Datena ainda não crava candidatura: “Se alguém me sacanear, vai ficar pelo caminho”

Após uma série de desistências de candidaturas anteriores, José Luiz Datena, hoje no PSDB, diz que pretende "ir até o fim" desta vez, mas deixa em aberto a hipótese de não concorrer

Fábio Matos

José Luiz Datena, apresentador de TV (Foto: Beto Barata/PR)
José Luiz Datena, apresentador de TV (Foto: Beto Barata/PR)

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Pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo (SP), o ex-apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena não garantiu que disputará, de fato, as eleições de outubro deste ano, e condicionou sua presença nas urnas ao comportamento dos dirigentes políticos em relação a ele.

Questionado se havia o risco de desistir novamente da candidatura, como ocorreu pelo menos quatro vezes nos últimos anos, Datena disse que tem a intenção de “ir até o fim” desta vez, mas não foi capaz de cravar que concorrerá à sucessão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), neste ano.

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“Na minha palavra, ela [a população] confia há 40 anos, quando eu comecei a trabalhar. Questão política é outra coisa. Eu é que não confio na palavra de político. E quando político me sacaneia, quando me sacanearam em todas as outras oportunidades, eu larguei esses caras no meio do caminho”, afirmou Datena, em sabatina promovida, nesta terça-feira (16), pelo UOL e pelo jornal Folha de S.Paulo.

“Até que eu faça parte do meio político e passe a ter confiança nos políticos de forma geral, eu vou continuar na expectativa de ser ou não ser, eis a questão. Se alguém me sacanear de hoje até o dia da eleição, vai ficar no meio do caminho também”, ameaçou o ex-apresentador da Band.

“Eu posso morrer amanhã. Agora, a minha intenção, desta vez, é ir até o fim, desde que alguém não me encha o saco”, disse Datena.

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O pré-candidato tucano foi, então, indagado se haveria possibilidade de não ser candidato em outubro. “É claro que existe. Hoje em dia, você tem que tomar cuidado com tudo que acontece, desde conchavos políticos a toma-lá-dá-cá”, afirmou.

José Luiz Datena já passou por 11 partidos em sua trajetória política, embora jamais tenha se candidatado a nenhum cargo. Antes de trocar o PSB pelo PSDB, Datena já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil e PSC – em uma verdadeira “montanha-russa” partidária.

Nas eleições municipais de 2020, Datena esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

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Na reta final, Datena recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O candidato a vice na chapa foi Ricardo Nunes, que acabaria assumindo a prefeitura após a morte de Covas, em 2021, e agora tentará a reeleição.

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A crise dos partidos

Durante a sabatina, Datena explicou por que teve tantas passagens por partidos políticos e jamais se firmou em nenhum deles. O jornalista classificou sua atual legenda, o PSDB, como “um partido rachado e destruído por uma série de detalhes”.

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“Eu acho que os partidos são importantes, fundamentais. Ideologia é importante, fundamental. Mas partido, se fosse bom, não chamava partido, chamava inteiro. Muitos partidos partiram para a corrupção, outros se fragmentaram porque pessoas viraram entidades e se sobrepuseram aos próprios partidos”, criticou Datena.

Questionado se era de esquerda, de direita ou de centro, o pré-candidato do PSDB respondeu: “Eu sou institucionalista. Eu sou pelo povo brasileiro. Primeiro, não existe Estado contra direita nem contra esquerda. Tem cara na direita que é bom, tem cara na esquerda que é muito bom. Agora, nos extremos não há nada bom”.

Críticas a Ricardo Nunes

O principal alvo de José Luiz Datena durante a sabatina foi o prefeito Ricardo Nunes, que tentará um segundo mandato. Segundo o apresentador, “a prefeitura de São Paulo caiu no colo do prefeito” e Nunes “não entende nada de política”

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“O Ricardo disse que é injustiça eu ser candidato pelo PSDB. Injustiça é São Paulo ter ele como prefeito, um prefeito tão ruim como ele”, criticou Datena, rebatendo uma declaração do emedebista durante sabatina de que participou, também do UOL e da Folha.

“O prefeito diz que aceita bolsonarismo extremista desde que ele seja democrático. Como um cara pode ser extremista e democrátfico ao mesmo tempo? Só mesmo no conceito do prefeito de São Paulo”, disse Datena.

8 de janeiro

Datena também foi perguntado sobre os ataques violentos às sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na ocasião, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

“Você tem alguma dúvida de que foi uma tentativa de golpe? Clara, absurda, desproporcional. É interessante como pode acontecer uma tentativa de golpe como esse e o Lula está lá em Araraquara [interior de SP] almoçando com o prefeito [Edinho Silva, do PT]. Como as forças de segurança do governo não avisaram o presidente Lula que o golpe iria acontecer?”, indagou Datena.

“Aquilo foi uma tentativa de golpe completamente explícita. Isso é inegável. Quem nega essa tentativa de golpe quer negar a história brasileira”, completou o pré-candidato.

Guilherme Boulos

Datena também falou sobre sua relação com o deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo. O parlamentar convidou Datena para ser seu vice, mas o apresentador declinou.

“Ele me convidou duas vezes, formalmente, para ser vice dele”, relatou Datena. “Eu posso ser amigo do cara e achar que ele vai ser um mau administrador.”

Segundo o tucano, “Boulos não é de extrema-esquerda”. “Ele só tem que acabar com essa história de que vai tomar sua casa, vai tomar o seu terreno… precisa acabar com essa imagem de que ele vai invadir tudo, que é o maior invasor. Ele precisa deixar bem claro que não vai tomar a propriedade dos outros”, afirmou.

Tabata Amaral

Datena vinha sendo cotado para ocupar a vaga de candidato a vice na chapa liderada pela deputada Tabata Amaral, pré-candidata do PSB. Em abril, apenas 4 meses depois de se filiar ao PSB, o apresentador migrou para o PSDB, em um acordo que supostamente atrairia os tucanos para a chapa da parlamentar.

Com a consolidação do nome de Datena, que tem aparecido à frente de Tabata nas últimas pesquisas, setores do PSDB defendem que o partido tente convencer a deputada a desistir de sua candidatura para ser vice do tucano. Esta possibilidade, no entanto, é rechaçada pela campanha de Tabata e considerada quase nula por dirigentes do PSB.

“Eu amo a Tabata, gosto da Tabata. Acho que ela representa uma bela política. Ela vai ter um crescimento nacional muito grande, talvez não para esta eleição. Ela será importante nas eleições nacionais”, elogiou Datena. “A Tabata nunca disse que eu a traí. Ela disse que o PSDB a traiu. Se o PSDB fez um convite para eu ser candidato a prefeito, o problema é dela com o PSDB. Eu não traí ninguém.”

Datena disse, ainda, que a ideia de que ele trocasse o PSB pelo PSDB partiu da própria Tabata – a pré-candidata imaginava que, assim, a composição para ter Datena como vice ficaria mais próxima.

“Ela pediu para eu sair do partido em que eu estava, o PSB, para uma aventura no PSDB. E essa aventura aconteceu. Foi ela quem me jogou no colo do PSDB, e não o contrário”, argumentou o apresentador.

Vice

Sobre a escolha para o pré-candidato a vice em sua chapa, Datena afirmou que a definição caberá ao PSDB. Nos bastidores, comenta-se que o ex-senador José Aníbal, atual presidente do diretório municipal da legenda, pode ficar com a vaga.

“Eu não sei e pretendo que o partido escolha bem o meu vice. Eu acho que o partido tem de ter prioridade na escolha do vice. Vai ser escolhido pelo partido se eu achar que é um bom cara”, disse Datena. “Eu sou democrata, mas nem tanto a ponto de permitir que o partido escolha um vice que eu acho que não tenha ligação com o povo de São Paulo.”

Datena afirmou, no entanto, que “seria ótimo” se a vice ficasse com uma mulher. “Acho que estão faltando mulheres na política brasileira”, justificou.

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PCC e violência

Na sabatina, José Luiz Datena também tratou de propostas para resolver alguns dos principais problemas de São Paulo. O jornalista alertou para o avanço do crime organizado na cidade e no país.

“O Brasil corre o risco de virar um narcoestado, de virar a Colômbia do Pablo Escobar. O Brasil é a máfia que mais cresce no mundo de tráfico de drogas pelo PCC. O Brasil deixou de ser um corredor de drogas para ser o segundo maior consumidor de cocaína e o maior consumidor de crack”, disse Datena.

Questionado sobre as críticas da sociedade civil à abordagem dos policiais, muitas vezes de forma violenta, o pré-candidato do PSDB afirmou: “Se o policial é violento, tem corregedoria, tem Justiça para que ele pague por isso, como todos nós. Se há morte envolvendo polícia ou qualquer um de nós, o cara vai a julgamento”.

“Agora, eu sou a favor de que, se você estiver em uma situação de refém de um bandido com arma na cabeça, o Gate entra e dá um tiro para matar o bandido para impedir que ele mate. Isso não é violência contra o bandido, é defesa da vítima”, completou Datena.

Cracolândia

Já em relação ao drama da Cracolândia, Datena foi irônico ao dizer que nomearia “Deus para para secretário de Segurança Pública”. “Porque só Deus para resolver o problema da Cracolândia”, afirmou.

“Todo prefeito diz que vai resolver, mas não resolve. Tem que ter ação de polícia judiciária, de Polícia Civil. Por que existe Cracolândia? Porque a droga chega ao centro de São Paulo. Se a droga não chegasse ou chegasse menos ao centro de São Paulo, obviamente não teria tanto traficante ou tanto dependente químico”, defendeu Datena.

“O PCC fatura milhões com a Cracolândia. Você impedindo que a droga chegue ao traficante pé de chinelo, que distribui a droga, já resolve boa parte do problema”, opinou.

Tarifa zero

O pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo criticou duramente a chamada “tarifa zero” dos ônibus da capital paulista aos domingos, uma das principais bandeiras da gestão de Ricardo Nunes.

“Isso é uma sacanagem, é uma brincadeira. O prefeito de São Paulo é um brincalhão”, disse.

“A maior sacanagem é um trabalhador que demora 2 horas e meia para chegar ao seu trabalho e 2 horas e meia para voltar e está pagando passagem de ônibus para empresa investigada por ligação com PCC. O dinheiro continua indo para o PCC”, acusou Datena, referindo-se à investigação sobre uma suposta “máfia do transporte” em São Paulo.

“Não existe esse negócio de tarifa zero. Você tem de cobrar um preço justo durante a semana para o cara pagar um preço justo também aos domingos e feriados”, prosseguiu Datena.

Para o tucano, “a tarifa zero é uma mentira deslavada”. “Se você dá tanto para essas empresas de ônibus, elas deveriam te pagar para andar de ônibus”, concluiu.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”