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SÃO PAULO – O avanço das investigações sobre uma suposta prática de “rachadinha” no gabinete do atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), na época em que exercia o mandato de deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), trouxe uma crise antiga de volta ao Palácio do Planalto.
Nos últimos dias, Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de uma nova operação, três semanas após o STF (Supremo Tribunal Federal) liberar a investigação que havia sido suspensa no meio do ano.
Desta vez, os investigadores buscavam provas sobre eventuais crimes de peculato — relacionado à suposta prática de “rachadinha”, ou seja, coação para devolução de salários de funcionários do gabinete ao parlamentar — e lavagem de dinheiro.
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Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao senador, a seu ex-assessor Fabrício Queiroz e a familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do atual presidente.
Nos últimos dias, parte do conteúdo do inquérito, que corre em sigilo, foi divulgada pela imprensa. Os investigadores suspeitam que recursos teriam sido lavados em operações de compra e venda de dois apartamentos em Copacabana com ganhos artificialmente produzidos e a partir de operações da franquia de uma loja de chocolates da qual o parlamentar é sócio.
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O avanço das investigações fez ministros palacianos procurarem distanciamento ainda maior do assunto. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, desconversou, evitou defender enfaticamente o filho e adotou postura agressiva com jornalistas.
“Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual”, disse a um repórter em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (20), após ser questionado sobre o ex-assessor Fabrício Queiroz.
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“Não é a primeira vez que Bolsonaro diz que os problemas não são com ele”, lembra Paulo Gama, analista político da XP Investimentos, na última edição do podcast Frequência Política. O episódio abordou, dentre outros assuntos, os impactos jurídicos e políticos do inquérito e trouxe projeções do que pode vir no ano que vem. Ouça a íntegra pelo áudio acima ou clicando aqui.
“Evidentemente há um problema. Ele passa a conviver com uma sombra o tempo todo, esperando qual vai ser o dia em que o conteúdo desses telefones [apreendidos] e extratos [bancários] vão vir a público ou outras buscas e apreensões vão ocorrer”, complementa.
Os efeitos poderiam ser ainda mais significativos se o Congresso Nacional estivesse em plena atividade e em um momento decisivo para a tramitação de matérias relevantes do governo. “Se estivéssemos no meio de uma votação importante, provavelmente haveria algum tipo de tumulto agora. A esquerda tem um pouco menos de força para bater nisso nas redes, mas faz barulho. Haveria gente na tribuna tentando impedir votação”, pontua Gama.
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O atual momento é de calmaria no parlamento, em função do recesso de fim de ano. Por um lado, pode ser boa notícia para o governo, já que não atinge sua agenda legislativa diretamente. Por outro, a ausência de outros assuntos em discussão amplifica a exposição do inquérito contra Flávio Bolsonaro na imprensa.
Neste sentido, um dos movimentos a se monitorar é como poderá se comportar a opinião pública diante dos novos fatos, a partir das pesquisas de avaliação do governo. Em meio à fragilidade da atual administração na interlocução junto ao parlamento, uma eventual queda de popularidade poderia ter efeitos ainda mais severos.