Lula inicia “giro pelo Brasil” de olho em eleições municipais e prometendo “ano da colheita”

Presidente inaugura série de viagens nacionais em busca de recuperação de popularidade e encampando bandeiras de campanha

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cerimônia para implantação do Parque Tecnológico Aeroespacial da Bahia (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cerimônia para implantação do Parque Tecnológico Aeroespacial da Bahia (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu início, nesta quinta-feira (18), a um “giro pelo Brasil” para o lançamento de programas e inauguração de obras prioritárias de sua gestão − de olho nas eleições municipais que se aproximam.

A primeira agenda do mandatário foi a cerimônia para implantação do Parque Tecnológico Aeroespacial da Bahia, que contou com a participação do governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), de parlamentares, como os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, e dos ministros da Casa Civil, Rui Costa (PT); dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos); da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB); e da Defesa, José Mucio Monteiro.

Durante seu discurso, Lula repetiu a tônica de “reconstrução” do país e que este ano será da “colheita” daquilo que foi plantado em 2023. “Eu peguei um país devastado por uma praga de gafanhoto que destruiu quase tudo que tínhamos feito em 13 anos de governo”, disse.

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“Esse ano é o ano da colheita. No ano passado, nós plantamos. Nós pegamos um país quase destruído, com milhares de obras paralisadas − de creche a universidade, de UBS a hospitais. Tudo paralisado. Teimosamente paralisado, porque não fazia parte da lógica do governo passado fazer com que esse país crescesse”, continuou.

O tom de campanha de Lula se situa em um contexto de busca do mandatário por recuperação de popularidade, de olho na sua capacidade de influenciar disputas pelas prefeituras País afora. A pesquisa Genial/Quaest mostra que a avaliação positiva do governo foi de 40% em fevereiro para 36% em dezembro, enquanto a negativa subiu de 20% para 29%. Segundo o Ipec, o percentual de eleitores que classificam a atual administração como ruim ou péssima subiu de 24%, em março, para 30%, no último mês. Ao passo que as classificações como ótima ou boa oscilaram de 41% para 38%.

A escolha da Bahia como ponto de partida para o giro nacional também não é por acaso: o estado é um dos principais pilares de apoio ao presidente e teve papel fundamental em sua vitória nas urnas contra Jair Bolsonaro (PL) em 2022. “Visitar os estados da federação será uma rotina minha daqui para frente”, disse Lula em seu discurso.

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Depois de Salvador (BA), Lula foi a Recife (PE) para participar da cerimônia de retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima − outra agenda carregada de simbologia. Amanhã (19), será a vez do Ceará, completando um giro inaugural por estados do Nordeste.

“Nós vamos viajar muito. Nós vamos viajar esse país. Pode ficar certo, Jerônimo, se tiver aqui a inauguração de uma fábrica de palito de dente, pode me convidar que eu virei aqui”, brincou o presidente.

“É preciso mostrar que as coisas boas acontecem nesse país. Às vezes, você fica sentado na frente de uma televisão e quase entra em depressão, porque parece que nada está acontecendo de bom no país”, criticou.

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A estratégia de concentrar agendas dentro do país contrasta com a elevada quantidade de viagens internacionais de Lula em 2023. Mesmo assim, o presidente já anunciou que viajará ao Egito e à Etiópia em fevereiro.

Nas viagens pelo Brasil, a tendência é que Lula reforce bandeiras de sua campanha e aproveite a agenda de obras previstas no âmbito do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) − uma das principais apostas do Palácio do Planalto em 2024, em contraste com o quadro de restrição fiscal que se desenha.

No discurso em Salvador, Lula ressaltou uma reunião “de quase 2 horas” que teve ontem (17) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) para discutir o futuro econômico do país e disse que saiu do encontro mais “otimista”. “Eu sou mais otimista hoje do que eu era durante a campanha, porque acho que nós, que assumimos o papel de governar (…), não podemos dizer que não dá para fazer as coisas. O que precisamos é ter coragem de assumir o nosso papel”, disse.

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“Esse país nunca será o país que nós queremos se a gente não levar em conta que é preciso melhorar a qualidade de vida de 80% da população, que é preciso aumentar o salário mínimo, que os mais pobres tenham direito de trabalhar e estudar. Queremos construir uma sociedade de padrão de classe média. Não quero uma sociedade com pessoas morando na rua, mendigando uma sopa”, continuou.

O presidente também repetiu avaliação sobre a janela de oportunidade que se desenha para o Brasil no cenário internacional, diante da necessidade de uma transição energética em busca do desenvolvimento sustentável, e entoou bandeiras históricas do PT contra a privatização da Eletrobras e desinvestimentos da Petrobras em gestões anteriores.

“Esse país precisa se dar uma chance. Esse país é muito grande para ser tratado como país pequeno. Esse país tem um potencial extraordinário − e nós já provamos isso duas vezes. Esse país já poderia estar consagrado como a quinta economia do mundo há muito tempo, mas há muita gente que teima em retroceder. O que fizeram com a nossa Petrobras? A privatização da Eletrobras? As pessoas não gostam que se fale, mas foi um escárnio nesse país o que se fez com um setor estratégico como o de energia”, afirmou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.