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Para Fernando Haddad, a Faria Lima teria certa razão, embora com “algum exagero sobre ao preço dos ativos brasileiros”, em se preocupar com dinâmica de gastos daqui para frente. Em entrevista para a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o ministro afirmou que o governo tem que tomar providências sobre o tema e que “a Fazenda está com isso na mesa, 100%”.
Com o Congresso em ritmo mais lento pelas eleições municipais, Haddad afirmou estar em mais conversas com o presidente Lula sobre diversos temas, em especial o impacto na dívida. O ministro diz que a pasta tem tomado medidas desde fevereiro mas que estas não seriam suficiente para endereçar o problema em um futuro próximo. Daí a necessidade de mais conversas sobre a dinâmica de gastos e seu impacto na dívida pública.
“Quando as pessoas perdem a certeza de que o governo está endereçando esses temas, elas começam a cobrar um prêmio de risco em juros”, afirmou na entrevista. Outro ponto destacado pelo ministro é a necessidade de garantir credibilidade para dinâmica futura e, com isso, trazer juros ao que cita como “patamar adequado”. Haddad reafirmou o que disse sempre repetir: que a política monetária e fiscal devem estar harmonizadas, sob o risco de criação de ciclo vicioso.
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“Onde está a virtude? Em continuar fazendo o que é o mantra da Fazenda: as receitas têm que voltar ao patamar adequado para financiar [os gastos], combatendo jabutis que favorecem grupos específicos, por exemplo”, disse.
Queda de taxa de juros
Para que a taxa de juros volte à sua trajetória de queda vista até 2023, é necessário que a despesa seja menor que 19% do PIB, diz Haddad. O argumento tem sido central em conversas com o presidente Lula e o ministro reforça que é importante enfrentar a questão para que haja a percepção de que “a soma das partes vai caber no todo”.
No momento, diz Haddad, o mercado entende que a soma é maior e que o limite de 2,5% de crescimento de despesa ante a receita não será respeitado. Mesmo com auxílio da receita, o arcabouço fiscal funcionará sem limitação de despesas, segundo o ministro. Esse ajuste já estaria em curso em relação ao orçamento do ano que vem.
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Nas conversas, Haddad afirma que a pasta olha para contas para além do mandato, assim como mercado financeiro, que anteciparia problemas que se apresentariam mais à frente.
“Estou mostrando ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário que nós temos que equacionar estruturalmente as finanças do país. Caso contrário, o mercado, que não está pensando em governo, está pensando na rentabilidade dos seus ativos, antecipa decisões e prejudica o presente”, afirmou.
Uma das questões sensíveis para o processo decisório de cortes, de acordo com o ministro, é que algumas despesas que se pretende cortar teriam sido contratadas antes da posse de Lula. No entanto, uma vez no poder, o presidente teria resistência ao que considera “cortar dos pobres”.
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Para Haddad, a correção de distorções (em especial, citando algumas que teriam sido criadas com finalidades eleitorais pelo governo anterior) seria papel do governo atual. A “batata quente” estaria no colo do governo agora e deve ser resolvida.