Ligado a Maduro, procurador-geral da Venezuela diz que Lula virou “agente da CIA”

"Para mim, Lula foi cooptado na prisão. Esta é a minha teoria", afirmou o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, ligado ao ditador Nicolás Maduro. Governo brasileiro mudou o tom em relação ao antigo aliado

Fábio Matos

Os presidente Lula e Maduro no Palácio do Planalto
29/05/2023
(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Os presidente Lula e Maduro no Palácio do Planalto 29/05/2023 (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

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Em mais um indício de que as relações diplomáticas entre os governos brasileiro e venezuelano estão bem mais distantes hoje do que em passado recente, o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, ligado ao ditador Nicolás Maduro, subiu o tom em críticas direcionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista exibida no domingo (13) pela emissora Globovisión, também alinhada ao regime, Saab fez uma acusação inusitada a Lula: disse que o presidente brasileiro havia se tornado um “agente da CIA”, o serviço secreto de inteligência do governo dos Estados Unidos.

O procurador-geral venezuelano também criticou o presidente do Chile, Gabriel Boric, líder de esquerda da América do Sul que vem se posicionando contra a ditadura de Maduro.

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“Quem é o porta-voz que eles colocam dizendo as coisas mais bárbaras contra nosso país através dessa chamada ‘esquerda’? O senhor Boric, que agora está acompanhado por Lula. Para mim, Lula foi cooptado na prisão. Esta é a minha teoria”, afirmou Saab.

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“Parte dessa chamada esquerda cooptada pela CIA e pelos Estados Unidos na América Latina agora tem dois porta-vozes. Lula, que não é o mesmo que saiu da prisão, por tudo que acusou agora, não é o mesmo em nada: nem em seu físico, nem em como ele se expressa”, atacou o procurador-geral da Venezuela.

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Saab foi além e, dirigindo-se diretamente as Lula, disse: “O que lhe interessa? Quem é você, Lula, para se intrometer nos assuntos internos da Venezuela?”.

Nos últimos meses, Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, lideraram tentativas de negociação entre o regime de Maduro e a oposição venezuelana.

Eleição fraudulenta

No fim de julho, Maduro foi declarado vencedor das eleições, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

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O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos.

A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Vários países, como o Brasil e os Estados Unidos, não reconheceram a vitória de Maduro.

Até o momento, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) e o Ministério das Relações Exteriores não se manifestaram sobre as declarações do procurador-geral da Venezuela.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”