Campos Neto: Ritmo de 0,5 pontos de corte na Selic é apropriado, e barra para aumentar é “bastante alta”

Presidente do BC diz que, apesar da divisão no último Copom, diretores concordam que ritmo de 0,5 p.p. é apropriado para afrouxamento monetário

Marcos Mortari

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Pedro França/Agência Senado)
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Pedro França/Agência Senado)

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta quinta-feira (17), que, embora a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) tenha mostrado uma divisão entre os diretores da autarquia sobre o tamanho do corte na taxa básica de juros (a Selic, atualmente em 13,25% ao ano), há uma leitura unânime no colegiado de que o ritmo de 0,5 ponto percentual no afrouxamento monetário é adequado e que o sarrafo para uma aceleração no movimento é alto.

Em entrevista ao jornal digital Poder360, Campos Neto disse que a divisão entre cortes de 0,25 p.p. e 0,50 p.p. observada no último encontro do comitê na verdade representou uma divergência entre os diretores construída na reunião anterior, em que uma parte do comitê votou por “fechar a porta” para o início do ciclo de cortes na Selic em agosto.

Segundo ele, este grupo foi responsável pelo voto mais “hawkish” (conservador) no último Copom, decidindo mudar de posição da manutenção para um corte de 0,25 ponto percentual após mudanças observadas na conjuntura econômica. Entre os fatores apontados estão a decisão de manutenção da meta de inflação em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e seus reflexos nas expectativas do mercado, além da própria dinâmica dos preços no período entre uma reunião e outra do comitê.

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“Esse Copom (de agosto) carregou uma divisão que tinha no outro Copom. No Copom anterior (realizado em junho), havia uma divisão muito grande se a gente devia fazer uma comunicação deixando a porta aberta ou fechada. A gente ainda não sabia qual era a meta ainda de inflação nem o que a nova meta ia gerar em termos de expectativas de inflação no mercado”, explicou.

“Além disso, na dinâmica de inflação de curto prazo, algumas pessoas entendiam que a inflação de serviços ia começar a mostrar uma cara melhor e ia trazer uma expectativa melhor de dinâmica de inflação à frente. E havia outras pessoas que tinham um pouco mais de dúvida”, prosseguiu.

Na reunião dos dias 1 e 2 de agosto, votaram por um corte de 0,25 ponto percentual da Selic os diretores Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes. Já os diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso e o próprio Campos Neto votaram por um corte de 0,5 p.p..

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O presidente do BC destacou que, entre uma reunião e outra, as expectativas para a inflação caíram da faixa entre 3,8% e 3,9% para o acumulado de 12 meses para um patamar próximo a 3,5%. “Algumas pessoas achavam que, mesmo tomando a decisão de 3%, a expectativa não ia cair – e ela acabou caindo. E a dinâmica de inflação se mostrou um pouco melhor”, disse.

“Quando a gente vai para o último Copom, na verdade carregamos uma divisão. Quem queria deixar a porta fechada naturalmente poderia votar por zero, porque deixou a porta fechada. Como houve algumas mudanças ao longo do caminho, essas pessoas que queriam deixar a porta fechada votaram por [um corte de] 25 [pontos-base], e as pessoas que queriam deixar a porta aberta entendiam que já existiam condições para iniciar um ciclo com ritmo de 50 [pontos-base]. E o que foi unânime foi que 50 [pontos] é um ritmo apropriado e agora entendemos que a barra para aumentar o ritmo é bastante alta. Enxergamos um ciclo em que o ritmo de 50 [pontos-base] é apropriado”, salientou.

“O que quisemos dizer é que a barra para fazer alguma coisa ou acima dos 50 [pontos-base de corte] ou abaixo é alta”, reforçou.

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Segundo Campos Neto, pesam sobre a decisão do Copom sobre o ritmo de queda dos juros as expectativas dos agentes econômicos e da própria instituição para a inflação, a dinâmica dos preços correntes e o hiato do produto (ou seja, a capacidade que o país tem de crescer sem gerar mais inflação).

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.