Lula: “Alguém que pratica assédio não vai ficar no governo”

O presidente confirmou que terá conversas, nesta tarde, com o próprio ministro Silvio Almeida, acusado de assédio sexual, e a ministra Anielle Franco, que teria sido vítima. Situação de Almeida é quase insustentável

Fábio Matos

Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou pela primeira vez, nesta sexta-feira (6), as acusações contra o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, de que teria cometido assédio sexual contra mulheres.

Na quinta-feira (5), a ONG Me Too Brasil confirmou que recebeu denúncias de que Almeida teria assediado mulheres, que se mantiveram sob anonimato. Os casos teriam ocorrido no ano passado e uma das vítimas seria a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial.

Silvio Almeida, por meio de uma nota oficial e de um vídeo publicado nas redes sociais, negou, peremptoriamente, as acusações e prometeu colaborar com as investigações.

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O caso será investigado pela Controladoria-Geral da União (CGU), pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pela Polícia Federal (PF). A Comissão de Ética Pública da Presidência também se reúne, nesta sexta, de forma “extraordinária”, para tratar do caso.

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“Eu fiquei sabendo disso ontem. Pedi ao advogado-geral da União [Jorge Messias], ao controlador-geral da República [Vinícius Marques de Carvalho] e ao ministro da Justiça [Ricardo Lewandowski] que conversassem com as pessoas até eu chegar [a Brasília] hoje. O que eu posso antecipar para você é o seguinte: alguém que pratica assédio não vai ficar no governo”, afirmou Lula, em entrevista à Rádio Difusora, de Goiânia (GO).

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“É preciso que a gente permita o direito à defesa, à presunção de inocência de quem tem direito de se defender. Nós vamos colocar a Polícia Federal, o Ministério Público e a Comissão de Ética da Presidência da República para investigar”, prosseguiu o presidente.

“Eu estou em uma briga danada contra a violência contra as mulheres. Meu governo tem a prioridade de fazer com que as mulheres se transformem definitivamente em uma parte importante da política nacional. Então, eu não posso permitir que tenha assédio”, disse Lula.

O presidente confirmou que terá conversas, nesta tarde, com o próprio Silvio Almeida e com Anielle Franco. Depois de ouvir auxiliares e pareceres da Comissão de Ética Pública da Presidência, o petista deve decidir o que fazer.

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“Nós vamos ter que apurar corretamente, mas eu acho que não é possível a continuidade no governo porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso de defesa das mulheres e dos direitos humanos com alguém que esteja sendo acusado de assédio”, afirmou Lula.

“É isso que eu vou decidir hoje à tarde. O governo precisa de tranquilidade. O país está indo bem”, continuou o presidente. “Não vou permitir que um equívoco de alguém vá prejudicar o governo. Nós queremos paz e tranquilidade. Assédio não pode coexistir com a democracia e o respeito aos direitos humanos.”

Segundo informações, o governo considera “insustentável” a permanência de Silvio Almeida no cargo, diante da gravidade das acusações. O entendimento no Planalto é que o ministro deve se afastar para se defender e tentar provar inocência.

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O que diz Silvio Almeida

Em nota, o ministro dos Direitos Humanos rechaça as acusações e alega inocência no caso.

“Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país”, afirma Silvio Almeida.

Segundo o ministro, “toda e qualquer denúncia deve ter materialidade”. “Entretanto, o que percebo são ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro”, diz.

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O ministro afirma ainda que “há um grupo querendo apagar e diminuir as nossas existências, imputando a mim condutas que eles praticam”.

“Toda e qualquer denúncia deve ser investigada com todo o rigor da Lei, mas para tanto é preciso que os fatos sejam expostos para serem apurados e processados. E não apenas baseados em mentiras, sem provas”, afirma Almeida.

“Encaminharei ofícios para Controladoria-Geral da União, ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República para que façam uma apuração cuidadosa do caso.”

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”