Aposta de Haddad para zerar déficit deve avançar no Congresso, projetam analistas

Medida prevê que créditos tributários obtidos por empresas por meio de decisões judiciais só poderão ser abatidos imediatamente se forem inferiores a R$ 10 milhões

Marcos Mortari

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Único ponto mantido pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em medida provisória (MPV 1202/2023) editada no apagar das luzes do ano passado, o limite para a compensação anual de créditos tributários tem boas chances de avançar no Congresso Nacional.

É o que avaliam especialistas consultados pela 53ª edição do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente pelo InfoMoney com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional.

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 27 de fevereiro e 1º de março, 63% dos analistas políticos consultados veem como alta a probabilidade de o assunto ser aprovado pelo Legislativo. Outros 36% enxergam chance moderada. Um dos participantes optou por não responder o questionamento.

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Considerando uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a probabilidade média atribuída pelos entrevistados para a validação da regra pelo parlamento ficou em 3,82. É o nível mais alto entre as medidas iniciais previstas na MPV e que foram testadas nesta edição do Barômetro do Poder.

Por acordo estabelecido entre o Palácio do Planalto e a cúpula das casas legislativas, outros temas previstos originalmente na medida provisória tramitarão separadamente, na forma de projetos de lei em regime de urgência constitucional − modalidade que tranca a pauta de votação do plenário da casa legislativa em que estiver tramitando se não for apreciado em até 45 dias.

São os casos da mudança na regra para o benefício fiscal concedido sobre a folha de pagamentos a 17 setores econômicos (e a previsão de reoneração gradual) e da revogação do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) − benefício fiscal criado no contexto da pandemia de Covid-19 e que tem sido objeto de uma queda de braço entre a equipe econômica do governo e parlamentares.

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Em ambos, os analistas políticos ouvidos pelo InfoMoney veem desafios maiores para o governo na construção do apoio necessário no parlamento.

Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 8 consultorias políticas – Ágora Assuntos Políticos; BMJ Consultores Associados; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; e Warren Rena – e 4 analistas independentes – Carlos Melo (Insper); Cláudio Couto (EAESP/FGV); Rogério Schmitt (Espaço Democrático) e Thomas Traumann (Traumann Consultoria).

Conforme combinado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo mantido o anonimato das respostas.

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O que está em jogo?

Diante das resistências de congressistas à reoneração da folha e ao fim do Perse, o governo concordou em manter no bojo da MPV apenas a discussão sobre dispositivo que prevê que créditos tributários obtidos por empresas por meio de decisões judiciais só poderão ser abatidos imediatamente se forem inferiores a R$ 10 milhões. Nos casos em que o montante superar o limite, o texto prevê parcelamento em até 5 anos.

A regra já está em vigor, mas ainda depende de aprovação pelo Congresso Nacional até o fim de maio, quando a MPV completa 120 dias de tramitação e “caduca” (ou seja, perde a validade por não ter sido apreciado em tempo hábil). Primeiro foro de debates formais da matéria, a comissão mista sequer foi instalada no Legislativo. Ao todo, foram protocoladas 165 emendas de deputados e senadores para alterar a matéria.

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A iniciativa é tratada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), como fundamental nos esforços do governo federal em cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, conforme previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Nos cálculos da equipe econômica, a mudança poderá gerar um impacto favorável aos cofres públicos na ordem de R$ 20 bilhões.

Apesar de ter atraído menos holofotes do que a reoneração da folha de pagamentos e a revogação do Perse, a limitação para compensações de créditos tributários também tem gerado preocupação no empresariado. Como forma de mitigar danos, setores têm defendido uma redução no prazo para a realização das compensações das empresas enquadradas nas regras, além de uma elevação no teto de R$ 10 milhões.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.