Campos Neto: elemento de oferta da inflação é muito menor do que o da demanda

Avaliação contrasta com narrativa usada por Lula e aliados, que criticam o atual patamar da Selic e dizem que a inflação brasileira não é de demanda

Marcos Mortari

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na CAE do Senado
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na CAE do Senado

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta quinta-feira (10), em audiência pública no Senado Federal, que atualmente o lado da demanda pressiona mais o comportamento da inflação do que a oferta.

“O elemento de oferta da inflação é muito menor do que o da demanda. Conseguimos ver isso pela média dos núcleos, quando dividimos os fatores que contribuíram para a demanda e para a oferta”, disse.

“Hoje, por exemplo, a parte de oferta já está abaixo da média, já não contribui para a inflação. E quando pegamos a demanda, estamos melhorando, mas ainda acima da linha média”, continuou.

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A avaliação de Campos Neto contrasta com narrativa usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados políticos, que criticam o atual patamar da taxa básica de juros (a Selic, mantida em 13,25% ao ano) e dizem que a natureza da inflação brasileira não é de demanda.

Durante sua fala inicial aos senadores, o presidente do BC afirmou, ainda, que os preços deverão apresentar uma curva de alta de 12 meses até o fim de 2023, em razão do fim de desonerações concedidas para combustíveis pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Ele valorizou o trabalho de política monetária feito pela autarquia, dizendo que ele foi exitoso em entregar um “pouso suave”, com convergência da inflação a custos baixos em termos de crescimento econômico e desemprego.

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“O Brasil se destaca claramente em uma relação de queda de inflação e pouco dano ao PIB e ao emprego. Temos dificuldade de achar outro país que tenha feito isso com essa eficiência”, destacou.

Mas manifestou preocupação com níveis ainda elevados de preços no setor de serviços, que ainda destoa do restante da cesta de produtos em uma redução mais tímida.

“No caso do Brasil o que preocupa hoje um pouco mais é a inflação de serviços, que tem caído, mas muito lentamente. Ela preocupa especialmente quando afeta uma inflação de salários. Não temos visto isso ainda. Temos até visto uma melhora recente na inflação, apesar do núcleo da inflação de serviços ainda estar alta”, disse.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.