Datena promete “pente-fino” na gestão Nunes e diz que prefeito corre risco de prisão

O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP) citou algumas investigações das quais Ricardo Nunes (MDB) é alvo, como a que envolve a chamada “máfia das creches”; Datena assegurou que não vai desistir da eleição

Fábio Matos

José Luiz Datena, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/PSDB)
José Luiz Datena, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Divulgação/PSDB)

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O ex-apresentador de TV José Luiz Datena, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP), afirmou, nesta terça-feira (6), que, caso eleito, fará uma auditoria em contratos das mais diversas áreas assinados durante o governo do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Datena chegou a dizer, inclusive, que considera que Nunes, candidato à reeleição, corre o risco de ser preso caso sejam comprovadas eventuais irregularidades.

“A prefeitura vai auditar todos os contratos desta prefeitura atual porque esse prefeito não corre o risco só de não ser eleito. Ele está desesperado atrás da reeleição porque, dependendo de você auditar o que ele já fez até hoje, ele corre o risco de perder a cadeira e ir para a cadeia”, afirmou Datena, que participou de sabatina promovida pelo G1.

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O candidato tucano citou algumas investigações das quais Nunes é alvo, como a que envolve a chamada “máfia das creches”, e também ligou o prefeito ao escândalo conhecido como “máfia dos transportes” – que apura a suposta ligação entre empresas de ônibus em São Paulo e facções do crime organizado.

Na semana passada, a PF indiciou 117 pessoas no âmbito da investigação sobre a “máfia das creches”. A corporação pediu à Justiça a abertura de um inquérito específico sobre o prefeito, alvo de suspeitas por relações que manteve com uma empresa que supostamente emitia notas fiscais “frias”, quando ainda era vereador na capital. Nunes nega qualquer irregularidade. “[Nunes] Já está envolvido em máfia de creches. Está sendo investigado, inclusive, pela Polícia Federal”, disse Datena.

Durante a sabatina, o ex-apresentador da TV Bandeirantes afirmou que, se for eleito prefeito de São Paulo, fará uma espécie de “pente-fino” nos contratos e licitações firmados pela atual gestão municipal.

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“Você tem, sob a ode deste prefeito, uma sombra enorme de que a maioria das licitações foi conduzida de uma forma absurdamente criminosa”, disse o tucano.

“O terceiro maior faturamento da União é o da prefeitura de São Paulo. Tem dinheiro sobrando. Se você deixar de gastar dinheiro com bandido, corrupto e safado, que levam boa parte do que nós recebemos na prefeitura de São Paulo, vai sobrar ainda mais dinheiro para você tornar exequíveis outros projetos”, completou Datena.

“Máfia do transporte”

Em relação às investigações do Ministério Público sobre o envolvimento de empresas de ônibus com o crime organizado, Datena afirmou que “o transporte público de São Paulo tem infiltração do PCC [Primeiro Comando da Capital]”.

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“Isso precisa ser aprovado e está sendo provado por forças-tarefas das polícias. Grande parte da Transwolff estava presa com elementos que pertenciam ao PCC. A Upbus, a mesma coisa, um cara foi preso outro dia. Como isso passa em uma licitação?”, questionou Datena, mencionando duas empresas investigadas.

“Não serei venal de falar antes de uma investigação. Mas as provas apontam, cada vez mais, para isso”, disse o candidato do PSDB. “Não tenho medo de PCC, não tenho medo de bandido. E bandido não vai fazer com que o povo de São Paulo continue pagando a passagem do transporte coletivo para vagabundo do PCC. No meu governo, o cidadão de São Paulo não vai sentar a bunda em transporte coletivo do crime organizado.”

Tabata Amaral

José Luiz Datena também foi questionado sobre o fracasso das negociações em torno de uma possível chapa formada por ele e pela deputada federal Tabata Amaral (PSB), candidata à prefeitura.

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Em abril, apenas 4 meses depois de se filiar ao PSB, Datena mudou para o PSDB, em um acordo que supostamente atrairia os tucanos para a chapa da parlamentar.

Com a consolidação do nome de Datena, que tem aparecido à frente de Tabata nas últimas pesquisas, setores do PSDB passaram a defender que o partido tentasse convencer a deputada a desistir de sua candidatura para ser vice do tucano. Esta possibilidade, no entanto, sempre foi rechaçada pela campanha de Tabata, que trocou farpas com Datena no mês passado.

Na segunda-feira (5), Tabata anunciou que a vice de sua chapa será a educadora Lúcia França (PSB), de 62 anos, esposa do ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB), atual ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. O vice de Datena, por sua vez, será o ex-senador José Aníbal, presidente do diretório municipal do PSDB na capital paulista e principal articulador da candidatura própria.

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“Eu respeito muito a Tabata, gosto da Tabata, mas quem tiver de ir com a Tabata, que vá com a Tabata. Que eu posso fazer? Isso é democracia”, disse Datena.

Questionado sobre declarações de Tabata, também em sabatina ao G1, indicando que teria sido traída por possíveis aliados durante a campanha, Datena negou que tenha descumprido qualquer compromisso com a candidata do PSB.

“Ela não falou meu nome. Em nenhum momento eu traí a Tabata. Aliás, eu a defendi quando o [Carlos] Lupi e o Ciro [Gomes] disseram que ela traiu o antigo partido dela [o PDT, quando Tabata votou a favor da reforma da Previdência, em 2019, contrariando a posição do partido]”, afirmou.

“Fui convidado pela Tabata para ser candidato a vice dela e saí do partido em que eu estava para ser vice dela. Eu queria ser vice dela. Ela já estava negociando com o PSDB e eu só fiquei sabendo pela imprensa. Eu falei com ela que não queria ir para o PSDB e queria ficar no PSB e ser vice dela”, explicou Datena.

Na entrevista, o tucano admitiu que seu maior objetivo na política “é ser senador”. “Eu queria começar como senador. Mas, no meio do caminho, a Tabata queria mais minutos de TV”, disse. “Ela me trocou por 1 minuto, eu não sou relógio. Ela trocou um ativo importante do partido dela e dela para que eu fosse para outro partido, e corria o risco de o partido fazer uma pesquisa. Com base nessa pesquisa, eles me procuraram e disseram que eu tinha potencial para ser prefeito de São Paulo.”

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“Vou até o fim”

Em meio às especulações de que poderia desistir da disputa pela prefeitura de São Paulo, Datena assegurou que, desta vez, irá “até o fim” com a candidatura.

Em eleições anteriores, para diversos cargos, Datena chegou a afirmar que seria candidato, mas acabou desistindo na última hora. Em 2020, ele esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

Na reta final, Datena recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O jornalista já passou por 11 partidos em sua trajetória política. Antes de trocar o PSB pelo PSDB, Datena já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil e PSC – em uma verdadeira “montanha-russa” partidária.

“Eu estou dizendo que vou [até o fim]. Eu sinto que há apoio de grande parte do partido, da Executiva nacional e da executiva local”, afirmou.

“Agora, quero saber se os outros vão. Qualquer um pode desistir. Por que todos vão e eu não vou? ‘Ah, porque você já não foi cinco vezes.’ Olha, mas essa é uma outra eleição e estou garantindo que vou, até para calar a boca dessas pessoas que estão dizendo que eu não vou”, prosseguiu Datena.

“Eu dou a minha palavra para o povo inteiro de São Paulo. Eu dou a minha palavra, em nome da minha honra, de que vou até o fim. A não ser que me matem no meio do caminho.”

Datena minimizou a resistência de setores do PSDB, que se manifestaram, na convenção municipal da legenda, contra a candidatura do jornalista. “Houve gente próxima da marginalidade tentando impedir o direito de ir e vir dos nossos manifestantes, dos nossos correligionários, e o meu direito de ir e vir. Jogaram garrafas em mim, me xingaram, cuspiram, tentaram me bater… e é a mesma turma que apareceu abraçando Ricardo Nunes e fazendo discurso na homologação da candidatura dele”, acusou.

Apoio no 2º turno

Embolado nas primeiras colocações da corrida eleitoral, de acordo com as últimas pesquisas, em empate técnico com Ricardo Nunes e Guilherme Boulos (PSOL), Datena disse que, caso não chegue ao segundo turno, não apoiará nenhum dos candidatos.

“Eu não vou apoiar ninguém. Eu posso ser eleito no primeiro turno. Eu tenho o direito de sonhar”, afirmou. “Como eu sinto o desespero desse povo há 26 anos, todos os dias, acho que São Paulo vai ter esperança. E tenho esse sonho. Eu não apoio ninguém.”

Cracolândia

Na sabatina, José Luiz Datena também falou sobre um dos principais problemas de São Paulo – a Cracolândia, região abriga usuários de drogas e dependentes químicos em geral, que se aglomeram nas vias, praticamente à margem das ações do poder público.

Nesta terça-feira, uma megaoperação envolvendo Ministério Público (MP), Receita Federal, Polícia Militar (PM), Polícia Civil, Polícia Federal (PF) e Ministério Público do Trabalho (MPT) prendeu um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), três guardas civis metropolitanos e dois traficantes de drogas, além de um ex-agente da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

De acordo com as investigações, os guardas e o ex-guarda detidos são suspeitos de integrarem uma milícia que atuava no local. Os dois traficantes, por sua vez, teriam participado da venda de armas ilegais e cometido exploração sexual e da prostituição.

“O problema da Cracolândia é muito mais complexo do que parece, mas dá para resolver”, disse Datena. “A GCM é uma guarda boa. Vai ser reforçada, aparelhada e serão mais bem pagos. Mas [esses suspeitos detidos na operação] são bandidos infiltrados em uma organização que tem mais de 7 mil homens. Bandido é bandido. Usando farda, é pior ainda”, afirmou.

“A GCM tem de ser armada e exercer o poder de polícia que as outras polícias exercem. O inimigo comum é o crime organizado, é o PCC. A nossa guarda será muito bem armada e terá poder de polícia”, garantiu o candidato do PSDB.

Datena disse, ainda, que seu eventual governo trataria do problema com uma abordagem diferente da que é feita atualmente pela prefeitura. “Não é a abordagem que o Ricardo Nunes faz, isolando dependentes químicos em guetos, que me lembra o nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial”, criticou.

“Não é você tirar o traficante que vai lá vender a droga para o dependente químico. Isso não resolve. Todos os atores da segurança pública têm de funcionar. Não dá para você resolver o problema da Cracolândia só sendo o prefeito de São Paulo. Tem que contar com a ajuda do governo do estado, do Tarcísio [de Freitas, governador], do Ministério Público e da Justiça”, disse o tucano.

Tarifa zero

Assim como já havia feito em entrevistas e sabatinas anteriores, Datena criticou a chamada “tarifa zero” dos ônibus municipais aos domingos, instituída pelo governo Nunes, com passagem gratuita em toda a cidade.

“Tarifa zero é uma mentira deste prefeito. Para andar em um ônibus de São Paulo, hoje, o cara deveria receber, no mínimo, a diferença de subsídio que paga para essas empresas. Ele cobra R$ 4,40 e as empresas recebem R$ 10,60, quase R$ 11. E muito desse dinheiro continua indo para empresas sob suspeita de envolvimento com o crime organizado”, afirmou Datena.

“Ele [Nunes] é um mentiroso. Não existe tarifa zero. O cidadão que nada de ônibus já paga muito para andar de ônibus em São Paulo”, concluiu o candidato do PSDB.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”