Lula chama Moraes de “Xandão”, exalta democracia e diz que “aloprados” tentaram golpe

Segundo o presidente da República, “não é possível que alguém consiga imaginar que exista uma melhor forma de governança de qualquer lugar do mundo fora da democracia”

Fábio Matos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e outras autoridades (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e outras autoridades (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu ministros de seu governo e autoridades de outros Poderes, nesta quarta-feira (8), em uma cerimônia para marcar os 2 anos dos ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. 

Há exatos dois anos, apenas uma semana depois da posse de Lula para seu terceiro mandato na Presidência da República, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), revoltados com o resultado da eleição de 2022. 

Em um discurso de improviso, antes de ler seu pronunciamento oficial, Lula rebateu as notícias de que o ato estaria “esvaziado” por causa de ausências como as dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do STF, Luís Roberto Barroso

“Um ato de defesa da democracia brasileira, mesmo que tiver um só cara, uma só pessoa, em uma praça pública, em um palanque, já é o suficiente para a gente acreditar que a democracia vai reinar neste país. As coisas que acontecem no mundo sempre começam com pouca gente, às vezes começam com uma só pessoa”, afirmou Lula. 

Segundo o presidente, “não é possível que alguém consiga imaginar que exista uma melhor forma de governança de qualquer lugar do mundo fora da democracia”. 

“A democracia é tão boa que permitiu que um torneiro mecânico sem diploma universitário chegasse à Presidência da República, na primeira alternância de poder concreta neste país. Isso só pode acontecer na democracia, e não em qualquer outro regime”, disse. 

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“Eu voltei [ao poder] com a certeza de que a democracia não é uma coisa pequena. É uma coisa muito grande para quem ama a liberdade, a cultura, a educação e a igualdade de direitos. Somente em um processo democrático a gente pode conquistar isso. É por isso que eu sou um amante da democracia”, prosseguiu o presidente da República. 

Em alusão ao filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, protagonizado pela atriz Fernanda Torres – premiada com o Globo de Ouro –, Lula disse: “Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui. Estamos vivos e a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas”.

“Xandão” e tentativa de golpe

Durante sua fala, Lula divertiu o público ao se referir ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, como “Xandão”.  

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“Tenho 79 anos de idade, já vivi muito vendo a vida da Suprema Corte brasileira e nunca conheci um ministro da Suprema Corte que tivesse um apelido dado pelo povo, chamado Xandão”, afirmou Lula, arrancando risos dos presentes.  

“Desse apelido você [Moraes] nunca mais vai se libertar, pode ficar certo. E não adianta ficar nervoso porque ninguém vai parar de chamá-lo de Xandão”, completou o presidente, dirigindo-se ao ministro do Supremo. 

“Escapei, junto com o Xandão e o companheiro [Geraldo] Alckmin, de um atentado de um bando de irresponsáveis, um bando de aloprados que achavam que não precisavam deixar a Presidência depois do resultado eleitoral e que seria fácil tomar o poder. Se tivesse dado certo a tentativa de golpe deles, o que aconteceria neste país?”, questionou Lula, referindo-se à suposta tentativa de golpe de Estado, no fim de 2022, investigada pela Polícia Federal (PF) e pelo STF. 

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“Todos pagarão pelos crimes que cometeram. Todos. E todos terão amplo direito de defesa e à presunção da inocência”, concluiu Lula.

Janja falou mais cedo

Na primeira parte do ato promovido pelo Palácio do Planalto, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, fez um discurso no qual disse que a democracia brasileira deve sempre ser respeitada e preservada. 

Segundo a esposa de Lula, “o país não aceita mais o autoritarismo”.

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O discurso de Janja foi proferido na Sala de Audiências do Palácio do Planalto, durante a cerimônia de reintegração de obras de arte que foram depredadas nos ataques aos Poderes. Elas foram entregues na sede do governo depois de serem restauradas. 

O acervo reapresentado inclui um relógio do século XVII de Balthazar Martinot e André Boulle, presente da Corte francesa a dom João VI, em 1808. A peça foi restaurada na Suíça. 

“O país não aceita mais o autoritarismo. O que aconteceu nesta Praça dos Três Poderes precisa estar na memória do país como um alerta de que a democracia deve ser defendida diariamente, não importa o esforço”, disse Janja.

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“Estamos aqui para celebrar e reforçar a democracia e para entregar ao povo brasileiro seu patrimônio inteiramente restaurado”, prosseguiu a primeira-dama. “Memória é um antídoto contra as tentações autoritárias. Por isso, preservar o nosso patrimônio histórico é tão importante.”

Ausências

Além de Janja e Lula, participam da cerimônia diversas autoridades, entre as quais o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB)

Embora tenham sido convidados, os chefes dos demais Poderes não puderam participar do ato.

Ministros do STF como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes Luiz Edson Fachin participam da cerimônia. 

Ainda nesta quarta-feira, Lula fez o descerramento do painel “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, que integra o acervo recuperado.

No início da tarde, houve um ato simbólico na Praça dos Três Poderes, chamado de “Abraço à Democracia”.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”