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O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), reconheceu que o estado recebeu uma série de alertas sobre o risco de que as mudanças climáticas causassem novas chuvas de grandes proporções, mas afirmou que a administração também tinha de se preocupar com “outras pautas e agendas”, especialmente a relacionada às dificuldades na questão fiscal.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira (20), Leite reconheceu que muitos alertas emitidos antes da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul “se revelam agora especialmente relevantes”, mas que outros “não se confirmaram”.
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“Você tem esses estudos, eles de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas. A gente entra aqui no governo e o estado estava sem conseguir pagar salário, sem conseguir pagar hospitais, sem conseguir pagar os municípios”, justifica o governador.
“A agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha”, prossegue o tucano.
“Cumprimos essa tarefa, porque agora estamos diante dessa crise enorme com capacidade fiscal para enfrentá-la. Então, alertas que estejam sendo feitos são ouvidos, mas eles se deparam com uma situação agora absurdamente crítica que naturalmente vai dar para eles um outro grau de importância, não apenas aos olhos do governo, mas da sociedade como um todo.”
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Questionado sobre mudanças na legislação sancionadas por ele próprio, em 2020, que teriam afrouxado 480 normas ambientais, Leite rechaçou qualquer ligação entre esse episódio e o desastre vivido hoje pelos gaúchos.
“Sobre as 480 mudanças na legislação, na forma como se apresenta essa afirmação, ela naturalmente tenta induzir de que o que nós estamos vivendo no Rio Grande do Sul se relaciona a uma mudança legislativa de 2019, o que é absurdamente equivocado, para dizer o mínimo. Além disso, sequer analisa o que está dentro dessas alterações. Nós temos ali, por exemplo, a mudança de protocolo que era exigido ser em meio físico para poder ser feito por meio virtual”, explica.
“Tem outros vários pontos que são relacionados à correção de multas para infratores, que não havia previsão legal. Nós botamos correção de valores porque senão ele ganha dinheiro em cima da postergação, para ser mais dura a pena para o infrator”, afirma o governador. “Mas também simplesmente burocratizar e dificultar licenças não é proteger o meio ambiente. Acabaram com a legislação ambiental? Não, aprimoramos, modernizamos, ajustamos e até endurecemos em muitos pontos.”
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De acordo com Eduardo Leite, a preocupação com o enfrentamento das mudanças climáticas será o foco principal do plano de reconstrução lançado pelo estado na semana passada.
“Dentro do que nós chamamos de Plano Rio Grande, que nós estamos estabelecendo desde quando o presidente Lula veio aqui. Usei o exemplo do Plano Marshall. O importante é o conceito. O plano de reconstrução do estado envolve um conselho da sociedade civil que a gente vai estruturar com participação de entidades empresariais e movimentos sociais”, diz Leite.
“Há um comitê científico de adaptação e resiliência climática com academia, especialistas, para orientar as decisões que deverão ser feitas em relação à reconstrução — e, dentro desse processo de reconstrução, sistemas de proteção e resiliência. Sofremos as consequências dos desmatamentos na Amazônia e do que isso gera de mais umidade ou menos umidade trazida ao Rio Grande do Sul. A gente tem essa consciência”, afirma.
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Exploração política
Durante a entrevista, Eduardo Leite também foi perguntado sobre a indicação do ministro Paulo Pimenta (PT-RS) para ocupar a Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, coordenando as ações do governo federal para a recuperação do estado.
A escolha desagradou ao PSDB, partido de Leite, que a classificou como uma tentativa de exploração política por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pimenta é apontado como o nome petista para disputar a sucessão de Leite no governo estadual, em 2026.
“A questão política em todo esse processo é o que mais me preocupa desde o início dele. Porque a dimensão que tem essa tragédia exige uma coordenação de esforços, um alinhamento entre forças políticas, empresariais, sociedade civil, que é especialmente difícil nos tempos atuais, de polarização, de disputas, de divisões, de redes sociais com opiniões para todos os lados, com força e virulência tentando destruir reputações. Mas é o esforço pelo qual, entendo, a gente deve canalizar aqui as nossas energias”, afirma o governador.
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“Naturalmente, o governo do estado tem um protagonismo que não é por vaidade ou interesse pessoal do governador, é pelo que o voto popular conferiu. Nós somos uma federação, e uma federação composta por estados onde existem governos constituídos pelo voto popular para liderar um processo, não para mandar simplesmente. Não é para ser do jeito que eu quero, porque eu ganhei uma eleição, é para liderar o processo reunindo as forças da sociedade”, prossegue Leite.
“O que o ministério que o presidente Lula criou tem no nome, e entendo deva ser o que orienta a sua ação: é uma secretaria extraordinária para apoio à reconstrução. Todo apoio é bem-vindo. O apoio do setor privado, o apoio dos voluntários, o apoio das doações, o apoio da sociedade civil de diversas formas, o apoio do governo federal é bastante importante nesse processo”, diz.
“O meu papel como governador não é o de fazer análises políticas, é de resolver o problema. Para resolver o problema, precisamos juntar as forças de todos, inclusive a do governo federal. O presidente apresentou o seu preposto para esta missão de apoiar a reconstrução, vamos trabalhar com ele, vamos juntar as forças para poder atender a população”, conclui o tucano.
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