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SÃO PAULO – Após conquistar 46% de votos no primeiro turno, Jair Bolsonaro se consolidou como candidato do mercado e a euforia com a possibilidade de vitória do candidato do PSL trouxe ânimo para a bolsa e empresas. No entanto, de acordo com a economista chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, qualquer que seja o resultado do segundo turno, com Bolsonaro ou Fernando Haddad (PT), o cenário não é positivo.
“Nos dois casos, eu espero um governo medíocre. Agora eu só espero pragmatismo. Sinceramente: o ideal era seguir a agenda Temer”, afirmou a executiva no evento “Perspectivas do mercado brasileiro frente aos cenários presidenciais do 2° turno”, promovido pelo UM BRASIL, em parceira InfoMoney nesta quarta-feira (10).
Para ela, o ideal, dado o momento de incerteza, era seguir com a agenda de Michel Temer no Ministério do Planejamento, Minas e Energia e BC+. “O governo Temer deu autoria para um time econômico e escancarou os problemas. Colocou a questão da Previdência sozinho no debate público e quase conseguiu aprovar. Temos que ser mais ambiciosos”, disse.
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Mas enquanto isso, segundo Latif, o mercado celebra e parte da sociedade enxerga Bolsonaro como “salvador da pátria”. “Isso já é semente de confusão mais adiante”, diz. Existe a possibilidade de que logo no início do mandato, o ex-capitão do exército passe a Reforma da Previdência e use isso como moeda de troca, mas no hoje não tem como prever se isso realmente vai acontecer.
Ela diz que no cenário atual não vê uma Reforma da Previdência aprovada, tão pouco uma que solucione os desafios que temos. E nessas condições, a chance das taxas de juros aumentarem ao longo dos próximos quatro anos é maior.
“As declarações recentes do Bolsonaro vão na linha de fazer uma reforma para o funcionalismo concentrada no que ele chama de marajás e com tratamento especial para Polícia Militar e Forças Armadas, mas os estados estão desesperados com a questão da Previdência. E mesmo assim, ele não toca no assunto do INSS. Não sei qual o programa que ele tem em mente”, afirma a economista.
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Segundo a economista da XP Investimentos, para imprimir um ritmo positivo no sentido de aprovação de reformas precisa-se de presidente com capacidade de diálogo com o judiciário, com o setor produtivo e com o próprio Congresso. “Mas esse componente do diálogo é o ponto fraco para os dois candidatos. Estou preocupada com o questão econômica, porque terá consequências sociais. Dependendo da situação teremos uma sociedade inquieta e decepcionada – e o crescimento do país fraco”, diz.
Fragmentação da Câmara
Considerando o cenário de vitória do Bolsonaro, o mais provável, por enquanto, o governo terá os mesmos problemas que a Dilma teve para aprovar as reformas, segundo Latif. “Estamos falando de um quadro de um presidente sem experiência, nem administrativa, nem política. A política se renovou, mas nem tanto. O Congresso está mais fragmentado”, disse.
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O economista do Ibre-FGV Samuel Pessôa, no mesmo evento, foi taxativo ao afirmar que a renovação da Câmara dos Deputados foi uma péssima notícia. “A renovação da Câmara me preocupou muito, foi uma péssima notícia. Com a cláusula de barreira e fim dos votos proporcionais até 2020 teremos um sistema político mais funcional nas próximas eleições”, afirmou o economista.
Para ele, o saldo da Câmara atual foi positivo, mesmo sem aprovar a Reforma da Previdência. “Isso porque houve um processo de doutrinação e aprendizado pelo qual a bancada atual passou. Eles passaram a entender os problemas do país e varias medidas foram aprovadas. A renovação é composta pelo discurso de corrupção, das questões de comportamento, de um certo antipetismo e certo anti-politicamente correto. Fico preocupado com o grau que a nova bancada tem com nosso desastre fiscal”, afirma.
O partido de Bolsonaro, PSL, saltou de 8 para 52 deputados e se tornou a segunda maior bancada da Câmara. Na nova formação, “não se defende mais os interesses do partido, mas sim interesses individuais. Estamos falando de grupos que defendem interesses corporativistas aumentando no Congresso”, afirmou Latif.
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Lado Positivo
Para Latif, apesar de tudo há um lado positivo: sociedade brasileira avançou e não se tolera mais a inflação alta. “Embora a sociedade tenha uma inclinação ao populismo, não se tolera inflação. Os jovens em 2013 estavam protestando contra tarifas de ônibus indiretamente, no fundo era sobre inflação que fez os preços subirem”, afirma.
Para ela, inflação no Brasil faz presidente cair. “Nosso país não é a Argentina, aqui presidente cai. Com a Dilma não era uma inflação absurda, nem foi o motivo principal, mas já tinha um desconforto em relação a isso e deu no que deu”, diz.