Datena “rompe polarização e fura bolhas”, diz presidente do PSDB de São Paulo

Em entrevista ao InfoMoney, José Aníbal afirma que tucanos não têm “nenhuma dúvida” sobre candidatura do apresentador; sobre Tabata Amaral (PSB) na vice, ex-senador diz que pode acontecer, mas não está no radar

Fábio Matos

José Luiz Datena deixou o PSB após quatro meses e se filiou ao PSDB (Foto: Reprodução/TV Globo)
José Luiz Datena deixou o PSB após quatro meses e se filiou ao PSDB (Foto: Reprodução/TV Globo)

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O ex-deputado federal e ex-senador José Aníbal (SP), presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo (SP), diz que os tucanos estão otimistas em relação à participação do apresentador José Luiz Datena na disputa pela prefeitura da maior cidade do Brasil, no pleito marcado para outubro deste ano.

Segundo Aníbal, não há mais “nenhuma dúvida” quanto à presença de Datena na corrida eleitoral, apesar do temor de setores do partido de que o ex-apresentador do programa Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, desista em cima da hora – repetindo o que já ocorreu em anos anteriores.

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Na semana passada, por determinação da legislação eleitoral, Datena se despediu do programa na Band e pediu à direção do PSDB alguns dias para descansar e se preparar para o pleito. A expectativa da cúpula tucana é de que a pré-campanha à prefeitura de São Paulo comece já na próxima segunda-feira, dia 8.

“Não tem mais nenhuma dúvida. Essas perguntas estão até deixando o Datena um pouco irritado. Tudo bem ter havido esse questionamento até a saída dele da TV, mas agora ele já saiu”, afirmou Aníbal, em entrevista ao InfoMoney. “Agora, no dia 8, vamos começar a pré-campanha para valer. Esses caras (os demais candidatos) estão fazendo campanha há 1 ano. Nós começamos agora.”

A largada do pré-candidato tucano parece promissora, de acordo com a pesquisa divulgada pela Genial/Quaest no último dia 27 de junho. O levantamento mostra Datena com 17% das intenções de voto, já se aproximando do pelotão de frente da corrida eleitoral – formado pelo prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), com 22%, e pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com 21%. Os três estão tecnicamente empatados, segundo o instituto.

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“Há uma diferença muito expressiva do Datena em relação aos demais candidatos. Eu levo o Datena ao Teatro Municipal, ao Viaduto do Chá, e todo mundo ou mais da metade da população vai cumprimentá-lo. Se eu levo o Datena à Praça do Forró, na zona leste, é a mesma coisa. Ou ao Largo 13 de Maio, na zona sul. Tem candidato que ainda está construindo sua candidatura, seu nome, e não teve o grau de exposição que o Datena teve ao longo desses anos todos”, explica Aníbal.

“Isso faz uma diferença enorme, porque as pessoas já o conhecem. Ele não terá de se apresentar para ninguém. E, sobretudo, o Datena é conhecido na periferia, não apenas no centro expandido de São Paulo”, avalia o presidente do diretório paulistano do PSDB.

“Nós tínhamos indicação de que, à medida que o eleitor associasse o Datena à candidatura a prefeito, a tendência era ele subir”, prossegue Aníbal. “Essa associação dele à candidatura mostrou um desempenho significativo na pesquisa. Espero que as próximas pesquisas confirmem esse patamar.”

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Apesar do expressivo índice de intenção de votos, o levantamento indica que Datena é o pré-candidato mais rejeitado pela população até o momento – segundo a Quaest, 51% dos eleitores dizem que não votariam no apresentador em nenhuma hipótese. A rejeição do tucano supera a de Boulos (41%) e Nunes (38%).

“A rejeição é alta, mas é uma rejeição natural de quem está entrando agora na campanha e já começa com uma intenção de voto expressiva. O Datena entrou na disputa com boa parte do quadro sucessório de São Paulo definido”, minimiza Aníbal.

“Ele tem os votos dele, seguramente, mas também tem votos que conquistou do Nunes, do Boulos, do Pablo Marçal [do PRTB] e até mesmo da Tabata [Amaral, do PSB]. Ninguém tem 17% das intenções de voto sem incomodar os outros.”

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“Fura-bolha”

Na avaliação de José Aníbal, Datena é a figura com a maior capacidade de romper a polarização que tem marcado a política brasileira em nível nacional nos últimos anos, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula declarou publicamente apoio a Boulos e indicou a ex-prefeita Marta Suplicy, que retornou ao PT no início do ano, como pré-candidata a vice na chapa do deputado do PSOL. Bolsonaro, por sua vez, conseguiu emplacar o nome do ex-coronel da Polícia Militar e ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Ricardo Mello Araújo (PL) como vice de Nunes, mesmo a contragosto de alguns aliados do prefeito.

Para Aníbal, a candidatura de Datena pelo PSDB irá reverberar, politicamente, para além dos limites de São Paulo. “A participação do Datena nessa eleição, com expectativa de vitória, muda nacionalmente o cenário de polarização. O Datena é um candidato independente desses polos. É um cara que tem coragem. Nós vamos construir a candidatura dele em cima disso. É um cara que fala direto com a população e rompe com essa polarização”, afirma.

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“A polarização sempre existe em campanhas. No final, inevitavelmente, você tem dois candidatos que vão polarizar. Mas se fez da polarização atual um instrumento de disputa pública, eleitoral, social, tudo. Cerca de 70% dos brasileiros votam porque querem destruir o outro, nem sempre porque concordam com a pessoa em que votam”, observa o dirigente tucano.

“O Datena rompe essa polarização e fura essas 2 bolhas, e isso tem um significado importantíssimo para São Paulo e para o Brasil. Ele é a possibilidade de você ter uma referência muito expressiva de que essa polarização não veio para se eternizar”, conclui Aníbal.

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Tabata vice de Datena?

Na conversa com a reportagem do InfoMoney, o presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo despistou ao ser questionado sobre a possibilidade de uma composição com a deputada federal Tabata Amaral (PSB) para a sucessão paulistana.

Datena vinha sendo cotado para ocupar a vaga de candidato a vice na chapa liderada por Tabata, pré-candidata do PSB. Em abril, apenas 4 meses depois de se filiar ao PSB, Datena migrou para o PSDB, em um acordo que supostamente atrairia os tucanos para a chapa da parlamentar.

Com a consolidação do nome de Datena, que tem aparecido à frente de Tabata nas últimas pesquisas, setores do PSDB defendem que o partido tente convencer a deputada a desistir de sua candidatura para ser vice do tucano. Esta possibilidade, no entanto, é rechaçada pela campanha de Tabata e considerada quase nula por dirigentes do PSB.

“Não tratamos disso até agora. A Tabata é uma pessoa por quem eu tenho muita estima. Ela é um exemplo de superação e resiliência, é uma pessoa que tem posições com as quais nós nos identificamos. O próprio Datena também tem toda essa estima por ela. Mas nós estamos cuidando da nossa campanha”, disse Aníbal.

“Não vou dizer a você que nós não faremos nada [nesse sentido]. Pode ser que aconteça alguma coisa, um entendimento. Mas não é algo que esteja na ordem do dia”, completou o ex-senador.

Ao ser questionado sobre o que o PSDB fará caso Datena não chegue ao segundo turno da eleição, José Aníbal disse que essa hipótese não está sendo considerada no momento.

“Essa coisa de quem se apoiará no segundo turno é para candidato que está ‘encruado’. Imagine se nós vamos fazer toda a mobilização que estamos fazendo com preocupação de não ir para o segundo turno. Nós vamos para o segundo turno”, garantiu o tucano.

As idas e vindas de Datena

José Luiz Datena já passou por 11 partidos em sua trajetória política, embora jamais tenha se candidatado a nenhum cargo. Antes de trocar o PSB pelo PSDB, Datena já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil e PSC – em uma verdadeira “montanha-russa” partidária.

Nas eleições municipais de 2020, Datena esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

Na reta final, Datena recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O candidato a vice na chapa foi Ricardo Nunes, que acabaria assumindo a prefeitura após a morte de Covas, em 2021, e agora tentará a reeleição.

Desde que foi fundado, em 1988, o PSDB sempre teve candidato próprio nas eleições municipais em São Paulo. A legenda elegeu três prefeitos: José Serra (em 2004), João Doria (2016) e Bruno Covas (2020).

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as convenções partidárias que vão definir as candidaturas para as eleições de 2024 devem ocorrer entre os dias 20 de julho e 5 de agosto. Definidos os candidatos, os partidos terão até 15 de agosto para registrar os nomes na Justiça Eleitoral.

Veja imagens de Datena em diferentes momentos de sua trajetória política:

José Luiz Datena com a deputada federal Tabata Amaral, na filiação do apresentador ao PSB, em dezembro de 2023 (Foto: Divulgação/PSB)
José Luiz Datena com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília (Foto: Reprodução/redes sociais)
Com o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Datena foi filiado ao PT por mais de 20 anos (Foto: acervo pessoal)
Datena e Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/Band)

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”