Eleitores de Lula se dividem sobre comparação entre ação de Israel em Gaza e Holocausto

Declaração foi considerada exagerada por 60% dos brasileiros; já entre os que votaram em Lula, 45% acham que tom foi adequado, enquanto 43% discordam

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante sessão Plenária da 8ª Cúpula da CELAC, em Kingstown, São Vicente e Granadinas (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante sessão Plenária da 8ª Cúpula da CELAC, em Kingstown, São Vicente e Granadinas (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparando as ações do exército de Israel na Faixa de Gaza, em meio ao conflito contra o Hamas, ao genocídio de judeus provocado pelo Holocausto nazista, foi considerada exagerada pela maioria da população brasileira.

Segundo pesquisa Genial/Quaest, realizada entre os dias 25 e 27 de janeiro, 60% dos eleitores do país acham que o mandatário passou do ponto na afirmação feita durante viagem internacional a Adis Abeba, capital da Etiópia, quase um mês atrás. Outros 28% avaliam que Lula não exagerou, enquanto 12% não responderam ao questionamento.

O levantamento mostrou forte resistência às falas entre o eleitorado evangélico (69%) e entre aqueles que dizem ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições para o comando do Palácio do Planalto em 2022.

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Mas mesmo entre aqueles que apoiaram Lula no pleito o assunto dividiu opiniões. Segundo a pesquisa, 43% dos que dizem ter votado no petista entendem que ele exagerou ao fazer a comparação, enquanto 45% têm avaliação oposta. A margem de erro máxima do levantamento é de 2,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Durante a viagem oficial à Etiópia, Lula disse não haver na história episódio como o conflito atual travado por Israel, exceto “quando o Hitler resolveu matar os judeus”. A fala ocorreu em um contexto de crítica do presidente brasileiro aos países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região. A declaração gerou uma crise diplomática entre Brasil e Israel, que escalou nos dias subsequentes.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que Lula “cruzou uma linha vermelha” e que a declaração era “vergonhosa e grave”. “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, disse.

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Na sequência, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou que o presidente brasileiro havia se tornado “persona non grata em Israel até que retire o que disse”. Dias depois, o chanceler chamou a comparação de Lula de “promíscua” e “delirante” e questionou: “Como ousa comparar Israel a Hitler?”.

O embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, também sofreu uma reprimenda no Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. Mas Lula não se retratou, e o governo brasileiro decidiu chamar Meyer para consultas e convocar o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações. Além disso, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, criticou a postura do seu colega israelense.

Como foi feita a pesquisa?

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 25 e 27 de fevereiro − portanto, no calor das manifestações a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, em São Paulo. Foram ouvidos para o levantamento 2.000 brasileiros com 16 anos ou mais, de todas as regiões do país.

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A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas face a face, através da aplicação de questionários estruturados. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, o que significa dizer que, se ela tivesse sido feita mais de uma vez, sob as mesmas condições, esta seria a probabilidade de o resultado se repetir dentro da margem de erro.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.