José Dirceu defende Haddad e diz que “é quase uma covardia” PT não dar “apoio total” ao ministro

Ex-ministro disse que "a política econômica é do governo do presidente Lula" e que ela é "realista e pragmática"

Equipe InfoMoney

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Figura histórica ainda influente do Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-ministro José Dirceu defendeu o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e as decisões econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista, ele criticou indiretamente os integrantes da sigla que atacam Haddad e afirmou que “é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele”. Na avaliação de Dirceu, a política econômica da atual administração é “realista e pragmática” e “feita a partir da correlação de forças [políticas]” − em que ele admite que o PT é minoria.

“Não adianta criticar Haddad como ministro da Fazenda, porque a política econômica é do governo do presidente Lula. E essa política econômica é realista e pragmática. Ela é feita a partir da correlação de forças em que nós somos minoria”, disse em entrevista ao presidente do PT da Bahia, Éden Valadares (assista aqui à íntegra). Não há informações sobre a data de realização da conversa, publicada no canal do PT da Bahia no YouTube no sábado (13).

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“Os partidos e os setores sociais, as classes médias cosmopolitas antibolsonaristas das grandes cidades, votaram no presidente Lula, mas têm um programa econômico liberal”, complementou o ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula. Ele também lembrou que a coalizão que dá sustentação ao atual governo apoiou uma política de descapitalização dos bancos públicos e a proibição para que o BNDES financiasse exportação − assuntos caros a parte da base petista.

“Outro papel do partido é sustentar o governo e apoiar o governo. Discutir e debater dentro da bancada, no ministério, dentro do partido, com o governo: tudo bem. Mas, quando o governo apresenta uma política, nosso papel é apoiar”, afirmou.

Durante o programa, Dirceu argumentou que, se o governo aprovar todas as medidas econômicas desejadas no Congresso Nacional, terá condições de realizar os investimentos públicos planejados. “Se não aprovarmos essas medidas e ficarmos discutindo que está errado o que Haddad está fazendo, que não devíamos ter apresentado a proposta de âncora fiscal, quero saber quem ganha com isso”.

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“O Congresso sinalizou, pelos seus presidentes da Câmara e do Senado, que queria manter o déficit zero como objetivo. Pode-se fazer déficit público? Pode-se fazer déficit público e investimento anticíclico em períodos de crise e de baixa capacidade de investimento. Agora, é preciso ter condições políticas e acordo com as forças econômicas para fazê-lo”, ponderou.

“No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queira, porque todas as medidas que ele quer transformam o déficit zero em um ‘mal menor'”, afirmou. “Sem essas medidas dele, o déficit zero vira contingenciamento e corte, porque nós temos um PAC para realizar”. Condenado no Mensalão e na Lava Jato, ele também citou o “problema das emendas impositivas e de bancadas” no Orçamento e disse que o teto de gastos (substituído pelo arcabouço fiscal) “está superado”.

No programa, Dirceu defendeu que as esquerdas mobilizem campanha nacional contra os juros altos e por uma reforma tributária voltada para a renda, que torne o sistema de impostos brasileiro mais progressivo. O petista disse que a aprovação da medida seria uma “batalha”, mas foi interrompido quando defendia a ideia de taxar lucros e dividendos − bandeira histórica no Partido dos Trabalhadores.

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“Tem outras questões importantes no Congresso para votar, mas esta é uma questão fundamental: vamos ou não apresentar o projeto de reforma do Imposto de Renda e de lucros e dividendos em 2024?”, questionou Dirceu. A conversa é então encerrada, e o presidente do PT da Bahia justifica que a entrevista deveria durar 30 minutos, mas já passava de 50. “Será que eu falei muito?”, pergunta o ex-ministro. Valadares nega: “Não, não, não não. O papo, quando é bom, rende”.

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