Caso Marielle: em delação, Lessa diz que irmãos Brazão monitoraram outros políticos

Em seu depoimento à Polícia Federal (PF) sobre o caso, Ronnie Lessa afirmou que os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão decidiram “infiltrar” Laerte Silva de Lima e sua mulher, Erileide Barbosa da Rocha, no PSOL

Fábio Matos

Vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada em março de 2018 (Foto: Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro)
Vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada em março de 2018 (Foto: Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro)

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Em sua delação premiada sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Ronnie Lessa – réu confesso do crime – afirmou que, além da própria Marielle, outros políticos ligados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) estavam sendo espionados pelo grupo criminoso.

Em seu depoimento à Polícia Federal (PF) sobre o caso, cujos principais detalhes foram revelados em reportagem veiculada no Fantástico, da TV Globo, na noite de domingo (26), Lessa afirmou que os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão – apontados pelas investigações como dois dos supostos mandantes do assassinato – decidiram “infiltrar” Laerte Silva de Lima e sua mulher, Erileide Barbosa da Rocha, no PSOL.

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Segundo as investigações, o casal era um “braço armado” da milícia de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro.

“O Domingos [Brazão], por exemplo, não tem papas na língua. Ele simplesmente fala que… ele colocou, digamos assim, um espião no PSOL, no partido da Marielle. E o nome desse espião seria Laerte, que é uma pessoa do Rio das Pedras, que depois eu soube se tratar de um miliciano. Uma pessoa responsável por várias atividades da milicia lá. E essa pessoa trazia informações para os irmãos com relação ao PSOL”, disse Lessa.

“Não somente em relação à Marielle. Ele falava sempre do Marcelo Freixo. Falava do Renato Cinco, Tarcísio Motta… Falava dessa pessoa. E demonstrava, assim, um interesse diferenciado por essas pessoas, pelas pessoas do PSOL”, afirmou o executor do assassinato de Marielle.

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A filiação de Laerte e Erileide ao PSOL ocorreu em abril de 2017, mesmo período em que Lessa teria começado a fazer pesquisas sobre o nome do então deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), uma das figuras mais conhecidas do partido, na época. Hoje, Freixo é filiado ao PSB e presidente da Embratur.

De acordo com o PSOL, o casal foi expulso do partido em dezembro de 2020. “Sua real atuação já era de conhecimento do partido desde meados de 2019, mas não foram tomadas iniciativas por estarem sob investigação. Os fatos mostram que as milícias não possuem limites em sua atuação criminosa e contam, por muitas vezes, com o apoio de agentes do Estado, quando eles próprios não o são”, afirmou a legenda, por meio de nota.

“O PSOL segue na luta por justiça até que todos os envolvidos no assassinato de Marielle e Anderson sejam julgados e condenados”, completou o partido.

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Ainda em seu depoimento, Ronnie Lessa afirma que Larte teria “enfeitado o pavão” e levado os irmãos Brazão a uma avaliação equivocada sobre a atuação de Marielle.

“Nesse momento, ponderou-se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado”, diz o relatório da PF.

Segundo as investigações dos policiais, essa animosidade entre os Brazão e Marielle teria relação com a oposição da vereadora a um projeto de lei de autoria de Chiquinho na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

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A proposta tratava da flexibilização de regras de regularização fundiária na zona oeste da cidade, o que prejudicava interesses da família Brazão na região. Na ocasião, toda a bancada do PSOL na Câmara votou contra o projeto.

Mesmo aprovado, o texto foi vetado pelo então prefeito do Rio Marcelo Crivella. O projeto, em seguida, foi considerado inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ).

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Detalhes sobre a “encomenda” do crime

Em sua delação, Ronnie Lessa detalhou como os irmãos Brazão teriam “encomendado” o assassinato de Marielle Franco.

De acordo com o criminoso, a dupla teria lhe oferecido e a um de seus comparsas, o Macalé (o ex-policial militar Edimilson de Oliveira), um loteamento clandestino (e milionário) na zona oeste do Rio avaliado.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de US$ 20 milhões. A gente não está falando de pouco dinheiro. Ninguém recebe uma proposta de receber US$ 10 milhões simplesmente para matar uma pessoa”, disse Lessa.

“Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade”, afirmou o réu confesso.

De acordo com o depoimento de Ronnie Lessa, houve três reuniões entre ele e os mandantes do crime. Na conversa, afirma Lessa, Marielle teria sido citada como um obstáculo para o esquema.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”