Lula chora ao lembrar prisão, defende Petrobras e chama Moro de “insignificante”

"Conseguiram criar no imaginário daqueles que não gostam de nós a ideia de que todo mundo na Petrobras era ladrão, inclusive os trabalhadores", afirmou Lula, que cumpre uma série de agendas no Paraná, nesta quinta-feira

Fábio Matos

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República, com trabalhadores da Petrobras (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República, com trabalhadores da Petrobras (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não segurou a emoção e chorou, nesta quinta-feira (15), ao discursar durante a cerimônia que marcou a retomada das atividades na Ansa, a Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenado, na Refinaria Presidente Vargas (Repar), em Araucária (PR), região metropolitana de Curitiba (PR).

Segundo o Palácio do Planalto, a fábrica estava parada desde 2020 e será reaberta graças ao investimento na produção de fertilizantes, que voltou a fazer parte do portfólio da Petrobras. A presidente da companhia, Magda Chambriard, também participou do evento, assim como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD).

Logo no início de seu discurso, Lula não conteve as lágrimas ao lembrar do período de 580 dias em que esteve preso na superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba. Lula foi detido em 2018, no âmbito da Operação Lava Jato, por determinação do então juiz Sergio Moro (hoje senador pelo União Brasil do Paraná).

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Mais tarde, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou todas as condenações de Lula, entendendo que Moro havia sido parcial no julgamento e que o caso não poderia ter sido julgado na Vara de Curitiba.

“Eu sou muito grato ao trabalho que vocês fizeram durante os 580 dias em que fiquei na PF. Tem gente que consegue gravar uma música que gosta pelo resto da vida. Pois a minha música eram o ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’, todo santo dia, durante 580 dias, fazendo frio, calor ou chovendo. Eu ouvia da cela em que eu estava o pessoal cantando parabéns, comemorando aniversário. E aquilo marcou a minha vida”, disse Lula, que começou a chorar e foi aplaudido pela militância.

“Vocês não tem dimensão do orgulho que eu estou de estar vestindo esta camisa da Petrobras”, continuou o presidente, que desta vez mal conseguiu concluir a frase e chorou novamente.

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“Muitas vezes eu ficava deprimido e chorava quando ficava sabendo de notícias de que companheiros trabalhadores da Petrobras entravam em um restaurante para comer e eram chamados de ladrões”, afirmou Lula. “Eles conseguiram criar no imaginário daqueles que não gostam de nós a ideia de que todo mundo na Petrobras era ladrão, inclusive os trabalhadores.”

O presidente da República disse, ainda, que “a Petrobras é do povo brasileiro”. “E, se é do povo brasileiro, ela é também do presidente da República”, afirmou.

Ao recordar momentos pelos quais passou na prisão, Lula disse que recusou todas as sugestões para que pedisse asilo político em outro país e escapasse da cadeia.

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“Tínhamos companheiros que achavam que eu deveria ir para uma embaixada. Era muita gente dando conselho. Eu ia dormir toda noite pensando: como vão ficar os meus amigos, que acreditaram em mim a vida inteira, se aparecer uma manchete dizendo: ‘Lula, o fugitivo’? Como iria ficar a minha reputação?”, questionou.

“Eu tomei a decisão, e foi a decisão mais sábia que eu tomei. De me entregar na PF e vou lá para dentro, perto daquele juiz insignificante, perto daqueles procuradores da República que faziam parte de uma quadrilha dentro do MP. Vou lá provar minha inocência”, afirmou Lula, referindo-se a Moro e a procuradores como Deltan Dallagnol (ex-deputado federal), que atuaram na Lava Jato.

“Eu fui preso e muita gente achava que o Lula acabou. Nunca mais ele vai ressurgir. E eu estava lá com uma obsessão”, prosseguiu Lula. “Eu tentei ser candidato em 21018, inclusive com o reconhecimento da ONU, que achou que eu tinha esse direito. Mas acharam por bem não deixar eu ser candidato. Achavam que, com mais um tempo fora da Presidência, vocês esqueceriam do Lula.”

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Durante sua fala, Lula disse, ainda, que “a Petrobras jamais vai acabar”. “Quanto não tiver petróleo embaixo da terra, no fundo do oceano, ela vai ter de se especializar em outro tipo de energia. O Brasil será o país campeão dos biocombustíveis, do etanol, do etanol de primeira, segunda, terceira e quarta geração. Nós temos um futuro extraordinário”, concluiu o presidente.

Investimentos

De acordo com informações do governo federal, o investimento previsto para a reabertura da unidade da Ansa é de R$ 870 milhões. A previsão é que a operação seja iniciada no segundo semestre de 2025, e a expectativa é a geração de 2 mil empregos.

No início de julho, 215 antigos funcionários da Ansa reiniciaram suas atividades de trabalho no Paraná. São, principalmente, técnicos especializados no funcionamento da planta industrial, que foram recontratados pela subsidiária.

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Atualmente, a fábrica está em processo de contratação de serviços e aquisição de materiais, com previsão de conteúdo local superior a 85%.

Localizada ao lado da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), a Ansa tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, o que corresponde a 8% do mercado; 475 mil toneladas/ano de amônia; além de 450 mil m³/ano do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32).

No ano passado, a Repar bateu recordes de produção de mais de 10 anos. A produção de gasolina foi de mais de 3,4 bilhões de litros, superando em 3% o recorde de 2012. O volume total de vendas de gasolina pela Petrobras, na área de influência da Repar, foi o maior da série histórica, superando em 4,8% a marca anterior, de 2022.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”