Lula diz que Maduro “deixa a desejar”, mas descarta romper relações com a Venezuela

"O Maduro, como presidente, deveria tentar provar que é o preferido do povo e convocar uma nova eleição, mas ele não faz”, lamentou Lula, referindo-se ao ditador venezuelano

Fábio Matos

Lula e Maduro no Palácio do Planalto
29/05/2023
REUTERS/Ueslei Marcelino
Lula e Maduro no Palácio do Planalto 29/05/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar sobre a crise política na Venezuela, nesta sexta-feira (6), e reiterou que o governo brasileiro não reconhece a vitória do ditador Nicolás Maduro nas eleições realizadas no fim de julho.

Maduro foi declarado vencedor das eleições, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos.

A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Vários países, como o Brasil e os Estados Unidos, não reconheceram a vitória de Maduro.

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González Urrutia, candidato opositor supostamente derrotado por Maduro na eleição, é alvo de um mandado de prisão e está foragido.

“Eu tive uma grande relação com a Venezuela, que consumia tudo o que a gente produzia neste país. Depois que o [Hugo] Chávez morreu, entrou o Maduro, e as coisas começaram a ter um comportamento diferenciado”, admitiu Lula, que sempre foi um aliado histórico do chavismo, em entrevista à Rádio Difusora, de Goiânia (GO).

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“Conseguimos paz durante alguns anos, inclusive com um referendo que foi feito na Venezuela”, recordou o presidente, referindo-se à sua relação mais próxima com o ex-ditador Hugo Chávez (morto em 2013).

“O comportamento do Maduro é um comportamento que deixa a desejar. Aqui no Brasil a gente aprendeu a fazer democracia com muito sofrimento”, observou Lula.

O presidente brasileiro, no entanto, descartou a possibilidade de o país romper relações políticas e diplomáticas com a Venezuela.

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“O Maduro, como presidente, deveria tentar provar que é o preferido do povo e convocar uma nova eleição, mas ele não faz”, lamentou Lula.

“A gente não reconheceu o resultado das eleições, mas não vou romper relações e também não concordo com a punição unilateral, o bloqueio, porque o bloqueio não prejudica o Maduro. O bloqueio prejudica o povo. E eu acho que o povo não deve ser vítima disso”, completou Lula, criticando as restrições comerciais e econômicas impostas ao regime pelos EUA e por países da Europa.

Lula ainda defendeu, mais uma vez, que governo e oposição discutam um possível acordo político na Venezuela.

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“Ali só tinha uma solução: ou fazer uma nova eleição ou fazer uma coalizão para que pudessem conviver democraticamente”, concluiu.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”