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Partidos de centro e direita que integram o chamado “centrão” na cena política nacional foram os grandes vencedores das eleições municipais de 2024.
Embora 52 cidades ainda tenham disputa em segundo turno para definirem seus prefeitos, já é possível afirmar que o PSD, partido criado por Gilberto Kassab em 2011, é a legenda com o maior número de representantes no Poder Executivo em nível local.
A sigla foi a que mais avançou em número absoluto de prefeitos eleitos em primeiro turno, saindo de 657 representantes nas prefeituras em 2020 para 877 em 2024, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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E o número ainda pode aumentar, já que o partido tem 10 candidatos disputando segundo turno no chamado G-103 (o grupo dos 103 municípios em que existe a possibilidade de nova votação entre os dois candidatos mais bem posicionados, quando nenhum deles atingiu a maioria absoluta dos votos).
O salto de 33% do PSD (que pode chegar a 35%) fez com que a jovem sigla superasse o tradicional MDB no posto de mais prefeituras comandadas. É a primeira vez que isso ocorre em ao menos 20 anos.
Da última eleição para cá, o MDB até cresceu, foi de 793 para 846 prefeituras (crescimento de 7%) − e pode chegar a 856 (+8%), dependendo dos resultados de segundo turno −, mas não o suficiente para fazer frente ao salto do PSD.
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Em 27 de outubro, a histórica sigla de Ulysses Guimarães espera eleger representantes em ao menos duas capitais de peso: São Paulo (SP), com Ricardo Nunes, e Porto Alegre (RS), com Sebastião Mello. Os dois são considerados favoritos nas disputas.
A terceira posição dos partidos que conquistaram mais prefeituras nessas eleições municipais ficou com o Progressistas, que foi de 690 assentos conquistados em 2020 para atuais 743, podendo chegar a 749.
Em seguida, aparecem União Brasil e PL. Nas últimas eleições, PSL e DEM (siglas que se fundiram em 2021 para formar o União Brasil) somavam 560 prefeituras. Hoje, são 578 representantes eleitos no Poder Executivo em nível local, além de outros 11 que disputam o segundo turno. Um crescimento que pode variar de 3% a 5%.
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Já o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, atingiu a marca de 509 prefeituras − 166 cadeiras a mais do que no pleito anterior, em um salto de 48%. O partido ainda pode conquistar mais 23 prefeituras no segundo turno, o que elevaria a taxa de crescimento da última eleição para cá a 55% − uma das maiores entre as legendas de grande porte, atrás apenas do Republicanos, que cresceu de 212 para 430 (+103%) entre os dois pleitos.
Como se fosse pouco, o partido liderou a disputa nas 103 maiores cidades do país − o famoso “G-103” (grupo dos municípios em que existe a possibilidade de haver segundo turno). Foram 10 eleitos nas 50 cidades que já definiram seus representantes para o Poder Executivo. São 3 a mais do que União Brasil e Progressistas, 4 a mais do que o PSD e nada menos do que o dobro do número conquistado pelo MDB.
A sigla de Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto ainda tem 23 representantes na disputa em segundo turno − o que pode levá-la à marca de 33 prefeitos eleitos nas maiores cidades do país (ou seja, pouco menos de 1 em cada 3).
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Veja o desempenho geral de cada partido nessas eleições:
Partido | Prefeituras em 2020 | Prefeituras em 2024 – Mínimo (já eleitos) | Prefeituras em 2024 – Máximo (eleitos + disputando 2º turno) |
PSD | 657 | 877 | 887 |
MDB | 793 | 846 | 856 |
PP | 690 | 743 | 749 |
União Brasil¹ | 560 | 578 | 589 |
PL | 343 | 509 | 532 |
Republicanos | 212 | 430 | 437 |
PSB | 253 | 307 | 309 |
PSDB | 523 | 269 | 274 |
PT | 182 | 248 | 261 |
PDT | 314 | 148 | 151 |
Avante | 81 | 135 | 136 |
Podemos² | 219 | 122 | 128 |
PRD³ | 266 | 76 | 76 |
Solidariedade(4) | 135 | 62 | 63 |
Cidadania | 141 | 33 | 34 |
Mobiliza(5) | 13 | 20 | 20 |
PC do B | 46 | 19 | 19 |
Novo | 1 | 18 | 20 |
PV | 46 | 14 | 14 |
Rede Sustentabilidade | 5 | 4 | 4 |
Agir(6) | 1 | 3 | 3 |
DC | 1 | 2 | 2 |
PMB | 1 | 2 | 3 |
PRTB | 6 | 1 | 1 |
PSOL | 5 | 0 | 2 |
¹ Fusão entre DEM e PSL
² O Podemos incorporou o PSC em novembro de 2022
³ Fusão entre Patriota e PTB
(4) O Solidariedade incorporou o PROS em outubro de 2022
(5) Antigo PMN
(6) Antigo PTC
As eleições municipais de 2024 também marcaram a continuidade de um movimento de encolhimento do PSDB. A sigla, que governou o estado de São Paulo por quase três décadas, reduziu praticamente pela metade sua participação nas prefeituras, caindo de 523 no último pleito para 269. Caso seus representantes vençam as disputas neste segundo turno, a legenda poderá ficar com 274 cadeiras.
Vale lembrar, ainda, que os tucanos chegaram a ter quase 800 prefeituras em 2016, época em que o partido polarizava com o PT na política nacional. Trata-se de um claro indicativo da perda de relevância do partido que já venceu duas eleições presidenciais com o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
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O Cidadania, que integra uma federação com o PSDB desde as últimas eleições presidenciais, acompanhou o movimento da sigla aliada e viu seu número de prefeituras cair 77%: de 141 em 2020 para atuais 33 (podendo chegar a 34).
O quadro também não é favorável para as legendas de esquerda. Somando as 7 principais siglas deste campo (PT, PSB, PDT, PC do B, PSOL, PV e Rede Sustentabilidade), o número de prefeituras controladas nessas eleições ficou em 740 − 133 a menos do que as cidades que o PSD sozinho irá governar. O grupo recuou 13% do último pleito para cá.
O PT, sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recuperou posições nessas eleições, com um crescimento de 36% (de 182 prefeituras para 248, podendo chegar a 261), mas ainda segue do patamar anterior à Operação Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff, quando superou 600 prefeituras em 2012.
Com esse desempenho, a sigla segue atrás do PSB, que reelegeu o prefeito João Campos no Recife (PE), além de outros 306 representantes no Poder Executivo em nível local − número que ainda pode subir para 309, dependendo dos resultados do segundo turno.
Na ciência política, é conhecida a correlação entre o desempenho dos partidos em eleições municipais e a formação de bancadas no Congresso Nacional na legislatura seguinte. Isso porque, em pleitos gerais, vereadores e prefeitos se tornam cabos eleitorais relevantes para candidatos a cargos no parlamento.
“Com isso, os partidos do chamado ‘centrão’ devem continuar controlando o Congresso Nacional nas próximas eleições gerais, em 2026. Os partidos que elegem o maior número de prefeitos tendem a reproduzir esse desempenho na Câmara dos Deputados no pleito subsequente”, observa o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice.
“Mesmo que as eleições municipais sejam centradas no debate local, a correlação entre o número de prefeitos e deputados é um indício de sua repercussão nacional”, reforça o especialista.
E como a política antecipa cenários, não seria surpresa imaginar reflexos da correlação de forças que sai das urnas sobre o xadrez político no Congresso Nacional − e sobre as relações com o governo federal, apesar de o desempenho do PT ter vindo dentro das expectativas de lideranças da legenda (entre 240 e 300 prefeitos).
Para Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores Associados, o bom desempenho de partidos como PL, PSD e União Brasil aumenta o poder de barganha do “centrão” na discussão de pautas no Poder Legislativo num momento em que diversas pautas de interesse do governo tramitam nas duas casas.
Na avaliação do cientista político Leandro Consentino, professor do Insper, as eleições municipais trouxeram más notícias para os dois polos da política nacional. Na esquerda, ausência de capilaridade. E na direita, fragmentação.
O resultado, na sua leitura, pode ser um preço maior cobrado pelas forças centrais nas próximas eleições e um custo mais elevado de governabilidade para quem conseguir triunfar na corrida presidencial e nas disputas pelos governos estaduais.
Para compreender melhor o saldo partidário das eleições, veja os impactos sobre as 5 regiões do País:
Região Sul
No Sul, o Progressistas desbancou o MDB como maior força regional, ao saltar de 217 para 278 prefeituras − o que levou sua participação de 18% para 24%.
A maior parte das posições conquistada pela sigla foi no Rio Grande do Sul (com 164 dos 491 eleitos em primeiro turno), seguida por Paraná (61 de 395). Nos dois estados, tornou-se a legenda mais capilarizada.
Já o MDB perdeu 33 assentos, passando a dominar 258 prefeituras, sendo a maior parte no Rio Grande do Sul (125) e em Santa Catarina (70) − estados em que passou a ser a segunda maior força política.
Estrela nacional dessas eleições, o PSD também teve um crescimento destacado na região Sul, onde conquistou 37 novas prefeituras, atingindo a marca de 214 representantes no comando do Poder Executivo em nível local. O partido consolidou liderança isolada em cidades governadas no Paraná (com 162 dos 395 prefeitos eleitos), estado que administra com Ratinho Jr..
O maior crescimento das últimas eleições para cá, no entanto, foi do PL, que saiu de 66 prefeituras na região para 178 (+28%), podendo chegar a 181 (+29), dependendo dos resultados do segundo turno daqui a duas semanas.
Com os resultados, o partido de Bolsonaro tornou-se a maior força em Santa Catarina (com 90 dos 295 prefeitos eleitos), estado que comanda com o governador Jorginho Mello (PL), a terceira maio do Paraná (52) e a quarta do Rio Grande do Sul (36).
Na esquerda, o PDT se destaca como principal força entre as prefeituras gaúchas, comandando 50 das 491 cidades que já escolheram seus prefeitos no último domingo (6). O número é maior do que a soma de PT (19) e PSB (8).
Região Sudeste
Uma intensa dança das cadeiras aconteceu na região Sudeste, com o PSDB reduzindo sua participação para 1/3 da que saiu das urnas quatro anos atrás (de 263 prefeituras para 84).
De primeira força na região, os tucanos passaram para para a sétima posição. Em São Paulo, estado que governou por quase 30 anos, o partido agora conta com 21 dos 610 prefeitos eleitos em primeiro turno.
Outro tombo foi visto no caso do União Brasil. Em 2020, antes da fusão, PSL e DEM somavam 189 prefeituras. Agora são 115, podendo chegar a no máximo 119. A legenda é a sexta maior força da região.
Agora, o partido com mais capilaridade no Sudeste é o PSD, de Gilberto Kassab, que mais do que dobrou suas prefeituras da última eleição para cá (de 154 para 349, podendo chegar a 354). A legenda superou o MDB, que saiu de 171 prefeitos para 159.
Seu melhor desempenho foi em São Paulo, onde agora conta com 1/3 dos prefeitos já eleitos (203 de 610), e em Minas Gerais, onde também é a maior sigla, com “share” de 17% (140 dos 842 prefeitos eleitos) − quase o dobro do segundo colocado, o PP, que elegeu 74 prefeitos mineiros.
Também merecem destaque no Sudeste o PL, que viu sua base de prefeitos sair de 89 para 182 (podendo chegar a 191), e o Republicanos, que saltou de 78 cidades administradas em 2020 para 175 (com possibilidade de chegar a 181).
O partido de Bolsonaro desponta como maior força no Rio de Janeiro (com 22 dos 84 prefeitos eleitos) e a segunda maior em São Paulo (com 102 dos 610 eleitos).
Já o Republicanos, que conta com o governador Tarcísio e Freitas, tem 80 representantes paulistas, sendo a terceira força no estado, e 83 em Minas Gerais, onde só perde para o PSD, sigla de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal, e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em “share”.
No Espírito Santo, a liderança em capilaridade fica com o PSB, legenda do governador Renato Casagrande. Lá, o partido elegeu 21 prefeitos em primeiro turno − pouco menos de 28% de todos os 76 consagrados pelas urnas no último domingo (6).
Região Centro-oeste
No Centro-oeste o União Brasil foi protagonista, saltando de 108 prefeituras em 2020 (resultado da soma de PSL e DEM, já que aquele pleito foi anterior à fusão das siglas) para 154 − mais do que o dobro do MDB, que cresceu de 60 para 74 no período.
Todas as prefeituras conquistadas pela sigla ficam em Goiás, estado que governa com Ronaldo Caiado, e Mato Grosso, com Mauro Mendes. Foram 94 dos 243 prefeitos (39%) eleitos em primeiro turno no primeiro estado e 60 dos 138 no segundo (43%).
Outro destaque positivo ficou com o PL, cuja participação na região saltou de 22 para 50 prefeituras das últimas eleições para cá, superando a marca do Progressistas, que ganhou apenas 1 prefeitura no pleito atual, chegando a 45 cidades governadas.
Os dois partidos agora estão próximos da marca do PSDB, que também perdeu importante espaço na região, saindo de 69 prefeituras conquistadas em 2020 para atuais 54. Com as quedas, os tucanos mantém participação pequena em Goiás (com 7 dos 243 prefeitos eleitos) e no Mato Grosso (3 de 138).
Apesar disso, o PSDB é o partido com maior capilaridade no Mato Grosso do Sul, estado que governa com Eduardo Riedel. Lá, 44 dos 77 prefeitos eleitos em primeiro turno são tucanos (o equivalente a impressionantes 57%).
O Podemos foi outra legenda que encolheu no Centro-oeste. O partido somava com o PSC (sigla que incorporou dois anos atrás) 30 prefeitos na região. Hoje o número equivale à metade, sendo que 14 são representantes em Goiás.
Região Norte
No Norte do País, o MDB manteve sua hegemonia, com um pequeno recuo no número de prefeitos eleitos: 108 (podendo chegar a 110, dependendo dos resultados de segundo turno), contra 114 em 2020.
Sua maior presença está no Pará, estado sob forte influência da família Barbalho, com 81 dos 140 prefeitos já definidos pelas urnas. No Amazonas, a sigla é a segunda maior força, com 14 dos 61 prefeitos já eleitos, atrás apenas do União Brasil, legenda do governador Wilson Lima, com 24, que também lidera em Rondônia, onde governa com Marcos Rocha, com 16 dos 51 eleitos.
Apesar de manter a liderança na região, o MDB agora vê mais próximo o Republicanos, que ampliou de forma significativa sua presença, passando de 16 prefeitos em 2020 para 81 eleitos no último domingo. Deste contingente, 56 estão no Tocantins, estado que governa com Wanderlei Barbosa, formando um “share” de 41%.
Também se destacou pelo crescimento na região o Progressistas, que saiu de 28 prefeitos para 59 das últimas eleições municipais para cá. A legenda é a principal força de Roraima, estado que governa com Antonio Denarium, com 7 dos 15 prefeitos eleitos em primeiro turno, e do Acre, que administra com Gladson Cameli, com 14 de 22.
No Pará, o Progressistas está um pouco à frente do PSD como principal força: 16 dos 140 prefeitos eleitos, contra 14. A sigla de Kassab perdeu terreno na região como um todo, saindo de 57 prefeitos para 35 de 2020 para cá.
Outro partido que pode terminar as eleições de 2024 com menos prefeituras no Norte do País é o PL, que elegeu 21 representantes no primeiro turno. Para manter a marca de quatro anos atrás, a sigla precisará sair vitoriosa nas 4 disputas de segundo turno que participa. A maior parte dos representantes da sigla de Bolsonaro na região é de Rondônia (com 12 dos 51 eleitos).
Região Nordeste
No Nordeste, a virada na disputa pela hegemonia foi do MDB sobre o PSD. A sigla que governa Alagoas com Paulo Dantas (MDB) saiu de 190 prefeituras em 2020 para 281 nestas eleições − 9 a mais do que a legenda adversária, que conquistou mais 25 cadeiras (número que pode subir para 27, dependendo do resultado do segundo turno).
A maior parte dos novos prefeitos do MDB está em Alagoas (com 65 dos 102 eleitos em primeiro turno), Piauí (com 57 de 224), Rio Grande do Norte (com 45 de 164, sendo a maior força no estado) e Maranhão (com 36 de 215).
Já o PSD se destaca como maior força da Bahia (com 115 dos 414 prefeitos eleitos em primeiro turno) e no Piauí (com 65 de 224) e em Sergipe (com 25 de 72), estado que governa com Fábio Mitidieri.
No Nordeste, partidos de esquerda apresentam, em linhas gerais, desempenho melhor do que em outras regiões. Neste grupo, a sigla com maior capilaridade é o PSB, que saiu de 117 para 214 prefeitos nordestinos eleitos (podendo chegar a 216).
O partido é a principal força política em Pernambuco (com 31 dos 179 eleitos), berço político da família Campos, na Paraíba (com 69 de 221), que governa com João Azevêdo, e no Ceará (com 65 de 182).
O PT, por sua vez, aumentou de 90 para 168 o número de prefeitos eleitos na região. O partido tem a maior parte de seus representantes no Poder Executivo em nível local no Piauí (50 dos 224 eleitos em primeiro turno), Bahia (49 de 414) e Ceará (46 de 182).
O crescimento de PSB e PT contrasta com a forte queda do PDT, que perdeu 99 prefeituras de 2020 para cá, elegendo apenas 43 representantes no último domingo. No Ceará, reduto de Ciro Gomes, um dos expoentes da legenda, foram só 5 prefeitos − menos do que na Bahia (8) e no Maranhão (18), sendo neste último a maior força o PL (com 40 dos 215 eleitos em primeiro turno).
Fora da esquerda, outra sigla que perdeu terreno foi o Progressistas, que viu sua base de prefeitos minguar de 289 nas últimas eleições para 212. Os redutos de maior força do partido são Bahia (41), Piauí (34) e Maranhão (29).