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SÃO PAULO – Apreensiva mas, ainda assim, esperançosa. Essa é a visão que a ex-diretora da área de desestatização do BNDES no governo FHC, Elena Landau, tem sobre o Brasil em 2019, após uma eleição que tem tudo para ser uma das mais complicadas da história recente brasileira. Recentemente, Elena assumiu um novo desafio: após deixar o PSDB no fim do ano passado, ela agora está na presidência do Livres, movimento suprapartidário que defende a liberdade econômica e nos costumes.
De qualquer forma, a economista e advogada, apoia um candidato do ninho tucano: Geraldo Alckmin. “Gosto muito do programa econômico dele, ele tem o melhor assessor econômico de todos e confio na sua experiência”, avalia, ao justificar a escolha pelo ex-governador de São Paulo.
Enquanto a eleição não chega, ela mostra grande apreensão sobre um possível segundo turno entre o PT e Jair Bolsonaro, este último alguém que considera muito parecido com a ex-presidente Dilma Rousseff. Sobre a petista, Elena ainda aponta: ela não deveria ter sofrido impeachment, pois o processo a deixou como vítima, ao invés de responder pelos milhões de desempregados.
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Elena Landau estará no 5º Fórum Liberdade e Democracia transmitido nesta segunda-feira (27) pela IMTV , participando do painel “Perspectivas para o Brasil” durante a tarde com o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e o CEO do Credit Suisse Brasil José Olympio Pereira.
Confira a entrevista de Elena Landau ao InfoMoney.
InfoMoney – Você é agora presidente do Livres, que defende uma liberdade total tanto na economia quanto nos costumes. Contudo, vemos que no Brasil há uma mentalidade muito arraigada de que os políticos têm que resolver aos nossos problemas, além de avanços em pautas conservadoras. Qual é a demanda que você vê do eleitorado por candidatos que sejam liberais por completo, como é a proposta do Livres?
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Elena Landau – Em primeiro lugar, nós não podemos basear um movimento de princípios como o nosso em agradar o eleitorado, tem que ter a defesa do que acreditamos, do que achamos que faz sentido como sociedade. O apelo do Livres é exatamente que ele consegue juntar essas duas pautas. O liberalismo esteve muito na moda depois do fracasso do governo Dilma, virou uma onda liberal. Mas, quando se vai aos detalhes, é onde o diabo aparece. Na realidade, muitos só se dizem liberais porque querem mais privatização, menos estado e o liberalismo é muito mais do que isso. Eu não vejo nenhum candidato que seja 100% liberal, em costumes e política econômica.
Então há os mais liberais em relação à economia como o João Amoêdo, o próprio programa do Alckmin porque foi o Persio Arida que assumiu, enquanto o Bolsonaro é muito menos, ele tem uma história intervencionista, mas está usando essa bandeira liberal. O problema da eleição é que pouco se fala das pautas progressistas. Existe um mito de que os partidos de esquerda estão preocupados com a pauta progressista mas, de fato, até agora na campanha, a pauta progressista não apareceu.
IM – Em quais partidos vocês têm candidatos?
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EL – Estávamos no PSL mas, como saímos por total incompatibilidade com o Bolsonaro, desistimos de ficar em um partido, mas decidimos lançar candidaturas dentro de um espectro de legendas, que mantivessem a viabilidade política dos candidatos. Nós temos muita gente no PPS que, apesar do S [de Socialista], tem mostrado muita vontade de mudança, de reestruturação e tem mostrado bastante abertura e liberalismo na economia, tem no Novo, no Rede, no Podemos, no PSDB, no DEM.
Temos um espectro, mas certamente não temos nomes no PT, no PSOL, no PDT, no PSL de Bolsonaro… Tomamos a decisão também de não virarmos um partido, porque a experiência que temos no Brasil é de total impossibilidade de quebrar o sistema político. Não se consegue fazer um partido a menos que se tenha muito dinheiro para fazer, são enormes barreiras para a renovação. A legislação brasileira é completamente adversa para renovação, é muito caro e é um sistema político que se retroalimenta, tem tempo de televisão, fundo partidário, então é muito difícil. Nesse sentido, é necessária uma reforma urgente, não adianta só ter cláusula de barreira e ao mesmo tempo não se dar igualdade de condições mínimas.
Estamos gostando dessa ideia de ser suprapartidário porque muita gente que quer participar ativamente, seja financeiramente, seja trabalhando como voluntário, tinha essas restrições por ser partido, as pessoas estão com muito pé atrás.
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IM – O Livres também tem um discurso voltado à renovação política, mas toda a reforma que foi feita no sistema acabou sendo para favorecer quem já está dentro do sistema. Qual é a perspectiva que você vê de renovação?
EL – Não gosto desse discurso de renovação de “troca tudo”. Temos muitos bons parlamentares no meio de parlamentares ruins e esses bons precisam de apoio. A maneira de fazer renovação terá que ser um misto de renovação no sentido de nomes novos que vão entrando, independentemente do partido, e também de dentro para fora, tem que ter uma atuação da sociedade em fazer cobrança. Nosso objetivo no Livres é fazer acompanhamento de parlamentares para fortalecer a ideia de bancadas da liberdade.
Não sou analista política no detalhe, mas todos acham que o Congresso vai ficar muito parecido com o que já temos e que a chance de novos nomes entrar é muito pequena. Mas vamos continuar insistindo, há uma demanda muito forte na sociedade por novas pessoas, novas atitudes.
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IM- Você defende a eleição de Geraldo Alckmin, que é visto como um político tradicional e isso é um grande passivo para a campanha do tucano…
EL – Alckmin é sim um político tradicional e a opção por ele se dá dentro do espectro que nós temos de candidatos à presidência da República. Claro, ele não é o candidato 100% da pauta do Livres. Mas nenhum dos candidatos significa renovação de verdade, porque eu não posso achar que o Bolsonaro é uma renovação. Não gosto também da atitude do Partido Novo de renova tudo, toda a política que está aí, não é uma atitude correta dentro do sistema político.
Precisamos de um presidente com passagem administrativa, estamos com uma crise profunda na economia e não dá para brincar nesse momento. O Brasil está com a possibilidade de ter no segundo turno a volta do PT, que seria um desastre para a economia brasileira e até para a democracia, e o Bolsonaro, que até dispensa comentários sobre o que ele significa para o Brasil.
A minha opção sobre o Alckmin é até bastante pragmática. Sei que ele não representa renovação, assim como a Marina não representa renovação. Ela também é uma possibilidade de voto útil – mas ele é melhor administrador que a Marina, tem mais experiência que a ex-senadora, então é por isso. Gosto muito do programa econômico dele, ele tem o melhor assessor econômico de todos e confio na experiência dele. Uma pessoa que administrou o estado de São Paulo durante 20 anos, que conseguiu sobreviver à crise da Dilma, tem superávit primário, derrubou os indicadores de homicídio, tem ótimas rodovias, estou indo nessa experiência.
IM – Já vi algumas declarações suas falando que era contra o impeachment da Dilma Rousseff, não por achar que era um golpe, mas que não seria educativo para eleitor. O cenário atual, com Lula na liderança das pesquisas e só ganhando força, reforçou a sua percepção?
EL – O cenário atual só comprova a minha tese. O impeachment deixou a Dilma como vítima, o [então presidente do STF, Ricardo] Lewandowski fez uma interpretação inexistente da Constituição, e nós temos uma presidente impedida que está concorrendo ao Senado e liderando as pesquisas, quando essa pessoa jogou 14 milhões de pessoas no desemprego e gerou a maior recessão da história do País.
Saiu fácil para Dilma em meio a todos os desastres pelos quais ela é responsável na economia brasileira e para o Lula por ter colocado ela. Todo mundo sabia que a Dilma era incompetente, que não tinha aptidão para a política, que desprezou o Congresso Nacional, então ela tinha que ir até o fim [do mandato]. Na parte de economia, claramente, ela tinha que encerrar o ciclo de intervencionismo, de desperdício de recursos públicos e ela estar hoje respondendo pelos 14 milhões de desempregados. É muito fácil para o PT agora dizer que a culpa é do Temer, sendo que a culpa é do PT, a política econômica que nos levou aonde estamos agora é do PT. O Temer – não tenho nenhum apreço por ele e não votei nele porque não votei na Dilma, quem votou no Temer foram os petistas -, tentou no primeiro ano fazer reformas e avançou em algumas. O Temer tem uma das melhores equipes econômicas que o Brasil já teve, diria a melhor desde o Plano Real, uma ilha de qualidade num governo que não existe mais e que está mantendo o País andando. A Dilma teria que estar respondendo aos problemas neste momento, porque agora parece que o Lula vai resolver o problema do Brasil quando foi ele que nos jogou nesse problema.
Em segundo lugar, teve a questão política, banaliza a questão do impeachment. Passa para a população, principalmente quando o impeachment é por crime de responsabilidade fiscal e não por corrupção a população acha: ”qual o problema se a pessoa gastou demais?” Ela não entende a gravidade dessa situação. Ficou uma sensação de que, se você não gostou do presidente, você tira. Na realidade, o Brasil devia ter o parlamentarismo. Eu sou parlamentarista por causa disso. Ou você é parlamentarista ou tem mais cuidado com o uso do impeachment do ponto de vista institucional. Mas nem todo mundo concordava comigo. De qualquer forma,estamos num cenário que confirma isso.
IM – O que deu errado, a crise econômica foi subestimada, foi o escândalo de corrupção de Temer com o Joesley Batista?
EL – A crise pode ter sido subestimada, ou o cenário internacional foi pior, nós caímos de 3% para 1% a capacidade de crescimento do PIB em 2018. Mas claramente teve uma crise de governabilidade com as denúncias do Joesley, levando à falta de capacidade e de credibilidade do Temer, fazendo com que o Brasil perdesse a capacidade de recuperação. Por isso é muito importante que o próximo presidente tenha possibilidade de rapidamente retomar a confiança do empresariado e coordenação com o Congresso Nacional para impor as reformas. Quando o Temer entrou, as pessoas tinham confiança nele, com o Ponte para o Futuro, deu uma certa retomada da confiança dos empresários e dos consumidores.
A mesma retomada foi perdida com as denúncias. O Temer poderia ter passado a reforma da previdência se não fosse o áudio do Joesley Batista saindo exatamente na semana que saiu. São coincidências que acontecem nesse país. Poderia até ter feito a reforma da previdência, tinha credibilidade para isso na hora. Talvez tenha sido um pouco de cada coisa, subestimação da gravidade da crise, dificuldade da retomada do emprego, que seria uma questão mais estruturalmente arraigada, mas boa parte do que a gente está vendo é falta de credibilidade, falta de confiança do investidor.
IM – O próximo governante terá força para passar as reformas impopulares? O Congresso é o mesmo, vários candidatos estão buscando se dissociar das medidas impopulares, muitas delas associadas ao governo Temer.
EL – A história brasileira mostra que, quando os governantes começam seus governos, possuem muita credibilidade. O [Fernando] Collor fez o confisco da poupança, usou a credibilidade para uma péssima política. O Itamar Franco colocou o FHC para conduzir o plano real. O Temer começou o governo dele e quase passou a reforma da previdência.
Quero ser otimista de que seja possível fazer isso, senão não tem muita opção, o País vai escolher inflação, dívida. O Congresso acaba se reorganizando, mas tem que saber usar os primeiros seis meses, tem que estar pronto, com as propostas muito bem detalhadas e definidas do que fazer, prioridades para apresentar já na transição. O governo FHC fez uma transição com o Lula que ajudou muito em 2003 e espero que a equipe econômica do Temer ajude na transição do próximo governo.
A gente sabe que tem que ter a reforma da previdência, reforma tributária, do estado, privatização, reformas duras, muito duras para quem está acostumado com o populismo. Não é à toa que as mensagens populistas agradem mais. Parece fácil, mas o custo é muito grande.
IM – Você critica o Bolsonaro e relembra vídeos antigos dele, em que ele se mostrava estatista. Contudo, hoje, ele tem por trás no seu plano de governo Paulo Guedes, que é o assessor econômico, digamos, mais radical em temas liberais, principalmente quando fala de privatizações, que é um tema que é bastante importante para você. Acredita na sinceridade da mudança de visão do Bolsonaro?
EL – Não, não acredito na mudança do Bolsonaro. O Bolsonaro já disse que não privatiza o Banco do Brasil… sequer a Eletrobras! O Alckmin, por exemplo, é mais privatista que o Bolsonaro. O Paulo Guedes tem um programa que não está detalhado, não tem experiência, nunca deu nenhuma contribuição em política econômica efetiva, dar ideias soltas não quer dizer que você consiga fazer um bom governo.
A parte de privatização do Bolsonaro é muito ruim, são números que ninguém consegue explicar, falam em gerar R$ 1 trilhão, ninguém sabe da onde isso sai, as estatais brasileiras de capital aberto valem hoje um total de R$ 490 bilhões, só que a participação do governo nessas estatais é metade disso, ainda que coloque um upside enorme não vai chegar a R$ 700 bilhões. As outras empresas de capital fechado, muitas delas têm patrimônio negativo, várias que têm patrimônio positivo não têm valor de mercado porque, trazendo para o presente, o valor é negativo.
É uma “bala de prata” para fingir que é liberal, diz que vai privatizar tudo e não vai, diz que vai arrecadar R$ 1 trilhão e não vai conseguir e que com esse R$ 1 trilhão vai resolver todos os problemas da economia brasileira. É um novo Collor, que tem uma bala de prata. E mesmo assim, o Bolsonaro não é liberal. É só ver as votações recentes dele. Nunca foi e nunca será porque militarismo não combina com liberalismo.
Além disso, a diferença maior está no candidato, não adianta achar que assessor econômico… a eleição não é para assessor econômico e os motivos pelos quais o Bolsonaro está na frente são os piores possíveis, não é por conta da defesa do liberalismo.
IM – Você falou em novo Collor, mas você também costuma associar o Bolsonaro à Dilma…
EL – Ele é um “novo Collor” no sentido da bala de prata. Mas dada a total inaptidão dele para política, a falta de conhecimento dos assuntos e a arrogância, é igualzinho à Dilma. A única diferença entre ele e a Dilma é porque, como ele passou a vida inteira no Congresso Nacional sem fazer nada de relevante, mas dentro do Congresso, sabe que não pode desprezá-lo. É a única diferença que ele tem com a Dilma. O resto é igual, o despreparo é gritantemente igual ao da Dilma.
IM – Os candidatos moderados estão atualmente em baixa. Para você, o que falta para eles começarem a despontar?
EL – Infelizmente estão em baixa – e a tendência ao populismo é muito grande. Os candidatos moderados são mais honestos nas ideias, eles não saem falando qualquer besteira, têm compromisso com o dia seguinte e não fazem estelionato eleitoral. O Bolsonaro e o Lula não estão preocupados com o estelionato eleitoral, falam qualquer coisa, é um discurso populista.
O Ciro quando perdeu o apoio do PT, entrou nessa também. Já era meio assim, agora foi para a conversinha fácil, vender sonhos, numa política velha de usar a tragédia da população, que é o desemprego, o endividamento criado pelo PT, que foi a Dilma que incentivou que copiassem o modelo econômico dela e se endividassem além do que podiam. A Dilma passou para a sociedade a noção de não se preocupar com o amanhã, deixar todo mundo endividado agora.
Os partidos de centro estão com risco de fazer na eleição presidencial o que fizeram no Rio de Janeiro. Ficar com 1%, 2% dos votos ao invés de se juntarem, nesse âmbito não faz sentido nenhum a campanha do Alvaro Dias, João Amoêdo e Henrique Meirelles. Claro que faz sentido para eles, que têm todo direito de concorrer. Mas, do ponto de vista de ganhar uma eleição, de impedir o pior, os moderados deveriam se juntar. Quem tem mais chance de barrar o Bolsonaro e o PT são Marina e Alckmin. Não tem outra opção.
IM –Você tem mostrado grande descrença com as instituições. Elas não estão funcionando?
EL – Eu acho que as instituições não estão funcionando. Exemplo: Tribunal de Contas: desastre, com corrupção em todas as esferas. O Ministério Público tem lobby contra a previdência, quando é o momento eles deixam de ser o guardião da defesa da moral, da equidade e vão defender os proventos deles. No Judiciário, é igual. Ativismo jurídico muito grande, decisão que se sabe que não tem muito sentido, como a decisão do Lewandowski sobre a privatização ou decisões do STF de aumentar seu próprio salário. Enquanto isso o Congresso Nacional tem pauta-bomba, dá aumento para os servidores, bloqueia uma série de iniciativas, faz chantagem com o presidente da República.
E o Executivo nem se fala. Você ouviu falar do governo Temer nos últimos tempos? Não sabemos nem que existe. O Executivo se resume à equipe econômica: é o Eduardo Guardia [ministro da Fazenda], o [ministro do Planejamento] Esteves Colnago e seus funcionários, além do Banco Central, que estão segurando heroicamente o País. As instituições estão muito fragilizadas. Os pesos e contrapesos dos Três Poderes, não funcionam, está cada um por si, não é a forma da democracia funcionar.
Isso é grave, por isso que eu estou na esperança que essa eleição traga um líder de centro, moderado e democrático que possa reunir o Brasil, coisa que eu não vejo com os extremos.
IM – Num balanço de tudo o que foi dito, você está otimista ou pessimista com o Brasil em 2019?
EL – A minha visão é mais pessimista e muito apreensiva. Vamos esperar que a televisão e os debates possam fazer surgir uma possibilidade de um governo democrático ponderado e reformista. De qualquer forma, a gente não pode desistir, estou num movimento suprapartidário, não vou desistir nunca. Mas estou apreensiva.
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