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SÃO PAULO – Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já enfrentava problemas de todos os lados, tanto do Ministério Público Federal e a Polícia Federal no ano passado, o começo do ano já começou bastante tenso para o petista.
Apenas nesta semana, novas delações (que poderiam já ter sido esclarecidas por Lula) sobre o ex-presidente vieram a público. E, mais do que isso, passaram a envolvê-lo diretamente.
Se antes as suspeitas recaíam sobre o entorno do petista, como a prisão do pecuarista e conhecido como “amigo de Lula” José Carlos Bumlai, e em meio às investigações de seu filho caçula, Luis Cláudio Lula da Silva, no âmbito da Operação Zelotes, Nestor Cerveró acrescentou novos ingredientes ao “caldeirão de preocupações” de Lula.
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Apenas nesta semana, três declarações de Cerveró aumentaram ainda mais as tensões envolvendo Lula, após a última semana já ter sinalizado o fim da calmaria para o governo, uma vez que o nome do ministro-chefe da Casa Civil Jaques Wagner, aliado do ex-presidente, passou a integrar a lista dos envolvidos na Lava Jato.
Ontem, foi divulgada a delação de Cerveró, em que ele ligou sua nomeação para um cargo público em 2008, no governo Lula, a um empréstimo de R$ 12 milhões investigado na Lava Jato. O cargo seria um “reconhecimento” para quitar o empréstimo considerado “fraudulento”. É a primeira vez que um delator do caso envolve Lula diretamente no episódio.
O empréstimo foi intermediado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, que, apesar de não ter envolvido Lula no caso, admitiu tê-lo feito com o Banco Schahin em 2004 para quitar dívidas do PT. Anos depois, sob o comando de Cerveró, a Petrobras contratou a Schahin Engenharia por US$ 1,6 bilhão para a operação de um navio-sonda, o Vitoria 10.000.
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Cerveró contou que Lula “decidiu indicar” seu nome para o novo cargo “como reconhecimento da ajuda do declarante [Cerveró]”, ou seja, por ele “ter viabilizado a contratação da Schahin como operadora da sonda”. A atuação também rendeu a Cerveró “um sentimento de gratidão do PT”.
Por nota, o Instituto Lula disse que o ex-presidente já prestou todos os esclarecimentos à Polícia Federal referentes a esse assunto. Ouvido na condição de informante – “já que não é investigado e sequer foi arrolado como testemunha na chamada Operação Lava Jato” – Lula afirmou que Cerveró foi nomeado diretor da Petrobrás e da BR Distribuidora por indicação de partido da base aliada, segundo a nota. O instituto negou, ainda, que Lula tenha tido qualquer relação pessoal com Cerveró, bem como qualquer sentimento de gratidão por ele.
“As questões levantadas pela imprensa com base em delação atribuída a Nestor Cerveró já foram esclarecidas pelo ex-presidente Lula no foro apropriado: um depoimento à Polícia Federal em 16 de dezembro de 2015”, informou.
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Porém, a quarta-feira não deu trégua para o ex-presidente, apesar das suas explicações divulgadas pelo Instituto Lula. Cerveró afirmou ainda, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, que Lula foi responsável pela indicação da construtora WTorre Engenharia para a obra de um prédio no centro do Rio que abriga funcionários da estatal desde 2013. A informação está no conjunto que anexos feitos por Cerveró e sua defesa que foram encontrados no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS).
Segundo o delator, ele soube da indicação de Lula por Renato Duque, ex-diretor da estatal, que também foi preso no âmbito da operação. “Sabe que a indicação de Walter Torre foi feita pelo presidente Lula, porque Renato Duque comentou na reunião da Diretoria onde foi apresentado o projeto”, disse Cerveró no documento.
E a sugestão de Torre era erguer um prédio ainda maior, de 150 andares. “Destaque-se a sugestão do Walter Torre feita ao presidente Lula de construir o maior prédio do mundo da altura de 400 metros (150 andares) maior que o Pão de Açúcar, que não foi adiante pelo absurdo da obra e pelo impacto que causaria na cidade”, diz o documento. José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras, teria recusado as sugestões de comissão que analisou opções para a construção, segundo Cerveró.
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Janot cita Lula
Além disso, destaque para a notícia da Folha de S. Paulo de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot citou o ex-presidente em denúncia protocolada no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o deputado federal Vander Loubet (PT-MS). No documento, Janot afirma que Lula concedeu ao senador Fernando Collor (PTB-AL) “ascendência” sobre a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, “em troca de apoio político à base governista no Congresso Nacional”, por volta de 2009.
Segundo informações do jornal Janot afirmou ainda que foi criada na BR Distribuidora, ao menos entre 2010 e 2014, “uma organização criminosa preordenada principalmente ao desvio de recursos públicos em proveito particular, à corrupção de agentes públicos e à lavagem de dinheiro”. Lula não é alvo da acusação da PGR.
Sítio frequentado pelo ex-presidente
Além disso, outra notícia sobre a delação de Cerveró, desta vez segundo informações do Estadão. A PF investiga as obras em um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, chamado Santa Bárbara, frequentado pelo ex-presidente e família. As suspeitas são que a empreiteira OAS – uma das líderes do cartel que fatiava obras na Petrobras – tenha realizado a reforma, em 2011, como compensação por contratos no governo.
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O sítio pertencia à família Santarelli e está registrado atualmente em nome de Jonas Suassuna. Em abril do ano passado, a Revista Veja publicou reportagem em que apontou que a reforma do sítio foi executada pela OAS, em 2011, a pedido de Lula – que costuma frequentar o imóvel rural para pescar. O responsável pelo serviço teria sido o ex-presidente da empreiteira José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, que foi preso pela Lava Jato em novembro de 2014 e depois solto em abril de 2015. O ex-presidente Lula foi procurado via assessoria de imprensa, mas não havia respondido aos questionamentos até o fechamento da reportagem do Estadão.
Em meio a tantas denúncias envolvendo Lula e também a presidente Dilma Rousseff, o jornal O Estado de S. Paulo informa que o Palácio do Planalto ligou o sinal de alerta após o conteúdo da delação premiada do ex-diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, ter sido divulgado, com citações à presidente Dilma Rousseff. O Planalto teme a influência das denúncias no processo de impeachment de Dilma.
Porém, conforme destacou o jornal americano Wall Street Journal no final do ano passado, o sentimento é de que a opinião pública mudou contra Lula e o PT, apesar do jornal destacar que Lula ainda tem forte apoio entre os pobres e a classe trabalhadora, os principais beneficiários da sua presidência.
Contudo, não são só os petistas que estão no radar da Lava Jato (e de Cerveró). Nesta semana, o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também foi citado como recebedor de US$ 100 milhões de propina através da compra da petroleira argentina Pérez Companc.
Conforme ressaltou para a Bloomberg o analista da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, a oposição pode não se encorajar para explorar novas denúncias à medida em que não apenas nomes ligados ao governo foram citados recentemente nas investigações da Lava Jato. Além disso, o fato do Congresso estar em recesso também reduz repercussão; a Tendências mantém em 45% as chances de afastamento de Dilma.
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