Datena: “Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso?”

A 4 dias da convenção do PSDB que pretende definir a candidatura do partido à prefeitura de São Paulo (SP), José Luiz Datena reclama de "fogo amigo" tucano e ameaça novamente desistir da disputa eleitoral

Fábio Matos

José Luiz Datena se filiou ao PSDB para disputar as eleições de 2024 (Foto: Divulgação)
José Luiz Datena se filiou ao PSDB para disputar as eleições de 2024 (Foto: Divulgação)

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A 4 dias da convenção do PSDB que pretende sacramentar o nome do candidato do partido à prefeitura de São Paulo (SP) nas eleições de outubro deste ano, o ex-apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena voltou a colocar em dúvida a decisão de disputar a corrida eleitoral na maior cidade do Brasil.

Pré-candidato tucano à sucessão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputará a reeleição, Datena comparou a sua situação no PSDB à do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, do Partido Democrata, que desistiu de ser candidato ao segundo mandato, em comunicado divulgado no último domingo (21).

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Em eleições anteriores, para diversos cargos, Datena chegou a afirmar que seria candidato, mas acabou desistindo na última hora. Em 2020, ele esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

Na reta final, Datena recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O jornalista já passou por 11 partidos em sua trajetória política. Antes de trocar o PSB pelo PSDB, Datena já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil e PSC – em uma verdadeira “montanha-russa” partidária.

“Até eu desconfio [da própria candidatura a prefeito]. Se continuar essa sacanagem de que o partido está conversando com outras pessoas para colocar dentro do partido sem me avisar, eu não vou ser candidato. Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso? Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo”, disse Datena, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

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“Quem foi atrás de cargo, emenda, dinheiro, esses já foram [embora do PSDB], mas deixaram alguns ali dentro para atrapalhar minha candidatura, inclusive a convenção. Tenho confiança na executiva nacional, no Marconi [Perillo], no Aécio [Neves], apesar de termos tido discussões lá atrás, e no José Aníbal. Mas os principais tiros que levei foram de dentro do partido”, prosseguiu Datena, reclamando do chamado “fogo amigo” tucano.

“Por exemplo, foi um cara falar sobre trânsito na Rádio CBN me representando e disse: ‘O Datena está errado’ [ao se opor a mais radares de velocidade na cidade de São Paulo]. Por que eu sou contra radar? Isso não é com o objetivo de educar o povo e reduzir acidentes. Se o partido quiser que eu seja candidato, ele que demonstre. Você viu a convenção do Lula?”, indagou o pré-candidato do PSDB, referindo-se à convenção do PSOL que confirmou a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos à prefeitura, com o apoio do PT e a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Era a convenção do Lula, depois da Marta [Suplicy], depois do Boulos. A do Ricardo Nunes vai ser do [Jair] Bolsonaro, depois do Tarcísio [de Freitas], depois dele”, afirmou Datena.

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“O Ricardo Nunes parece uma marionete do Bolsonaro e do Tarcísio. O Boulos, a mesma coisa. Não é possível essa polarização continuar. Eu gostaria de ter uma convenção igual à deles. Vai ser tudo por aclamação. Não foi lá? O maior festão.”

Questionado se pretendia ser aclamado na convenção do PSDB, marcada para sábado (27), Datena disse esperar “ser aclamado pelo voto do povo” em outubro. “Está tudo certo morrer com um tiro no peito vindo do PCC ou de quem quer que seja, porque não vou usar colete à prova de balas. Mas morrer com um tiro nas costas dentro do partido? Não precisa me aclamar, mas também não precisa atirar pelas costas”, criticou o ex-apresentador.

“É só ver. Boa parte do partido debandou para o Ricardo Nunes. Dinheiro e cargo. Há alguns dias trocaram a federação [PSDB-Cidadania] inteira de São Paulo. Eu fiquei sabendo depois. Mesmo assim, continuaram essas críticas idiotas, que só podem vir do intestino do partido”, afirmou Datena.

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Na entrevista, o jornalista garantiu que, de 0 a 10, sua vontade de ser candidato à prefeitura de São Paulo é 10. Mesmo assim, não assegurou que disputará o pleito. “Se sábado eu sentir que os caras vão me encher o saco na convenção, eu não vou. Acabou. Essas convenções vão ser por aclamação e com gente pesada. Se a nossa for porrada para todo lado, no que vai me ajudar?”, questionou.

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Após a definição das candidaturas, os partidos políticos terão até o dia 15 de agosto para solicitar à Justiça Eleitoral o registro dos nomes escolhidos. Em tese, mesmo depois da convenção do PSDB, Datena pode desistir da disputa.

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“Acho que a convenção vai homologar meu nome. Já é um princípio básico, inequívoco, de que, realmente, quem está comigo está comigo. E quem não está vai se ferrar porque não vai estar comigo. Deixando transparecer essas trocas repentinas, você demonstra uma fraqueza dentro da sua própria estratégia”, afirmou.

“Eu não sou Deus para fazer o PSDB renascer. Mas não é na base da vaidade que destruiu o partido que esse partido vai voltar a ser o que era”, prosseguiu Datena. “A virtude do homem é fazer o que o Biden fez, quando desistiu de ser candidato: é saber que numa eleição o povo é sempre o mais importante.”

“Se o cara que é o presidente da maior nação econômico-militar do mundo acha que o povo é mais importante do que ele, por que eu não posso achar, se eu não me sentir capacitado a ajudar o povo?”, indagou Datena. “A partir do momento que eu não me sinta respaldado totalmente pelo partido, que haja palhaçada nessa convenção, que tenha manifestações… Num partido dividido do jeito que está o PSDB hoje, e não me sustentando como candidato, não me sinto capaz de resolver nem os problemas do PSDB, quanto mais do eleitorado.”

O jornalista afirmou, ainda, que espera que, até sábado, “o PSDB resolva os seus problemas”. “Que a gente parta para uma convenção de consenso e que as pessoas que estão no PSDB tenham certeza de que o vírus que destruiu o partido foi o da individualidade e o da vaidade”, disse o pré-candidato tucano.

“Você já foi para o Alasca? Lá tem lago gelado, aí você vê se o gelo tem suficiente espessura para atravessá-lo. Eu sabia que o gelo do lago congelado do PSDB era fino, mas não tanto. Isso descobri depois de estar lá dentro”, ironizou.

Vice

O ex-apresentador da Band também foi questionado sobre quem seria o seu vice na chapa, caso não desista da eleição. “Tem bons nomes, tem o José Aníbal, o Zuzinha [Mario Covas Neto], mas eu estou deixando a escolha do vice para o partido, desde que eu concorde”, despistou.

Tabata

Na entrevista, José Luiz Datena também comentou as declarações da deputada federal Tabata Amaral (PSB), também pré-candidata à prefeitura de São Paulo, que rebateu falas do ex-apresentador nas quais dizia que a parlamentar havia pedido para ele deixar o PSB rumo ao PSDB. Na ocasião, Datena atribuiu a Tabata a responsabilidade por ter deixado o partido – em seguida, foi convidado pelos tucanos para ser candidato.

Até então, Datena vinha sendo cotado para ocupar a vaga de candidato a vice na chapa liderada por Tabata. Em abril, apenas 4 meses depois de se filiar ao PSB, o apresentador mudou para o PSDB, em um acordo que supostamente atrairia os tucanos para a chapa da parlamentar.

Com a consolidação do nome de Datena, que tem aparecido à frente de Tabata nas últimas pesquisas, setores do PSDB defendem que o partido tente convencer a deputada a desistir de sua candidatura para ser vice do tucano. Esta possibilidade, no entanto, é rechaçada pela campanha de Tabata e considerada quase nula por dirigentes do PSB.

“Claro que fui eu que escolhi. Ela disse que eu sou suficientemente grandinho para tomar decisões. Ou ela me chamou de gordo, e eu tenho horror a preconceito, porque sou gordinho com muito prazer, ou ela me chamou de velho, e eu tenho honra em ser idoso”, disse Datena.

“Eu disse a ela várias vezes que não queria ir. Ela facilitou minha decisão. Me trocaram por 40 segundos, e eu não sou relógio. Não é arriscado você pegar um ativo importante da sua campanha e botar em outro lugar?”, questionou.

Segurança pública

Datena voltou a elencar a segurança pública como sua grande prioridade caso seja eleito prefeito.

“Minha meta principal é realmente a segurança pública. Tem que investir também em todo tipo de segurança, segurança alimentar, dar mais saúde, mais educação”, afirmou.

“A GCM [Guarda Civil Metropolitana] vai ser supervalorizada, equipada com armas da melhor qualidade. Mas não tem jeito de falar em segurança sem contar com a ajuda do governo do estado e da Justiça. Não pode um traficante pé de chinelo ser pego num dia e no outro dia estar traficando de novo porque foi solto em audiência de custódia.”

Segundo o pré-candidato, o PSDB “está conversando com pessoas notáveis para montar um plano de governo”. “Eu não tenho capacidade nenhuma de fazer um plano de governo voltado à educação, à saúde… Eu não sou super-homem e não tenho poderes para resolver todos os problemas da cidade, mas tem gente que tem”, concluiu.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”