Estreante em debate, Marina Helena critica Ricardo Nunes e mira eleitor conservador

Candidata do Partido Novo abraça pauta da sexualização das escolas para buscar eleitor que hoje se divide entre Nunes e Pablo Marçal

Marcos Mortari Fábio Matos

A economista Marina Helena é candidata do Partido Novo à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/Partido Novo)
A economista Marina Helena é candidata do Partido Novo à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/Partido Novo)

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Estreante em debates eleitorais, a economista Marina Helena Santos (Novo), candidata à prefeitura de São Paulo, adotou a estratégia de atrair o eleitorado conservador logo no início de sua participação em encontro com os postulantes ao comando da maior cidade do País, promovido por Estadão, Terra e Faap nesta quarta-feira (14).

O debate reúne os 6 candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto para o pleito majoritário na capital paulista − o que inclui o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição; os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB); o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) e o empresário e coach Pablo Marçal (PRTB).

Logo no primeiro momento do debate, Marina Helena, que não havia sido convidada a participar do primeiro debate entre os candidatos, realizado na última quinta-feira (8) pela TV Bandeirantes, teve a oportunidade de interagir com o prefeito Ricardo Nunes sobre questões relacionadas à educação. Na ocasião, ela levantou bandeiras tradicionais da direita no assunto, criticou o adversário e usou Boulos como antípoda.

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Indagada sobre o uso de celulares nas escolas da rede municipal, a candidata se opôs a Nunes e disse ser favorável a uma proibição em linha com a implementada pela prefeitura do Rio de Janeiro (RJ), mas sem virar as costas para o uso de tecnologias na formação das crianças.

“Sou favorável a proibir o celular na sala de aula. Claro, vamos usar tablet e toda a tecnologia para educar, mas não dá para a criança ficar perdendo tempo e não estudando na hora em que estiver na sala de aula, paga por todos nós e nossos impostos. Ela tem que estar ali para aprender”, disse.

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Quando o assunto avançou para a oferta de vagas em creches na cidade, Marina Helena chegou a elogiar os convênios celebrados na gestão Nunes e defendeu a ampliação da estratégia para o Ensino Fundamental. “É provado aqui na capital que infelizmente a escola pública hoje custa mais do que a escola privada e tem uma educação de muito pior qualidade. Então, a ideia é trazer as melhores escolas particulares para ensinar as nossas crianças na rede pública”, afirmou.

Já no final da primeira interação com o prefeito, a economista avançou em direção a pautas associadas ao eleitorado mais conservador da capital e confrontou de forma mais incisiva o candidato à reeleição. Em sua pergunta, ela levantou o tema da suposta sexualização nas escolas e lançou acusação contra a atual administração.

“Como mãe, eu me preocupo muito com a questão da sexualização das crianças na sala de aula. E eu queria saber, prefeito, a sua opinião sobre um canal no YouTube da prefeitura chamado Saúde para Todes, onde se fala de ideologia de gênero, gênero neutro, e, pior ainda, de um documento da sua prefeitura, assinado por você, em que se fala em bloqueio hormonal de puberdade para meninos e meninas trans a partir dos 8 ou 9 anos de idade”, afirmou.

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O movimento indica uma estratégia para agradar eleitores mais próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que hoje declaram voto em outros candidatos − especialmente Pablo Marçal e o próprio Ricardo Nunes, que conta com o apoio formal de Bolsonaro.

Diante da saia justa, o prefeito adotou estratégia similar à do primeiro debate, quando foi atacado por todos os adversários, e lamentou a postura da candidata, defendendo que o encontro entre os postulantes ao comando da capital paulista sirva como oportunidade para discutir as questões da cidade.

“Lamentável, Marina. A gente esperava que o debate [seria para] poder falar da cidade. Essas coisas de ataque pessoal, essas agressividades não levam a nada. A gente tem tanta coisa para trabalhar, para cuidar da nossa cidade. Fiquei tão feliz que você pôde participar aqui”, rebateu o atual prefeito. Mais à frente, Nunes se posicionou sobre o assunto, dizendo que a notícia não é verdadeira. “Quando fui vereador fui autor do substitutivo para tirar ideologia de gênero do plano municipal de educação. O que existe é na Secretaria de Saúde uma ação para tratamento dessas pessoas, e a nossa gestão é para cuidar de todos”, afirmou.

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Em sua fala ainda no primeiro bloco, Marina Helena havia criticado o prefeito por não responder e aproveitou o assunto para atacar Boulos. “É importante dizer que eu não tenho nada contra opção sexual dos adultos, mas deixem as crianças fora disso. A gente está morrendo de medo de ter um candidato do PSOL à frente da prefeitura de São Paulo, mas a grande verdade é que a prefeitura atual está cheia dessas loucuras da esquerda. Hoje, meus amigos. Então, o que pergunto para a direita honesta da nossa cidade é se a gente vai dar, de fato, uma segunda chance para esse prefeito”, disse.

“Hoje, chega de as nossas crianças nas escolas aprendendo ideologia de gênero, aprendendo a ser comunista. O que a gente quer é trazer as melhores escolas particulares de São Paulo para administrar as escolas públicas. Por quê? Porque elas custam menos e fazem muito melhor. É essa a nossa proposta: educar as nossas crianças, aquilo que elas precisam para se dar bem no mercado de trabalho”, afirmou, em um novo aceno ao eleitorado conservador da cidade.

A candidata seguiu no ataque às candidaturas de esquerda quando foi indagada sobre propostas para a segurança pública. Neste campo, ela reforçou sua aderência ao discurso conservador tradicional, mas não entrou em detalhes sobre suas propostas. “Eu defendo tolerância zero no que diz respeito à segurança. O lugar de bandido é na prisão. O Brasil é campeão em impunidade por um motivo simples: a gente aqui tem a nossa esquerda que defende passar a mão na cabeça de bandido. Eu não tolero isso”, disse.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.