Com Bolsonaro, extrema-direita embarca forte (e para vencer) nesta eleição, diz analista

Para analista de cenários, deputado adota estratégia eficiente para manter competitividade na corrida presidencial e elege novo adversário para polarizar a disputa

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O simbólico evento que marcou a filiação do deputado federal Jair Bolsonaro ao nanico PSL e o pontapé inicial para sua candidatura presidencial trouxe também novas indicações da estratégia a ser adotada pelo capitão reformado do Exército na corrida eleitoral. Na avaliação do analista de cenários Leopoldo Vieira, da Idealpolitik, a fase em que a candidatura do parlamentar poderia ser considerada meramente aventureira ficou para trás. “A extrema-direita embarcou forte, e para vencer nesta eleição”, disse.

Para o analista, o parlamentar lança mão de um plano eficaz e hoje figura como candidato competitivo, como as próprias pesquisas de intenção de voto apontam, apesar dos inúmeros desafios a serem enfrentados e de apostas em uma futura desidratação. Além do posicionamento estratégico na agenda da segurança pública, que já se mostrou pauta poderosa, dado o elevado apoio dado à intervenção federal no Rio de Janeiro em seus primeiros dias, Bolsonaro adota discurso anticorrupção, de enxugamento de ministérios e tom agressivo contra as forças políticas à esquerda. Apesar da vida parlamentar, o discurso é antiestablishment.

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“Habilidoso, (uma surpresa segundo a análise política predominante), usou seus 20% nas pesquisas para escolher, aparentemente, um adversário: o pré-candidato do PSOL (extrema-esquerda), Guilherme Boulos, líder dos trabalhadores sem-terra ‘terroristas’, ‘os marginais do sem-teto [que] vão ter um candidato à presidência'”, observou. Enquanto o PT fica em um jogo de indefinição com a candidatura de Lula cada vez mais distante, o parlamentar escolhe novos adversários para polarizar o debate eleitoral.

“Os inimigos ‘externos’ de Bolsonaro, dentro do arquétipo do herói, estão claros nas falas de encerramento do discurso: a violência (‘Violência se combate com energia e, se for o caso, com mais violência’) e os ‘comunistas’ (‘Só tem uma maneira dessa bandeira ficar vermelha, com o meu sangue’). Darão resultado? Já deram”, comentou. O deputado lidera a corrida presidencial em todas as pesquisas, nos cenários em que a candidatura de Lula não é avaliada.

Para Vieira, mesmo o horizonte de dificuldades na costura de alianças e pouca estrutura partidária podem ser contornados, sobretudo se a centro-direita seguir patinando na corrida presidencial e o deputado mantiver os esforços em marchar ao centro e dialogar mais com os agentes econômicos. “Para quem crê que lhe falta estrutura partidária, tempo de rádio e TV, alianças etc, deveria observar mais sinais de que deve estar muito errado”, provocou. Segundo ele, Bolsonaro, além de controlar a estrutura do PSL, pode mirar alianças. O analista acredita que mesmo a modesta fatia do fundo eleitoral com que conta o partido já será bastante útil para os trabalhos do presidenciável nas redes sociais.

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“PRB, PR e PP já estão na mira de aliados possíveis e podem, sim, contagiarem-se com o potencial de Bolsonaro eleger bancadas, ainda mais se casar com a ideia de ‘bancada da metralhadora’. O PSC vem de Paulo de Castro mesmo? Ou, talvez, este possa ser até um vice? Afinal, ‘o futuro a Deus pertence’, como disse o senador evangélico Magno Malta (PR-ES) sobre a aclamação que recebeu como provável ocupante desta vaga na chapa”, escreveu em relatório a clientes.

Embora tenha titubeado na questão das privatizações, Bolsonaro deu novas piscadas ao público mais ao centro. “[Ele] Reconheceu que não entende de economia, ou seja: Paulo Guedes, o liberal, será o ‘general’ inconteste nessa área, o mercado não teria com o que se preocupar, outrossim ganha um interlocutor que conhece, respeita e confia”, afirmou Vieira.

“Anunciou que reduzirá de 29 para 15 o número de ministérios no Brasil, num choque retórico de austeridade, para agregar valor à assertiva de que quem mandará na gestão econômica será Paulo Guedes (por ora ele)”, complementou. O mesmo vale para as promessas de anúncio dos ministeriáveis no início da campanha eleitoral, que pode valer como aceno contrário ao chamado “toma-lá-dá-cá” e indicação de maior transparência e um mínimo de previsibilidade.

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Por fim, o novo bodão da “bancada da metralhadora” por ele criado, além da óbvia indicação ao seu público original de extrema-direita, oferece acenos de governabilidade, outra de suas maiores fraquezas. “Enquanto empresários impulsionam candidaturas renovadoras transversais a partidos políticos e Lula ainda tenta convencer o PT de que é necessário seguir compondo alianças amplas para governar, Bolsonaro dá a receita eficiente para as duas coisas, pois a bancada que advoga já existe, é transversal, grande e deve se ampliar, inclusive embalada pela candidatura dele”, concluiu o analista.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.