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As organizações criminosas no Brasil estão obtendo muito mais dinheiro com combustíveis e outros produtos do que com o comércio de cocaína, expandindo suas operações para setores formais da economia. Essa movimentação tem causado bilhões em perdas fiscais e dificultado os esforços para combater o crime organizado.
De acordo com um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que será divulgado nesta quinta-feira (13), as facções geraram cerca de R$ 146,8 bilhões em 2022 com a venda de combustíveis, ouro, cigarros e bebidas. Em comparação, a receita estimada com o tráfico de cocaína foi de R$ 15 bilhões no mesmo período.
As autoridades brasileiras já identificavam a diversificação das facções para além do narcotráfico, envolvendo atividades como mineração ilegal na Amazônia e operações no setor de fintechs em São Paulo. No entanto, este estudo é o primeiro no Brasil a documentar a real dimensão dessas atividades na economia formal e seus impactos sobre os cofres públicos.
Os grupos também estão lucrando com crimes cibernéticos e roubo de celulares, o que, segundo o relatório, elevou o faturamento total das facções para aproximadamente R$ 186 bilhões.
“O tráfico de cocaína, maconha, outras substâncias ilícitas e armas continua sendo relevante”, afirmou o pesquisador Nivio Nascimento em entrevista.
“Mas a expansão para mercados formais demonstra uma evolução das organizações criminosas, que estão aprimorando sua logística, ampliando sua capacidade operacional e diversificando seus negócios.”
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A entrada nos setores de ouro, bebidas, cigarros e combustíveis tem sido facilitada tanto pela alta demanda quanto por penas mais brandas para crimes como contrabando, fraude e sonegação fiscal, em comparação com o tráfico de drogas, segundo Nascimento.
O impacto para os cofres públicos é significativo, pois as facções exploram falhas institucionais e regulatórias para lavar dinheiro e esconder suas receitas ilícitas, afirmam os pesquisadores.
O relatório estima que a venda ilegal de até 13 bilhões de litros de combustível por ano gera uma perda de arrecadação tributária de cerca de R$ 23 bilhões. Além disso, aproximadamente 40% do mercado de cigarros no Brasil é composto por produtos ilegais, enquanto o contrabando e a falsificação de bebidas causaram perdas fiscais de R$ 72 bilhões em 2022.
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A crescente sofisticação dessas organizações também tem ampliado sua influência em regiões onde o Estado enfrenta dificuldades para manter o controle, agravando a violência e os crimes ambientais, além de dificultar ainda mais o combate à ilegalidade, conclui o estudo.
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