O ex-governador de São Paulo João Doria não é mais filiado ao PSDB. O agora ex-tucano anunciou nesta quarta-feira (19), em uma série de mensagens publicadas nas redes sociais, que está deixando a legenda.
Doria estava no PSDB havia 22 anos, desde 2000. Na época, o partido governava o Brasil, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na metade de seu segundo mandato.
“Anuncio minha desfiliação do PSDB após 22 anos no partido. Inspirado na social democracia e em nomes como Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, cumpri minha missão política partidária pautado na excelência da gestão pública e em uma sociedade mais justa e menos desigual”, escreveu Doria em sua conta no Twitter.
“Encerro essa etapa de cabeça erguida. Orgulhoso pela contribuição que pude dar a São Paulo e ao Brasil, graças à generosidade e à confiança de todos aqueles que optaram pelo meu nome em três prévias e duas eleições”, completou o ex-governador paulista.
Em uma outra mensagem, Doria falou ainda em “missão cumprida” e afirmou ter o “desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro”.
Anuncio minha desfiliação do PSDB após 22 anos no partido. Inspirado na social democracia e em nomes como Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, cumpri minha missão política partidária pautado na excelência da gestão pública e em uma sociedade mais justa e menos desigual.
— João Doria (@jdoriajr) October 19, 2022
Além das postagens na rede social, Doria divulgou uma nota sobre sua saída do PSDB. Leia a íntegra:
“Após 22 anos da filiação ao PSDB e seis anos de uma dedicada e intensa trajetória como prefeito de São Paulo e governador do Estado, comunico que formalizei junto ao diretório estadual do PSDB o meu desligamento do partido. Inspirado pelas ideias e virtudes de nomes como Franco Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, busquei cumprir uma missão política e partidária pautada na excelência da gestão pública, num Estado menor e em favor de uma sociedade mais justa e menos desigual.
A omissão, a letargia e o imobilismo jamais fizeram parte da minha vida. Não cruzei os braços ao encarar problemas que afligem São Paulo e o Brasil. A exemplo de minha conduta como empresário, preferi encarar os desafios da vida pública com determinação, foco e resiliência.
Enquanto alguns atores da política se omitiam durante a mais grave pandemia dos últimos cem anos, lutei desde o início para que nosso povo tivesse acesso a uma vacina contra a Covid-19. Atuei, acima de tudo, pela defesa da vida e da saúde dos brasileiros. Jamais cedi ao negacionismo ou a falsidades que contrariam a ciência. Tenho muito orgulho do sucesso liderado por São Paulo que ajudou a salvar 124 milhões de vidas no Brasil, que tomaram a vacina do Butantã.
Comandei gestões transformadoras e ousadas que deixaram conquistas, que agora, pertencem ao povo de São Paulo. Entregamos o Novo Museu do Ipiranga, despoluímos o Rio Pinheiros, multiplicamos por dez as vagas em escolas de tempo integral, promovemos o crescimento econômico de São Paulo cinco vezes mais do que o Brasil, geramos mais de 2 milhões de novos empregos, modernizamos mais de 11 mil quilômetros de rodovias e ampliamos, substancialmente, o acesso a programas como Poupatempo e Bom Prato. Unimos, de forma inédita, o poder público e iniciativa privada em um Comitê Solidário que arrecadou mais de R$ 2 bilhões para combater a fome e a carestia. E criamos o Bolsa do Povo, o maior programa de assistência social e transferência de renda da história de São Paulo. Meu agradecimento ao Rodrigo Garcia e à brilhante equipe que tivemos no governo de S. Paulo.
Reconhecido até por nossos adversários, o ótimo trabalho do PSDB na Prefeitura de São Paulo e no Governo do Estado permitiu a reeleição, em 2020, de meu querido e saudoso amigo Bruno Covas, para um novo mandato à frente da mais importante metrópole da América do Sul. Infelizmente, Bruno nos deixou cedo demais.
Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Venci todas as eleições das quais participei. Por três vezes fui eleito em prévias partidárias pelo voto soberano da maioria dos filiados do PSDB. Fui eleito no primeiro turno para Prefeito da capital paulista, em 2016. E em 2018 venci a eleição para o governo de São Paulo. Sou e sempre serei um homem que se pauta pelo equilíbrio, diálogo, consenso e gratidão.
Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida. Orgulhoso pela contribuição que pude dar a São Paulo e ao Brasil, graças à generosidade e à confiança de todos aqueles que optaram pelo meu nome em três prévias e duas eleições. Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em defesa da democracia, da liberdade do progresso social.”
Planalto
Em novembro do ano passado, João Doria disputou e venceu as prévias do PSDB que teoricamente definiriam o candidato tucano ao Palácio do Planalto em 2022.
Entretanto, depois de ter derrotado o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, Doria não conseguiu viabilizar internamente sua candidatura, muito questionada por parte das lideranças tucanas por causa dos elevados índices de rejeição ao então governador de São Paulo.
Em maio deste ano, Doria acabou desistindo da disputa. O PSDB apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB), ao lado de Cidadania e Podemos, e indicou a candidata a vice na chapa, a senadora Mara Gabrilli (SP).
Durante a corrida presidencial, o ex-governador de São Paulo manteve uma postura discreta e não se engajou nas campanhas de Tebet e de seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes, Rodrigo Garcia (PSDB) – ambos foram derrotados no primeiro turno.
Doria também se manteve neutro na disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição nacional, declarando que votará nulo no dia 30 de outubro.
Prefeito e governador
A trajetória de João Doria na política foi meteórica. Ele foi eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno em 2016 e, dois anos depois, se elegeu governador do estado, em 2018, derrotando Márcio França (PSB) no segundo turno.
Como governador de São Paulo, Doria se notabilizou pelos esforços para trazer para o Brasil a vacina contra a Covid-19. A primeira dose da CoronaVac no país, em 17 de janeiro de 2021, foi aplicada em São Paulo, com a presença do agora ex-tucano.
Além do empenho na vacinação contra a Covid-19, o governo Doria apresentou dados econômicos positivos. De acordo com a Fundação Seade, a economia paulista cresceu cinco vezes mais do que a brasileira entre 2019 e o terceiro trimestre de 2021, com alta de 7,5%. No mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB) do país subiu 1,5%. Outro trunfo da administração tucana foi o processo de despoluição do Rio Pinheiros, uma velha bandeira de governos anteriores do PSDB.
Mesmo assim, segundo levantamento do Datafolha divulgado em abril, Doria deixou o governo do estado com apenas 23% de aprovação dos paulistas. Sua gestão foi avaliada como ruim ou péssima por 36% dos entrevistados. Para 39%, ela foi regular.