Decisão que derrubou X no país emula polarização entre Lula e Bolsonaro, diz pesquisa

Levantamento AtlasIntel mostra que 50,9% dos brasileiros discordam da decisão de Alexandre de Moraes, referendada pela Primeira Turma; outros 48,1% são a favor

Marcos Mortari

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A suspensão da rede social X (antigo Twitter) do Brasil, decidida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e posteriormente referendada por unanimidade pelos integrantes da Primeira Turma da Corte, é mais um tema que emula o ambiente de polarização política do País.

É o que mostra pesquisa feita pela AtlasIntel entre os dias 3 e 4 de setembro com 1.617 respondentes de todo o Brasil.

Segundo o levantamento, uma leve maioria numérica dos eleitores, equivalente a 50,9% da amostra, disse discordar da decisão de Alexandre de Moraes. Enquanto 48,1% apoiam a posição monocrática que foi posteriormente referendada pelo colegiado.

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Considerando a margem máxima de erro de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo da pesquisa, os dois grupos estão em situação de empate técnico (já que o primeiro poderia ter, no mínimo, 40,9% e o segundo, no máximo, 50,1%).

Nos dados segmentados, o impacto da polarização política do país no assunto fica evidente. Segundo a pesquisa, 95,5% daqueles que dizem ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discordam da decisão. Ao passo que 92% dos eleitores que apoiaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 são favoráveis.

De acordo com a pesquisa AtlasIntel, no entanto, a maioria dos eleitores (56,5%) concorda que a decisão de Alexandre de Moraes teve principalmente uma motivação política, superando aqueles que viram motivação técnica (41,7%).

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Mesmo assim, 49,7% dos eleitores ouvidos pela pesquisa dizem que Alexandre de Moraes está certo, enquanto 43,9% apontam o empresário Elon Musk, dono da rede social X. Outros 5,4% responderam que nenhum dois.

Questionados sobre a conduta de Musk, 48,9% afirmaram que o bilionário deveria ter cumprido as decisões judiciais de remoção de conteúdos e de perfis de usuários da plataforma. Outros 37,6% dizem que ele não deveria ter cumprido nada, enquanto 9,9% acham que ele deveria ter atendido apenas as decisões relacionadas a conteúdos.

Já quando o assunto é o bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros da empresa Starlink no país, a visão majoritária (55,1%) é de que a decisão judicial é abusiva. A diferença é de 11,1 pontos percentuais em relação aos que veem a decisão como justificada (44%), conforme mostra a pesquisa.

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A discordância é ainda maior em relação à decisão de Moraes de multar em R$ 50 mil qualquer usuário do X que busque acessar a plataforma através de uma VPN. Segundo o levantamento, 64,5% são contrários, enquanto 34,7% são favoráveis.

Para 54,4% dos eleitores, as decisões do STF sobre o X contribuem para enfraquecer a democracia no Brasil, ao passo que 44,9% entendem que elas fortalecem a democracia.

Segundo a pesquisa AtlasIntel, 46,6% dos entrevistados confiam no Supremo, enquanto 49,7% têm a posição oposta. Os números estão em linha com flutuações observadas na série histórica desta pergunta feita desde janeiro de 2023 pelo instituto.

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Em relação à imagem de cada um dos 11 ministros da Corte, Moraes empata com Cármen Lúcia entre aqueles com mais respostas positivas (47%), mas os dois ocupam a quarta posição e imagem negativa (52%) − atrás dos colegas Gilmar Mendes (59%), Dias Toffoli (55%) e Kássio Nunes Marques (54%).

Como é feita a pesquisa?

O levantamento foi feito pela internet, com os entrevistados sendo recrutados organicamente durante a navegação de rotina na web.

Esse tipo de pesquisa costuma ser mais acessível em termos de preço comparado a levantamentos face a face ou mesmo por telefone, mas há controvérsia na academia sobre o risco de possível “viés de seleção” dos entrevistados.

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Por outro lado, a AtlasIntel argumenta que tal modelo, em comparação com pesquisas presenciais domiciliares ou em pontos de fluxo, “evita o eventual impacto psicológico da interação humana sobre o respondente” e favorece a coleta de respostas mais fidedignas.

Já em comparação com o modelo telefônico, o instituto diz que os levantamentos pela internet permitem “um mapeamento granular de padrões de não resposta, de modo que os vieses decorrentes de taxas variáveis de não resposta possam ser adequadamente tratados durante o processo de construção de cada amostra”.

Para garantir a representatividade em nível nacional, a AtlasIntel diz que suas amostras são submetidas ao procedimento de pós-estratificação com auxílio de um algoritmo interativo em um conjunto mínimo de variáveis de destino: sexo, faixa etária, nível educacional, nível de renda, região e comportamento eleitoral anterior.

A pesquisa ouviu 1.617 eleitores de todas as regiões do país e seu nível de confiança é de 95% − o que significa dizer que, se o mesmo levantamento tivesse sido feito mais de uma vez sob condições idênticas, esta seria a probabilidade de os resultados se repetirem dentro da margem de erro, que foi estimada em 2 pontos percentuais.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.