Com nova presidente, Petrobras deve ser “mais aberta” ao governo Lula, diz analista

Segundo Júnia Gama, analista política da XP, troca no comando da Petrobras não deve significar mudança total de rota na empresa, mas aumentará interlocução com o governo federal e, sobretudo, com o presidente Lula

Fábio Matos

Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. Foto:
REUTERS/Sergio Moraes
Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. Foto: REUTERS/Sergio Moraes

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A troca de comando na Petrobras, que pegou o mercado de surpresa na noite de terça-feira (14), com a demissão de Jean Paul Prates e a indicação de Magda de Regina Chambriard para a presidência da companhia, não deve significar uma mudança total de rota na empresa, mas certamente aumentará sua interlocução com o governo federal e, sobretudo, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A avaliação é de Júnia Gama, analista política da XP, que comentou a queda de Prates e a escolha de Chambriard durante uma teleconferência, na manhã desta quarta-feira (15), em meio às primeiras repercussões no mercado sobre as mudanças na cadeia de comando da companhia.

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A saída de Prates, que vinha protagonizando atritos públicos com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), não foi considerada uma surpresa. O momento do anúncio, sim.

A demissão de Prates aconteceu um dia depois da divulgação dos resultados do primeiro trimestre da Petrobras, cujo lucro recuou 38%, na comparação anual, para R$ 23,7 bilhões.

“Ela [Chambriard] não virará as costas para o mercado. É uma especialista na área, é consultora de óleo e gás há alguns anos. Ela sabe que tem de ter conversas e discussões com o mercado, tem de saber o que está acontecendo”, afirma Júnia Gama.

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Para a analista da XP, a tendência é a de que, sob o novo comando, a Petrobras se torne “uma companhia mais aberta para o governo”. “É exatamente por isso que a mudança foi feita. Espera-se que a Petrobras seja mais sensível ao que o governo pretende para a empresa, que tenha uma relação mais transparente e direta com o presidente Lula”, diz.

“Não é sobre o que Magda vai fazer, mas mais sobre por que Jean Paul foi substituído. Não vemos nenhuma grande mudança neste momento porque não há muita coisa que possa ser feita, já que os planos de investimentos estão ‘ok’ para o governo. Talvez haja uma mudança no sentido de a Petrobras estar mais aberta e mais em sintonia com o que Lula pensa e diz”, explica Júnia.

Vitória de Silveira e “má notícia” para Haddad

Durante a teleconferência, Júnia Gama foi questionada sobre o que pode significar a demissão de Jean Paul Prates para a correlação de forças dentro do próprio governo. Em uma mensagem de despedida, divulgada na noite de terça-feira, o agora ex-presidente da Petrobras deu a entender que Alexandre Silveira e Rui Costa teriam feito pressões que lhe custaram o cargo.

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Um dos embates entre Prates e Silveira envolveu os dividendos extraordinários da companhia, cuja proposta de pagamento referendada pela assembleia de acionistas acabou ficando alinhada ao que havia sido sugerido pela diretoria comandada por Prates.

O ex-presidente da Petrobras, que não mexeu nos preços da gasolina e do diesel neste ano, também sofreu pressões públicas para que a empresa investisse mais em gás natural e nos setores de fertilizantes e indústria naval.

“Magda não foi uma escolha de Alexandre Silveira. Apesar disso, ele [Silveira] não tinha uma boa relação com Jean Paul. Quando a mudança acontece, é um claro sinal do governo de que qualquer pessoa que esteja no cargo tem de responder ao ministro de Minas e Energia. Naturalmente, o ministro deve ter maior influência a partir de agora”, projeta Júnia.

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Em relação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que mantinha boa relação com Prates e conseguiu segurar a permanência do presidente da Petrobras há alguns meses, quando a demissão parecia iminente, a analista política da XP entende que a troca na presidência da empresa não deve ter sido recebida como uma boa notícia.

“Acho que é uma má notícia para Haddad. Ele queria que Jean Paul permanecesse”, afirma Júnia. “Mas, há cerca de 1 mês, quando o próprio Haddad percebeu que não poderia fazer mais nada por Jean Paul, ele praticamente deixou a situação se resolver naturalmente”, observa a analista. “Não podemos dizer que seja uma derrota pessoal para Haddad, porque não é, embora ele preferisse que Jean Paul tivesse continuado na Petrobras”, conclui.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”