entrevista de Lula. Uma coletiva de imprensa foi convocada pelo Banco Central para as 18h (horário de Brasília).

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Lula também já criticou em outras ocasiões a autonomia do BC, mas sinaliza que não pretende trabalhar pela mudança da lei, aprovada pelo Congresso Nacional em fevereiro de 2021. Dentre outros pontos, a legislação estabeleceu mandatos fixos para o presidente e os diretores da autarquia. É por isso que Campos Neto tem mandato até dezembro de 2024.

“Quando o presidente da República era responsável pelo BC, você conversava. Quando tinha que aumentar [a taxa de juros], aumentava. Mas você tem que cuidar do outro lado. O BNDES tinha a TJLP. Você aumentava 0,5% de juros, mas reduzia 0,5% no juros do BNDES, para facilitar para aqueles que precisavam de investimento para fazer a economia crescer. Você não precisa de briga para isso, só bom senso”, disse Lula na entrevista.

À CNN Brasil, embora tenha dito não estar interessado em brigar com Campos Neto, Lula também disse que “até teria direito” de fazê-lo, já que ele foi indicado para o cargo por seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

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“Significa que a cabeça política dele é uma cabeça muito diferente da minha e daqueles que votaram em mim. Mas ele está lá, tem um mandato”, continuou o presidente da República.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.