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SÃO PAULO – A pouco mais de um ano das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cresceram na corrida ao Palácio do Planalto, segundo a última rodada da pesquisa Ipespe, divulgada nesta quinta-feira (30).
O levantamento, realizado entre os dias 22 e 24 de setembro, mostra que Lula chegou a 30% das intenções de voto no cenário espontâneo (quando o eleitor aponta seu candidato sem que nomes sejam apresentados pelo entrevistador) – oscilação positiva de 2 pontos percentuais em relação a agosto. Já Bolsonaro manteve a segunda posição, passando de 22% para 23%.
Com o movimento, os dois abrem vantagem de 21 pontos sobre outros nomes citados pelos eleitores – o que, combinado com outras informações apresentadas pela pesquisa, pode indicar espaço mais estreito para uma candidatura de “terceira via”.
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Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, recebeu 2% das menções espontâneas. Na sequência, apareceram o ex-juiz federal Sergio Moro (sem partido), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o empresário João Amoêdo (Novo) e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) – cada um com 1% das intenções de voto.
Normalmente, quando mais próximo do pleito, o cenário espontâneo aponta para maior cristalização de apoio aos candidatos. Mas, dada a distância do primeiro turno e o desconhecimento em relação a quem de fato será candidato, os dados devem ser vistos com cautela.
A pesquisa Ipespe, encomendada pela XP, contou com 1.000 entrevistas telefônicas, realizadas por operadores com eleitores de todo o país em amostra proporcional à população nacional. O intervalo de confiança é de 95,5%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a probabilidade de o resultado se repetir dentro da margem máxima de erro, estabelecida em 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
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Foram feitas duas simulações estimuladas de primeiro turno (quando são apresentados ao eleitor possíveis nomes de candidatos). Na primeira delas, Lula aparece com 43% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 28%. Ciro Gomes aparece com 11%, seguido por Doria, com 5%, e Mandetta, com 4%. O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem 2% das intenções de voto. Brancos, nulos e indecisos somam 7% dos entrevistados.
Lula oscilou positivamente 3 p.p., enquanto Bolsonaro subiu 4 p.p.. Ciro Gomes foi de 10% para 11%, enquanto os outros nomes que pontuaram reuniram 11% das intenções de voto – 6 pontos a menos do que no mês anterior. O cenário, contudo, não é exatamente o mesmo de levantamentos anteriores, o que dificulta comparações.
Moro, que aparecia com 9% das intenções de voto, deixou de ser considerado nesta simulação e pode ter contribuído indiretamente no crescimento de Bolsonaro. Isso porque o mandatário não apresentou padrão similar em outras partes da pesquisa.
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Em cenário alternativo, Doria é substituído por Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e são acrescentadas as candidaturas de Sergio Moro, dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS) e do apresentador de televisão José Luiz Datena (PSL).
Neste caso, Lula lidera com 42% das intenções de voto – 17 pontos a mais que Bolsonaro. No segundo pelotão, Ciro Gomes aparece com 9%, seguido por Moro, com 7%. Mandetta tem 3%, mesmo percentual de Datena e Eduardo Leite. Simone Tebet conta com o apoio de 1% dos entrevistados, assim como Rodrigo Pacheco. Brancos, nulos e indecisos somam 6%.
Segundo turno
Foram feitas oito simulações de segundo turno. O ex-presidente Lula aparece em cinco delas, superando seus adversários com vantagem superior ao limite da margem de erro. Contra Bolsonaro, a diferença é de 19 pontos. Os dois passaram 8 meses tecnicamente empatados, mas a partir de junho Lula assumiu a dianteira da disputa.
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Contra Moro, a vantagem de Lula cresceu. O petista agora aparece com 53% das intenções de voto, contra 34% do ex-juiz. Quatro meses atrás, a diferença era de 3 p.p., o que configurava empate técnico. Moro chegou a liderar a disputa com vantagem superior à margem de erro em três pesquisas realizadas no ano passado.
Lula também derrotaria Ciro Gomes (49% a 30%), Eduardo Leite (49% a 21%) e João Doria (50% a 24%). Em todos os casos, a vantagem supera os 15 pontos percentuais.
Além do cenário contra Lula, o nome de Bolsonaro é testado contra três potenciais adversários. O presidente aparece numericamente atrás em todas as simulações – inclusive contra Doria (35% a 39%) e Leite (33% a 36%), em que dois meses atrás ele apresentava pontuação ligeiramente superior, embora em situação de empate técnico.
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Bolsonaro seria derrotado por Ciro Gomes no segundo turno. A edição de setembro da pesquisa mostra o pedetista com 45% das intenções de voto – 11 p.p. a mais que o atual presidente. Três meses atrás, a diferença era de 4 pontos, o que configurava empate técnico.
Consolidação e rejeição
A pesquisa Ipespe também mostra que, apesar de liderarem a corrida presidencial, Lula e Bolsonaro mantêm patamares elevados de rejeição. No caso do líder petista, 45% dos entrevistados dizem que não votariam nele de jeito nenhum. Já o atual presidente conta com a antipatia de 60%.
O levantamento, por outro lado, revela que 39% dizem que votariam com certeza em Lula, e 23% em Bolsonaro. Trata-se de outro indicativo de dificuldades para um nome alternativo à polarização protagonizada pelos dois candidatos. Ainda segundo a pesquisa, 15% afirmam que poderiam votar em Lula e 10% em Bolsonaro.
Avaliação de governo
O presidente Jair Bolsonaro também voltou a experimentar um aumento nos índices de rejeição ao seu governo. Segundo a pesquisa, chegou a 55% o grupo de eleitores que consideram a atual administração “ruim” ou “péssima” – tendência negativa que já dura 12 meses.
O movimento representa uma oscilação negativa de 1 ponto percentual da rejeição ao governo em relação aos números de agosto. O levantamento mostra que o grupo dos que avaliam o governo como “ótimo” ou “bom” se manteve em 23% – menor nível desde que Bolsonaro tomou posse, em janeiro de 2019. Outros 18% veem o governo como “regular”.
O saldo negativo em 32 pontos percentuais entre rejeição e aprovação também é o maior da atual gestão. Ele supera em 24,3 p.p. a diferença média registrada nas últimas 39 pesquisas.
Apesar da piora da percepção do eleitorado sobre o governo federal, a pesquisa Ipespe mostrou alguma melhora de Bolsonaro junto a grupos da sociedade que concentram a maior fatia de apoiadores – seja como recuperação de apoio ou redução de avaliação negativa. São os casos de eleitores com renda familiar mensal superior a 5 salários mínimos e dos evangélicos.
No primeiro grupo, que corresponde a 18% da amostra da pesquisa, saltou de 21% para 33% o percentual de eleitores que classificam a atual gestão como “ótima” ou “boa”. Já no segundo, responsável por 23% da amostra, caíram de 39% para 36% as avaliações negativas.
Vale destacar, contudo, que é natural os percentuais apresentarem maior oscilação nos dados segmentados, tendo em vista o número mais reduzido de entrevistas nos recortes – o que torna a margem de erro maior dentro dos grupos, sobretudo naqueles com menor participação sobre a população geral.
No cenário binário de avaliação de governo, a desaprovação à atual gestão atingiu a marca de 64% – uma alta acumulada de 19 pontos percentuais em relação ao vale de dezembro do ano passado. Já a aprovação ficou em 30%, 1 ponto percentual a mais do que em agosto. Outros 6% não responderam a pergunta.
Economia, noticiário e pandemia
A piora na avaliação do governo Bolsonaro coincide com outras duas variáveis que já apresentaram correlação com a popularidade do presidente: a percepção de que a economia está no caminho errado e a avaliação de que o noticiário sobre a atual administração é majoritariamente negativo.
O levantamento mostra que 64% dos eleitores acreditam que a economia está no caminho errado – 1 ponto percentual abaixo do registro de abril, maior nível da série histórica. Outros 27% concordam com a atual condução da política econômica, enquanto 9% não responderam ao questionamento.
Para 61% dos entrevistados, as notícias que saíram recentemente sobre o governo federal e o presidente Jair Bolsonaro na televisão, nos jornais, nas rádios e na internet foram majoritariamente negativas. Apenas 9% viram um predomínio de matérias favoráveis à atual administração.
Também pode corroborar a piora na imagem do presidente junto à opinião pública a percepção elevada sobre o risco de escalada da crise hídrica. De acordo com a pesquisa, 69% acreditam na possibilidade de o Brasil ter que enfrentar racionamento de energia nos próximos meses. Apenas 25% pensam o contrário.
Em contraste, houve melhora na percepção dos eleitores sobre a pandemia do novo coronavírus. O grupo de entrevistados que dizem ter muito medo do surto de Covid-19 caiu de 39% em agosto para 28% neste mês – menor patamar desde março de 2020.
Os 11 pontos percentuais de diferença se dividiram entre os que dizem não estar com medo da crise sanitária, que saltaram de 25% para 30%, e os que dizem estar com pouco medo, que passaram de 36% para 41%.
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