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A troca no comando da Petrobras, com a saída de José Mauro Coelho e a indicação de Caio Paes de Andrade, é mais uma tentativa do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) de sair das cordas e mostrar serviço, em meio à escalada no preço dos combustíveis e a pouco mais de quatro meses das eleições. O assunto foi um dos temas debatidos por analistas durante o Timing Político, exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube.
A política de preços dos combustíveis está vinculada à flutuação do valor praticado no mercado internacional. Bolsonaro já criticou publicamente a diretoria da estatal em diversas ocasiões e pediu que novos reajustes sejam evitados.
Formado na área de comunicação social, Paes de Andrade era secretário da Desburocratização do Ministério da Economia. No atual governo, antes de Coelho, passaram pela presidência da Petrobras o economista Roberto Castello Branco e o general Joaquim Silva e Luna.
“É um recorde [de trocas] sendo batido que o mercado não recebe muito bem. Ainda assim, não temos grandes expectativas de mudança na política de preços”, avalia Júnia Gama, analista política da XP. “O que o governo quer é que haja um espaçamento maior entre esses reajustes, que eles não sejam repassados imediatamente sempre que houver uma variação internacional. O governo está, de fato, muito preocupado com o impacto que os reajustes têm na popularidade do presidente Bolsonaro”, explica.
Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, afirma que a terceira troca na presidência da Petrobras indica que o governo está em “situação de desespero”. “É claro que esses preços são importantes para a economia e têm um enorme poder inflacionário. Faltam quatro meses para a eleição. O governo não tem conseguido mostrar alternativa no campo da economia. Não adianta o ministro Paulo Guedes dizer que o inferno da inflação já passou”, diz.
“Eu fico pensando se vai parar aí ou se haverá uma mexida mais profunda na diretoria e até no conselho. Não tem como fazer mágica. A Petrobras tem uma diretoria técnica. Vai mexer na diretoria? Vai abalar ainda mais a administração da empresa?”, questiona Melo.
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O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, chama atenção para o currículo do novo indicado para comandar a petrolífera. “Diferentemente do que se espera, é uma pessoa da área de comunicação social”, aponta. “O problema da Petrobras, de fato, sob o ponto de vista eleitoral, é como tentar comunicar algo que é diferente da realidade objetiva que os brasileiros sentem”, afirma.
“O governo tenta criar uma narrativa de que algo está sendo feito na estatal. A comunicação, por si só, vai ser incapaz de resolver isso se os preços não baixarem”, continua Meirelles. “Dificilmente a queda do preço da gasolina significaria que o bônus dessa eventual redução fosse capitalizado eleitoralmente pelo presidente Jair Bolsonaro.”
Carlos Melo também destacou a falta de familiaridade de Paes de Andrade com a principal área de atuação da estatal. “A Lei das S.A., no que diz respeito às empresas de economia mista, diz que o presidente precisa ter pelo menos dez anos de experiência na área. Nós estamos falando da Petrobras, a maior empresa do Brasil”, afirma. “Não é tão fácil você simplesmente trocar. Precisa ter estofo.”
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Limitação do ICMS sobre os combustíveis
Além das sucessivas interferências na presidência da Petrobras, o governo Bolsonaro vem mobilizando a base aliada no Congresso em torno do Projeto de Lei Complementar (PLP) 18/2022, que estabelece um teto para a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis e energia.
A proposta, de autoria do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), considera, para fins de tributação, que combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo são itens essenciais e indispensáveis. O objetivo é impedir que essas categorias sejam equiparadas a produtos ou serviços considerados supérfluos, que têm maiores alíquotas de tributos. O texto-base do projeto foi aprovado na noite de quarta-feira (25) pela Câmara dos Deputados com 403 votos favoráveis e apenas dez contrários, além de duas abstenções. A proposta segue para o Senado.
“A Câmara é muito alinhada com o governo Bolsonaro nesse discurso de que a culpa [pela alta dos combustíveis] é dos governadores”, afirma Júnia. “O que temos ouvido é que Rodrigo Pacheco [presidente do Senado] deve colocar o projeto em votação e vê grandes possibilidades de ser aprovado lá também. É um tema muito popular. É muito difícil para um senador dizer ‘não’ ao que está sendo vendido como um corte de impostos. É uma narrativa que vem sendo construída.”
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Melo, por outro lado, não vê um caminho fácil para a tramitação da proposta no Parlamento. “Os governadores vão aceitar perder essa arrecadação? Nós estamos em ano eleitoral. Não é tão simples assim”, avalia. “A questão é o timing. Quando isso será aprovado no Senado? Daqui a pouco, no timing político, já era.”
Doria fora do páreo
Outro tema em pauta no Timing Político foi a desistência do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) de disputar o Palácio do Planalto. Sem apoio dentro do partido e rejeitado pela maioria do eleitorado, o tucano abandonou a corrida eleitoral na segunda-feira (23).
“Doria já estava isolado politicamente, apesar de ter saído vitorioso das prévias, e vinha sofrendo ameaças da Executiva do PSDB de perder financiamento para a campanha”, explica Júnia.
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Carlos Melo lembrou que o surgimento de Doria no cenário eleitoral, em 2016, quando foi eleito prefeito de São Paulo, já havia sido marcado por disputas internas no tucanato. “João Doria foi uma intervenção do então governador Geraldo Alckmin [hoje no PSB], que queria tomar o comando da capital de diversos caciques do partido no município. Alckmin jogou pesado, Doria ganhou na convenção e ganhou a eleição”, lembra.
“Nas eleições de 2018, houve aquele conflito sério com Alckmin, que saiu do PSDB muito por causa do Doria”, prossegue Melo. “Por mais que tenha feito coisas corretas, como trazer a vacina para o Brasil, ele foi se desgastando.”
Para Renato Meirelles, a solidão de Doria no mundo político foi simbolizada durante o próprio pronunciamento no qual o ex-governador anunciou que desistia da Presidência. “Tem uma imagem que reflete muito bem o fim da candidatura Doria: a maneira como se despediu. Ele se despediu se abraçando, de forma solitária. Na trajetória dele, ele foi empurrando decisões a fórceps e causando rachas dentro do partido”, afirma. “Doria acabou sendo vítima de um processo de isolamento que ele mesmo criou.”
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Assista, na íntegra, ao Timing Político desta semana no vídeo acima ou clique aqui. O programa é exibido ao vivo sempre às quartas-feiras, às 18h (horário de Brasília), no canal do InfoMoney no YouTube.