Líder do PSL chama Bolsonaro de “vagabundo” e diz que vai “implodir” governo

Em áudio vazado de reunião com deputados do partido, Delegado Waldir promete mostrar gravação do presidente

Marcos Mortari

(Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
(Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

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SÃO PAULO – Em meio ao aprofundamento das divisões internas do PSL, o deputado Delegado Waldir (GO), confirmado líder do partido nesta quinta-feira (15), foi gravado em uma reunião com correligionários chamando o presidente Jair Bolsonaro de “vagabundo” e dizendo que vai “implodir” o governo.

“Vou fazer o seguinte: eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Eu tenho a gravação. Não tem conversa. Não tem conversa. Eu implodo o presidente. Acabou o cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa porra. Eu andei, no sol, 246 cidades gritando o nome desse vagabundo”, disse Waldir em reunião com a ala ligada à cúpula do partido.

Poucas horas após o áudio vir a público, Waldir disse não ter “nada” para usar contra o presidente e que a declaração foi dada em um “momento de emoção”.

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“É uma fala num momento de emoção, né? É uma fala quando você percebe a ingratidão. Tenho que buscar as palavras. Tenho que buscar as palavras”, disse o parlamentar, conforme noticiou o portal G1. Logo em seguida, Waldir afirmou ser possível “pacificar” a bancada pesselista.

Contexto

No mais recente episódio da crise envolvendo Bolsonaro e a cúpula pesselista, as duas alas do partido deflagraram uma disputa por assinaturas, na noite de ontem (16), para decidir sobre a liderança da sigla na casa legislativa.

O grupo bolsonarista, com envolvimento direto do presidente, trabalhou na coleta de assinaturas de deputados para destituir Waldir da liderança e alçar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, ao posto. Já a ala ligada a Bivar mobilizou esforços para manter o comandante da bancada.

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Ao todo, três listas com assinaturas foram entregues à Secretaria-Geral da Câmara dos Deputados — duas delas pela ala ligada ao presidente da República. O órgão da casa, no entanto, informou que as listas contavam 26 e 24 assinaturas, números insuficientes para efetivar a mudança. A lista favorável ao atual líder contou com 29 assinaturas reconhecidas. A bancada é formada por 53 deputados federais.

Mesmo após o resultado, deputados da ala bolsonarista dizem que estão buscando converter correligionários. Após a derrota, Bolsonaro decidiu destituir a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso Nacional, em um movimento de retaliação da parlamentar, que se posicionou pela permanência de Waldir na liderança.

PSL no “Centrão”

O episódio pode catalisar o processo de expulsão de parlamentares não-alinhados ao atual comando pesselista O caso esquenta as discussões sobre um possível desembarque de bolsonaristas da sigla. Com o desenrolar da disputa, a avaliação dos analistas é que a cada dia diminuem as chances de uma solução consensual para a questão.

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Nos bastidores, pesselistas discutem o “day after” para uma eventual saída dos aliados ao presidente. Um dos caminhos esperados é a aproximação do chamado “Centrão” — bloco informal formado por DEM, PP, PL, Republicanos e Solidariedade — e até mesmo a fusão com uma das siglas.

No áudio vazado da reunião do grupo “bivarista”, deputados conversaram sobre cenários possíveis, incluindo a expulsão de bolsonaristas e até uma fusão com o DEM.

Autodeclarado crítico do movimento, o deputado Felipe Francischini (PSL-PR), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), alertou para os riscos.

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“Vai implodir todo mundo de qualquer maneira por quê? Se pegar Bia, Bivar e Rueda, tem duas a mais, manda embora. Tem três a mais, manda três embora. Qual é o problema disso tudo? Ontem a gente foi na casa do Rodrigo, estava o Mendonça, estava o Rodrigo Maia, ligando para o ACM, comigo e com o Rueda. Eles estão loucos esperando para fazer a fusão do Democratas com o PSL. Eu tô tentando segurar essa porra, porque não quero que aconteça. Se a bancada passar o recado que não está com o partido, eles vão fazer a fusão e vão liberar todo mundo aqui sem levar fundo, sem levar porra nenhuma e o Democratas vai ficar com o dinheiro de todos vocês”, disse.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.