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por José Roberto Castro, especial para o InfoMoney
O presidente Jair Bolsonaro sofreu derrotas significativas nas eleições municipais deste domingo. A maior parte dos candidatos apoiados publicamente por Bolsonaro nas principais cidades do Brasil saiu derrotada nas urnas.
O presidente apoiou diretamente candidatos a prefeito em seis capitais e quatro deles foram derrotados já em primeiro turno: São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus. As esperanças do presidente nas capitais estão agora em Fortaleza e no Rio de Janeiro, onde os bolsonaristas ainda têm que disputar o segundo turno.
Durante o dia, o presidente da República apagou de suas redes sociais um vídeo postado no sábado em que pedia votos a aliados. No fim da noite, o próprio presidente fez um post se justificando pelos resultados ruins. Ele lembrou o bom resultado de Geraldo Alckmin em 2016 e sua derrota em 2018 para dizer que as eleições municipais não terão impacto em 2022.
– Há 4 anos Geraldo Alkmin elegeu João Dória prefeito de São Paulo no primeiro turno.
– Dois anos depois Alckmin obteve apenas 4,7% dos votos na disputa presidencial.
– Minha ajuda a alguns poucos candidatos a prefeito resumiu-se a 4 lives num total de 3 horas.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 16, 2020
As disputas ainda abertas: Rio e Fortaleza
No Rio de Janeiro, consolidado na segunda posição, o atual prefeito Marcelo Crivella é uma das esperanças do bolsonarismo.
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Com 100% das urnas apuradas, ele teve 21,9% dos votos válidos – uma vantagem de dez pontos para a terceira colocada e uma desvantagem de pouco mais de 15 pontos para o líder Eduardo Paes (DEM).
Em Fortaleza, o bolsonarista Capitão Wagner (PROS) disputará com Sarto (PDT), candidato apoiado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes. Ao final da apuração, a distância entre os dois, foi de pouco mais de dois pontos percentuais.
“É uma derrota retumbante [para Bolsonaro]. Estão passando dois [candidatos], mas tem que ver os dois que estão passando. O capitão não quer tanto o apoio dele e o Crivella tem 60% de rejeição”, avalia o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Marco Antônio Carvalho Teixeira.
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As derrotas consumadas: SP, Recife, BH, Manaus e o Senado em MT
Na maior cidade do Brasil, Jair Bolsonaro escolheu Celso Russomanno, que liderou boa parte da disputa e depois se manteve em segundo lugar até as vésperas da votação. Nos últimos dias, porém, o deputado perdeu espaço rapidamente e terminou em quarto, com 10% dos votos.
O atual prefeito e candidato mais votado no primeiro turno, Bruno Covas (PSDB), provocou o presidente ao dizer, à GloboNews, que não foi um bom negócio para Bolsonaro se envolver na disputa. “Ele só fez o candidato dele afundar”, disse à Folha de S.Paulo.
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A candidata bolsonarista em Recife, Delegada Patrícia (Podemos), também ficou em quarto lugar, com 14%, e longe dos três primeiros. Ela chegou a ser uma das convidadas de Bolsonaro em uma live e ouviu o presidente fazer um “apelo” aos eleitores da capital de Pernambuco.
O apelo gerou um mal estar na base, uma vez que o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB), apoiava o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM), que ficou em terceiro lugar. O segundo turno será entre dois candidatos de centro-esquerda: João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT).
Outros dois convidados de Bolsonaro em lives saíram derrotados neste domingo. Em Belo Horizonte, Bruno Engler (PRTB) até ficou em segundo lugar, mas com apenas 9% dos votos e muito longe do prefeito reeleito Alexandre Kalil (PSD), que teve 63%. Em Manaus, Coronel Menezes (Patriota) foi o quinto colocado.
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Uma outra derrota importante para o bolsonarismo se deu na disputa pelo Senado em Mato Grosso – uma eleição extraordinária por conta da cassação de Selma Arruda. Bolsonaro apoiava Coronel Fernanda (Patriota), mas o eleito foi Carlos Fávaro (PSD).
A construção dos apoios
Bolsonaro chegou à eleição municipal em uma situação inédita. Foi a primeira vez desde a redemocratização que um presidente da República não está filiado a um partido no momento da disputa pelas prefeituras.
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Nem a falta de partido nem a pandemia impediram que o presidente escolhesse alguns nomes para “dar uma força”.
Ao longo das últimas semanas, Jair Bolsonaro fez seguidas lives do Palácio da Alvorada em que apresentava santinhos de seus candidatos a prefeito e vereador, alguns deles tiveram a chance de participar pessoalmente.
“Se você quer me fortalecer, fortaleça os nossos candidatos”, disse Bolsonaro em 9 de Novembro ao lado da candidata Delegada Patrícia, de Recife.
O analista político da MCM Consultores Ricardo Ribeiro diz que Bolsonaro errou ao, na reta final, declarar apoio a candidatos que tinham poucas chances de eleição.
“Ele não precisava nesta semana apoiar com tanta ênfase candidatos que se sabia que não iam muito longe. Bolsonaro fez um cálculo estratégico errado ou não fez calculo nenhum. Vai sair gratuitamente com pecha de derrotado”, diz.
Sem legenda, Bolsonaro escolheu candidatos de diversos partidos. Em uma lista de 18 candidatos identificados pelo Infomoney como apoiados pelo presidente, a partir de declarações públicas, há dez partidos diferentes: Republicanos, PSD, PRTB, Podemos, Patriota, DEM, PSL, PROS, MDB e PL.
“Se eu tivesse com um partido acertado comigo, infelizmente não foi possível ficar no meu partido, não teríamos problema hoje em dia, eu estaria fazendo campanha só para o meu partido”, disse durante uma live o presidente que deixou o PSL em 2019 e não conseguiu ainda viabilizar seu partido, que se chamaria Aliança pelo Brasil.
“Ele errou do começo ao fim em relação a essa eleição. Abriu mão de um partido que tinha muitos recursos por causa do bom desempenho de 2018, alguma capilaridade, uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados e não conseguiu formar um partido”, avalia Ribeiro, para quem o resultado não necessariamente significa que Bolsonaro vá perder espaço em 2022.
Marco Antônio Carvalho Teixeira acha que, depois do desempenho no primeiro turno, a tendência é que o presidente não se meta nas disputas de segundo turno. “Bolsonaro volta ao seu tamenho normal e o PSL volta a ter a importância que tinha, nula. Um partido com aquela bancada, com recursos, teve desempenho pífio. O PSL sem Bolsonaro não existe, Bolsonaro sem um grupo que promova uma ação coesa também sofre”.
O professor da FGV vê o fortalecimento de políticos e partidos tradicionais, como o DEM, e diz que a força de Bolsonaro em 2022 vai depender de sua capacidade de “fazer política” e da economia. “A médio prazo, ele precisa de uma recuperação econômica que tenha impacto em emprego e renda”.
Vereadores e cidades menores
Bolsonaro envolveu-se ainda em outras seis disputas por prefeituras. Seus candidatos a prefeito em Ipatinga (MG) e Parnaíba (PI), onde apoiava o ex-deputado Mão Santa, foram eleitos.
Em Cabo Frio (RJ), Santos (SP), Criciúma (SC), e Sobral (CE), os bolsonaristas foram derrotados. O último, Oscar Rodrigues, perdeu a eleição para o irmão de Ciro Gomes, Ivo.
Entre os vereadores, destaque para Carlos Bolsonaro (Republicanos), que com 71 mil votos foi o segundo mais votado na cidade do Rio de Janeiro.
Por outro lado, Wal Bolsonaro (Republicanos), denunciada pela Folha de S.Paulo como funcionária fantasma do gabinete do presidente, teve apenas 266 votos e não se elegeu em Angra dos Reis (RJ).
Deilson Bolsonaro (Republicanos), candidato a vereador em Boa Vista que o presidente diz que “adotou como um filho”, ficou entre os suplentes. Ex-assessor de Eduardo Bolsonaro, Paulo Chuchu (PRTB) foi eleito vereador em São Bernardo do Campo (SP).