Dólar alto: brasileiro vê decisões econômicas e descontrole nas contas como culpados

É o que mostra uma pesquisa da consultoria de negócios Timelens, com base em citações nas redes sociais e buscas pelo tema nas plataformas digitais nos últimos 30 dias; veja os principais dados do estudo

Fábio Matos

Notas de dólar (Ilustração: Jose Luis Gonzalez/Reuters)
Notas de dólar (Ilustração: Jose Luis Gonzalez/Reuters)

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Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alguns de seus aliados mais próximos reforçam o discurso de que o mercado financeiro é o grande responsável pela disparada do dólar nas últimas semanas, a maioria dos brasileiros aponta que foram as decisões do próprio governo federal que levaram ao movimento do câmbio, assim como o descontrole das contas públicas.

É o que mostra uma pesquisa da consultoria de negócios Timelens, com base em citações nas redes sociais e buscas pelo tema nas plataformas digitais nos últimos 30 dias. Foram mapeados 54.873 comentários no YouTube e no X (antigo Twitter) nesse período. 

De acordo com o levantamento, exclusivo para o InfoMoney, mais de um terço do universo pesquisado afirma que as decisões econômicas do atual governo foram o fator que mais contribuiu para a alta do dólar frente ao real (37,2%), com a reação negativa do mercado a propostas como a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil. 

Na sequência, com 26,42% das menções, aparece o descontrole nas contas públicas, com aumento de gastos sem contrapartidas claras – justamente uma das maiores preocupações do mercado e dos economistas em relação à situação brasileira. 

Em terceiro lugar, com 18,19%, foram mencionadas especulações no mercado financeiro, corroborando o discurso de Lula e de parte do governo de que movimentos especulativos serviriam para manipular o câmbio e supostamente desestabilizar a atual gestão. 

Já para 14,16% do público pesquisado, a forte alta da moeda americana é resultado da disseminação de notícias falsas (“fake news”) – como as declarações falsamente atribuídas ao diretor de Política Monetária do BC e futuro presidente da autarquia, Gabriel Galípolo.  

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Também foram citados, na pesquisa, a atuação do Congresso Nacional (1,81%); a taxa básica de juros praticada pelo Banco Central (0,99%); fatores internacionais (0,49%); as notícias sobre o estado de saúde de Lula (0,41%); e declarações do presidente da República (0,33%). 

“Os dados mostram que os brasileiros ainda não chegaram a um consenso sobre quem é o verdadeiro culpado pela alta do dólar: seria o Banco Central, o governo, ou o mercado? O debate segue acalorado”, comenta o sócio e diretor de dados e Analytics na Timelens, Renato Dolci

“Decisões econômicas e o descontrole nas contas públicas dominam o debate sobre a alta do dólar nas redes sociais, somando juntos mais de 60% das menções sobre o tema”, explica Dolci. 

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“Esses fatores refletem a grande preocupação dos brasileiros com a gestão fiscal e a instabilidade econômica, que têm gerado desconfiança e incertezas no mercado.”

Veja os números:

Decisões econômicas37,20%
Descontrole nas contas públicas26,42%
Especulações no mercado financeiro18,19%
Disseminação de “fake news”14,16%
Atuação do Congresso e Senado1,81%
Juros altos do Banco Central0,99%
Fatores internacionais0,49%
Notícias sobre a saúde do presidente0,41%
Declarações do presidente Lula0,33%

Dólar

Na quinta-feira (19), o dólar à vista fechou em forte baixa, a R$ 6,12, após atingir o patamar de R$ 6,30, em uma sessão marcada pela forte volatilidade. O avanço do pacote fiscal no Congresso, com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com as principais medidas de corte de gastos na Câmara, influenciou positivamente o câmbio. Mais tarde, o texto também seria aprovado em dois turnos no Senado. 

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O BC realizou dois leilões cambiais pela manhã, que também ajudaram a conter a moeda americana. Logo na abertura, a autarquia já havia vendido US$ 3 bilhões à vista em leilão anunciado na véspera.

Com as vendas de quinta-feira, o BC totaliza mais de US$ 20,75 bilhões vendidos desde a semana passada, em uma série de intervenções no câmbio que incluíram leilões à vista e leilões de linha (dólares com compromisso de recompra).

Campos Neto e Galípolo

Mais cedo, também na quinta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, concedeu entrevista coletiva ao lado de Gabriel Galípolo, que será seu sucessor. Em suas falas, o atual mandatário do BC refutou a possibilidade de estabelecimento de preço para o dólar e garantiu que a intervenção acontecerá apenas quando necessário. 

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Galípolo, por sua vez, afirmou que a ideia de um ataque especulativo contra o real como movimento coordenado não explica bem a situação do câmbio neste momento. 

“Eu acho que não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias”, explicou Galípolo, indicado por Lula para a presidência do BC. 

“Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores. Eu acho que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem”, concluiu o futuro presidente do BC. 

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”