Haddad volta a defender redução de juros para destravar investimentos

Ministro diz que "é difícil navegar" com taxas internas de retorno na casa de 8% reais

Marcos Mortari

Fernando Haddad em entrevista à imprensa sobre medidas econômicas (Washington Costa/MF)
Fernando Haddad em entrevista à imprensa sobre medidas econômicas (Washington Costa/MF)

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta quarta-feira (15), que uma redução dos juros é importante para destravar investimentos no Brasil. Em evento promovido pelo BTG Pactual em São Paulo, ele disse que “é difícil navegar” com taxas internas de retorno (TIR) na casa de 8% reais – ou seja, acima da inflação.

“Nós temos algumas matrizes no Ministério da Fazenda. Uma é fiscal. Outra é creditícia – nós vamos soltar várias medidas de crédito, em parceria com o Banco Central, ou iniciativas próprias da Fazenda. A regulatória, para destravar investimento – o que exige, me perdoem, redução da taxa de juros”, afirmou.

“Ninguém vai conseguir colocar um edital de PPP ou de concessão oferecendo uma TIR de 20 ou 30 anos de 20%. Fez-se isso nos anos 1990. Quando a Selic estava a 25%, fez-se concessões com 27% de TIR. Imagine você pagar 27% de TIR por 20 anos. Aí o sujeito olhava para as rodovias paulistas e falava: ‘um tapete’. Chegava no pedágio, xingava o governador. As duas coisas eram verdade: eram as melhores rodovias do país e as mais caras para transitar. Será que não tem um jeito de fazermos o certo?”, indagou.

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“Acho que com 8% de taxa ex-ante real, é difícil navegar”, avaliou.

Em sua fala, Haddad disse que seria melhor chamar atenção para o impacto dos juros altos do que para as metas de inflação – assunto que dominou o debate político nos últimos dias, em meio às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à política monetária implementada pelo Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto.

“É melhor chamar atenção para isso do que para a meta [de inflação]. Está todo mundo com meta de 3% sabendo que não vai atingir. Ninguém cumpriu meta no mundo. Pegue 2022: todos os países com meta de inflação, ninguém cumpriu. Quem mais se aproximou fomos nós, porque socamos a taxa de juros. Mas a um custo enorme e diante de uma enorme irresponsabilidade que foi cometida no ano passado, de querer reverter um quadro eleitoral com PEC, gastando no meio do ano”, disse.

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As declarações vêm dois dias depois de o Diretório Nacional do PT, partido de Haddad, aprovar uma resolução que orienta as bancadas da sigla na Câmara e no Senado a convocar Campos Neto para que preste esclarecimentos no Congresso sobre o nível da taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

No evento, Haddad disse que faz parte do seu trabalho harmonizar a política fiscal com a política monetária e construir uma narrativa sobre o tema.

“Esse jogo de construção de narrativa, de harmonização das políticas fiscais e monetária, de harmonização do discurso do Estado com a sociedade, isso faz parte do trabalho do Ministério da Fazenda, não faz parte do trabalho de um economista necessariamente”, afirmou.

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Instantes antes, o ministro havia dito ser necessário compreender que o Brasil não vai levar a inflação de 6,0% para 3,0%, o centro da meta estabelecido para os anos de 2024 e 2025. Ele defendeu que há várias formas de se endereçar a política fiscal e monetária.

O ministro acrescentou considerar que a economia não se trata de uma ciência exata e afirmou que os principais macroeconomistas do mundo reconhecem que o arcabouço teórico é insuficiente para explicar a realidade hoje.

“Você não tem hoje um paradigma teórico que diz ‘olha, esse aqui é o que funciona’. Você tem várias ocorrências desafiando os teóricos”, afirmou o ministro, para quem é necessário “testar o terreno” de um “mundo novo”.

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O ministro da Fazenda disse ainda que o déficit primário do Brasil poderia ficar abaixo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 caso os efeitos negativos da política monetária apertada não se manifestem este ano.

“Se os efeitos deletérios desses 8% de juros real não se fizerem sentir fortemente este ano, coisa que duvido, fora Carf, fora tudo que eu reonerei, fora combustíveis, que a decisão será tomada este mês, fora tudo isso, nós estamos com déficit menor que 1%”, afirmou.

Durante participação no evento do BTG Pactual, Haddad disse que a tendência é de uma melhora progressiva das projeções para o cenário. Ele afirmou que, em janeiro, as receitas do governo já ficaram R$ 19 bilhões acima do previsto, contando R$ 6 bilhões em dividendos que deveriam ter sido pagos pela Petrobras.

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O ministro disse que a situação do País é melhor hoje do que há um mês e que as expectativas do mercado estão contaminadas pelo ruído doméstico. “Eu sei que está, lamento que esteja e, mais do que lamentar que esteja, lamento ainda se a autoridade monetária se deixar levar por isso, não é esse o papel”, afirmou.

Haddad acrescentou que o Brasil está em situação favorável do ponto de vista geopolítico e é forte candidato a atrair investimentos, inclusive devido aos processos de nearshoring e à disponibilidade de energia limpa.

“Há uma janela de oportunidade que o Brasil pode aproveitar ou não. Tem tudo para aproveitar”, disse. “Se aproveitarmos a janela, nós podemos ter uma performance melhor do que a economia mundial”.

(com Agência Estado)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.