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Duas agendas internacionais de integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com desfechos distintos, roubaram a atenção de agentes econômicos na semana passada, às vésperas do segundo turno das eleições municipais.
De um lado, a visita do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e sua equipe a Washington (EUA), para o encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi marcada por olhares céticos de investidores sobre os caminhos da agenda fiscal (e parafiscal) da atual administração, a despeito de uma percepção favorável sobre os indicadores de atividade econômica no País.
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Segundo relatos, a avaliação predominante foi de que os gringos até acreditam em medidas de contenção de gastos por parte do governo, mas esperam por sinais mais claros sobre sua execução e magnitude antes de assumirem posições ─ embora também haja o entendimento de certo exagero no pessimismo do investidor local nos preços.
“O gringo ainda está à espera de medidas fiscais. Ele está disposto a dar um voto de confiança no Brasil, mas precisa de algum sinal, que pode ser menor do que o esperado pelo mercado doméstico”, observou uma fonte com acesso ao mercado internacional e que acompanhou de perto a repercussão da agenda.
“O mercado brasileiro está muito pessimista, e o gringo precisa de alguma coisa para poder entrar mais forte aqui. Do jeito que está, não vai vir ninguém”, avalia.
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Outra fonte disse que investidores estrangeiros têm dúvidas sobre a efetividade das medidas de corte de despesas recentemente anunciadas e demonstram preocupação com a possibilidade de aumento de gastos fora dos limites do novo marco fiscal.
“A maioria dos investidores espera que o governo mobilize esforços para reduzir a pressão sobre gastos em resposta à deterioração do mercado, mas com pouco progresso em termos estruturais”, disse.
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Do outro lado do Atlântico, em Madri (Espanha) e Londres (Inglaterra), a comitiva do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), buscava atrair interessados na carteira de projetos de infraestrutura um mês após o grupo francês Vinci Highways arrematar o leilão da Rota dos Cristais, que liga Belo Horizonte (MG) a Cristalina (GO).
E recebeu sinais concretos de interesse de novos operadores nos próximos certames. A aposta da atual administração é que uma agenda robusta de leilões poderá aguçar o apetite de investidores estrangeiros em um momento de liquidez favorável e taxas de retorno interessantes nos projetos brasileiros em comparação com pares internacionais.
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Foram mais de dez reuniões bilaterais e apresentações com dezenas de grandes fundos de investimento e operadores de infraestrutura globais. E algumas instituições, como o HSBC, teriam indicado intenção de retomar investimentos no País, segundo interlocutores do Ministério dos Transportes.
O InfoMoney procurou o HSBC, mas não recebeu retorno até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação da instituição.
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“A percepção é que os investidores e operadores estão muito animados com o Brasil”, disse o secretário-executivo da pasta, George Santoro, em entrevista ao InfoMoney. Ele contou que, sete meses atrás, em outra agenda na Espanha, havia uma desconfiança maior dos agentes à carteira de projetos e insegurança sobre o processo de otimização de contratos em situação de desequilíbrio.
O governo comemorou, em setembro, a primeira repactuação celebrada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que envolveu o contrato de concessão da Eco101, atualmente controlada pelo grupo EcoRodovias. A expectativa do Ministério dos Transportes é que pelo menos 10 acordos de otimização sejam feitos até o primeiro semestre de 2025 ─ o que ajudará a destravar novos investimentos em rodovias.
“Agora, essas coisas se materializaram. A carteira é real e está acontecendo, e, quanto à otimização, o TCU, já julgou o primeiro processo. Os relatos que ouvimos são os melhores possíveis. São de que o Brasil volta a deixar claro seu compromisso em resolver problemas históricos dos contratos de concessão. Um compromisso firme de manter essa agenda de concessões, de chamar o setor privado para participar”, disse Santoro.
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“[Os agentes do mercado] Estão olhando os projetos. Alguns investidores e operadores apresentaram de forma bem clara que vão participar dos leilões. A volta de algumas empresas ao Brasil é muito positiva”, prosseguiu.
Para Santoro, os desenhos e modelagens dos novos contratos, a participação efetiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos projetos e a introdução de instrumentos no mercado como as debêntures de infraestrutura ou mesmo o mecanismo de Project Finance Non Recourse (modelo em que as garantias oferecidas advêm de receitas geradas no próprio projeto, reduzindo a pressão sobre o caixa dos operadores) despertaram interesse dos investidores estrangeiros.
Desde o ano passado, o governo tem buscado ampliar o grupo de participantes em projetos de infraestrutura. O que no passado se restringia a empreiteiras ou mais recentemente a concessionárias especializadas na prestação dos serviços agora também atrai agentes do mercado financeiro, como fundos de investimentos.
“A mudança da modelagem econômica, trazendo mais próximo da realidade da bancabilidade do projeto, faz com que o mercado financeiro fique atraído não só para financiar, mas para participar do projeto”, explicou o secretário.
“Há toda uma cadeia para participar de um projeto de infraestrutura como o que estamos colocando. São investidores com interesse em debêntures, em fazer equity, cartas de fiança bancária, seguros”, disse.
“Esse conjunto de atores está interessado em diversos produtos que são agregados a um projeto. Acredito que há espaço para todo tipo de ator. Isso é muito importante, porque melhora a atratividade dos projetos e gera cada vez mais competitividade, além de diminuir o risco de todo o sistema de concessões rodoviárias”, avaliou.
O governo tem uma meta ousada de realizar 35 leilões de rodovias até o fim do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para este ano, o objetivo inicial de 13 certames agora está em 9 ─ marca ainda desafiadora, considerando que apenas 3 foram saíram do papel até o momento ─ e o restante deve se arrastar para o início de 2025.
Mesmo assim, o ministro Renan Filho costuma destacar que os números representam um salto em comparação com gestões anteriores. E, para dar vazão a um pipeline mais arrojado, a estratégia é justamente ampliar a base de atores interessados ─ tarefa ainda mais importante em um ambiente de taxa de juros elevada, que em tese reduz o apetite do investidor doméstico nesses projetos.
“Quando temos projetos que sabemos que são bons, nós nos deparamos com outro problema: tínhamos um mercado pequeno no Brasil, porque havia um ou dois projetos por ano. Eu vou atrair quantos players? Um, dois, três, que já estavam aqui no mercado. Agora, quando eu coloco, como ouvi aqui, a maior carteira de projetos de concessão do mundo, todo mundo olha para o Brasil”, disse Santoro.
“Quando colocamos um projeto por ano, não atraímos essa atenção. Quando colocamos muitos projetos, o sujeito sabe que vai perder aqui, mas pode ganhar outro leilão. Então, abrimos a oportunidade para players de fora entrarem no mercado. Para se instalar aqui, ele (o estrangeiro) precisa de parceiros locais, entender a estrutura de funcionamento. Mas montar uma estrutura dessa para um projeto por ano não faz sentido”, prosseguiu.
Ele conta que outra estratégia foi trazer com ênfase a pauta da sustentabilidade e da transição climática para os projetos, o que ajuda a atrair dinheiro novo para o Brasil. “Nós trazemos um olhar para quem está acostumado e tem regras de governança que exigem projetos assim”, afirmou.
Questionado sobre a desconfiança dos investidores com a agenda fiscal, que marcou em parte a agenda da equipe econômica do governo em Washington, Santoro disse que essa não tem sido a maior preocupação de quem quer operar infraestrutura no Brasil.
“Temos dois lados. De um deles, tem o investidor que olha para a infraestrutura e está acompanhando o longo prazo. É claro que, quando ele financia e usa o mercado de títulos financeiros, bonds, ele olha mais o curto prazo também. [Mas] Como você tem bons projetos, com boas taxas de retorno, isso mitiga muito a insegurança em relação à agenda fiscal”, observou.
“A preocupação é com o projeto, com as condições, as regras. Então, não estão olhando muito para essa agenda [fiscal]. É claro que nos eventos sempre há perguntas em relação ao que a gente acha que vai acontecer e como está. Mas acredito que, quando o projeto está muito bem modelado, o investidor coloca essa taxa de risco de aumento da taxa de juros. E aí ele faz a conta dele: se o projeto está com folga, ele vai. Se não tiver folga, ele não vai”, prosseguiu.
“Por enquanto, está com folga e dando conforto. Mas é sempre importante a agenda fiscal para podermos ter a possibilidade das taxas de juros voltarem a cair no Brasil, e, com isso, ter o cenário ainda mais promissor para os projetos de investimento”, concluiu.