“Isso não é crime”, diz Bolsonaro sobre envio de R$ 800 mil para conta nos EUA

Em novo vídeo publicado em sua conta oficial no X (antigo Twitter), Bolsonaro confirma que fez a transferência e diz que tinha “dúvidas” sobre o futuro da economia do país sob o governo Lula

Fábio Matos

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fala durante a Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC), em 4 de março de 2023, em Maryland, nos EUA (Foto: Alex Wong/Getty Images)
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fala durante a Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC), em 4 de março de 2023, em Maryland, nos EUA (Foto: Alex Wong/Getty Images)

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a gravar um vídeo nas redes sociais, desta vez para falar sobre as informações que constam de documentos da investigação da Polícia Federal (PF) que apontam que ele fez uma transferência de R$ 800 mil para uma conta nos Estados Unidos, em dezembro de 2022, antes de viajar para o país.

A informação faz parte da investigação da PF sobre a suposta tentativa de golpe de Estado que teria sido perpetrada pelo ex-mandatário e alguns de seus aliados mais próximos, com o intuito de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para quem Bolsonaro perdeu a eleição.

No fim de 2022, Bolsonaro deixou o Brasil e foi para os EUA. Ele não entregou a faixa presidencial ao sucessor, ficando ausente da cerimônia de posse do petista.

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No vídeo, publicado em sua conta oficial no X (antigo Twitter), Bolsonaro confirma que fez a transferência e diz que tinha “dúvidas” sobre o futuro da economia do país sob o governo Lula. “Enviei, sim. Da minha poupança do Banco do Brasil para o BB America. Ou seja, o dinheiro continuou em um banco brasileiro”, afirmou.

“O último país do mundo para onde um golpista, um ditador, enviaria recursos seria os Estados Unidos, porque é um país democrata que respeita tratados. E esses recursos seriam imediatamente bloqueados”, prossegue o ex-presidente. “Isso não é crime”, diz.

Na gravação, Bolsonaro afirma ainda: “Tínhamos dúvidas sobre a política e a economia do atual mandatário de esquerda”.

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Segundo a PF, os investigados “tinham a expectativa de que ainda havia possibilidade de consumação do golpe de Estado”. “Alguns investigados se evadiram do país, retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”, diz o documento.

“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de Golpe de Estado que estava em andamento”, diz a PF.

Depois da vultosa transferência para a conta nos EUA, o saldo de Bolsonaro em sua conta no Brasil ficou negativo em R$ 111 mil. Mais tarde, esse valor foi coberto por recursos retirados pelo ex-presidente de um fundo de investimentos. Os dados foram obtidos por meio da quebra de sigilo bancário feita pela PF.

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Bolsonarismo encurralado

Bolsonaro e aliados foram alvos da Operação Tempus Veritatis, da PF, na semana passada. Foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, além de quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares (como proibição de manter contato com os demais investigados; proibição de se ausentar do país, com entrega dos passaportes em até 24 horas; e suspensão do exercício de funções públicas). As medidas judiciais foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do inquérito das milícias digitais.

Também na semana passada, o STF autorizou a divulgação do vídeo de uma reunião entre Bolsonaro e sua equipe ministerial, no dia 5 de julho de 2022. O então chefe do Executivo aparece irritado e preocupado com seu destino político após o pleito.

A defesa de Bolsonaro encaminhou a Moraes um pedido para que o passaporte do ex-presidente seja devolvido pelas autoridadesOs advogados também pediram que o magistrado reconsidere a decisão de proibir o ex-presidente de deixar o país. Em vez disso, sugere a defesa do líder político, ele teria apenas de pedir autorização judicial para sair do Brasil.

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O ex-presidente divulgou um vídeo nas redes sociais no qual convoca seus apoiadores e simpatizantes para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro. A intenção de Bolsonaro é utilizar o ato para se defender das acusações de que teria participado da tentativa de golpe de Estado.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”