Eleições nos estados mostram clara tendência ao continuísmo, diz analista político

Pleito deste ano teve recorde de reeleições em 1º turno nos estados: 12 dos 20 governadores já conseguiram um novo mandato (e número deve crescer)

Lucas Sampaio

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Dos 20 governadores que buscam a reeleição neste ano, 12 já atingiram o objetivo no primeiro turno (60% dos postulantes), 6 ainda vão disputar o segundo turno (30%) e apenas 2 não conseguiram avançar e não têm mais chance de se reeleger (10%).

Trata-se de um recorde de reeleições logo no primeiro turno nos estados (o recorde anterior era de 2010, quando 10 governadores foram reeleitos sem precisar disputar o segundo turno, segundo o jornal O Globo).

Leia mais: Quais partidos vão apoiar Lula e quais escolheram Bolsonaro para o segundo turno

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20 governadores tentavam se reeleger:

O cientista político e analista da Arko Advice, Carlos Borenstein, diz que as eleições para governador mostram “de uma forma muito clara uma tendência ao continuísmo nas disputas estaduais”. Para ele, “uma série de fatores podem explicar essa tendencia”, mas duas se destacam: o abandono do discurso contra a política e o aumento da arrecadação dos estados.

‘Retorno à normalidade’

“O primeiro [fator] é que aquela eleição disruptiva que tivemos em 2018, muito marcada por uma série de vitorias — não só do Bolsonaro, que naquela oportunidade abraçou a narrativa anti-establishment —, mas uma série de governadores que também seguiram essa narrativa”, disse Borenstein.

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A análise foi feita durante o InfoMorning, programa diário do InfoMoney que na segunda-feira (3) focou nos resultados do primeiro turno das eleições (e seus desdobramentos). Assista ao programa no vídeo abaixo.

“Temos uma alteração desse paradigma agora em 2022, um certo retorno à normalidade”, afirmou o analista político . “Os governadores que ganharam a eleição em 2018 e agora disputaram a reeleição, de um modo geral, operam dentro dos marcos da política tradicional”.

Borenstein deu como exemplo o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que conseguiu sua reeleição no primeiro turno com 56% dos votos válidos. “Mesmo o Zema, em Minas, que naquela oportunidade [2018] se elegeu com um discurso contra a política tradicional, de renovação, ele montou um arco de alianças muito sólido”.

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Além disso, também se elegeram no primeiro turno outros 3 candidatos que não são governadores, mas tiveram apoio do atual chefe do Executivo: Clécio Luís (Solidariedade), no Amapá, Elmano de Freitas (PT), no Ceará, e Rafael Fonteles (PT), no Piauí.

SP e SC são as exceções

Os únicos candidatos à reeleição que já estão fora da disputa são os governadores de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), e de Santa Catarina, Carlos Moisés (Republicanos). Em ambos os casos, eles foram “vítimas” da polarização entre o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e o ex-presidente Lula (PT).

Em São Paulo, o atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), recebeu 18,4% dos votos válidos (4,3 milhões) e ficou atrás de Tarcísio Freitas (Republicanos), que terminou em 1º com 42,3% (9,9 milhões) e Fernando Haddad (PT), que teve 35,7% (8,3 milhões). Tarcísio é ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e Haddad, ex-ministro da Educação de Lula e ex-prefeito de São Paulo.

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Em Santa Catarina, o governador e candidato à reeleição, Carlos Moisés (Republicanos), que foi eleito em 2018 na esteira do bolsonarismo, com 71% dos votos válidos, ficou de fora do segundo tuno por apenas 17.433 votos.

Neste ano, o candidato de Bolsonaro no estado é o senador Jorginho Melo (PL), que teve 38,6% dos votos (1,5 milhão) e ficou em primeiro lugar. Décio Lima (PT) foi o segundo mais votado, com 17,4% (710 mil votos), um pouco à frente de Moisés, que recebeu 16,9% dos votos (693 mil).

6 governadores no 2º turno

A lista de governadores reeleitos pode crescer ainda mais porque, além dos 12 governadores que já venceram, outros 6 vão disputar o segundo turno no dia 30 (veja as disputas abaixo, com os atuais ocupantes do cargo em negrito).

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Todos os candidatos à reeleição exceto Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul, terminaram o primeiro turno na liderança. Leite teve 26,8% dos votos válidos e ficou mais de 10 pontos percentuais de Onyx Lorenzoni (PL), que é ex-ministro do governo Bolsonaro e apoiado pelo presidente.

O tucano também é o único que concorre à reeleição sem estar no cargo, pois deixou o Palácio Piratini em abril, para tentar concorrer à Presidência da República. Mas o seu partido decidiu não ter candidato próprio e apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB) na corrida ao Palácio do Planalto.

A menor vantagem para o segundo colocado foi em Rondônia: o governador Coronel Marcos (União Brasil) teve 38,9% dos votos válidos, menos de 2 pontos percentuais à frente de Marcos Rogério (PL), que teve 37%.

Na Paraíba a diferença foi de 15,7 pontos percentuais, com o atual governador João Azevêdo (PSB) recebendo 39,6% dos votos válidos, e em Alagoas e no Espírito Santo a disputa quase terminou no domingo (2), pois Paulo Dantas (MDB) e Renato Casagrande tiveram ambos mais de 46% dos votos.

Já a maior distância foi no Amazonas: o governador Wilson Lima (União Brasil) terminou com mais que o dobro de votos do segundo colocado, Eduardo Braga (MDB). Lima conseguiu 42,8% dos votos válidos, contra 21% do ex-governador e ex-prefeito de Manaus (uma diferença de 21,8 p.p.).

Os 12 governadores que se reelegeram no domingo (2):

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.