Brasil quer concluir acordo Mercosul-UE “o quanto antes”, diz Lula a líder italiano

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta segunda-feira (15), em Brasília (DF), o presidente da Itália, Sergio Mattarella

Fábio Matos

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República, em reunião com o presidente da Itália, Sergio Mattarella (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente da República, em reunião com o presidente da Itália, Sergio Mattarella (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta segunda-feira (15), em Brasília (DF), o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e reafirmou que o Brasil tem o objetivo de concluir o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Em declaração conjunta à imprensa, após se reunir com o líder italiano, Lula disse esperar que o acordo seja finalmente sacramentado em breve.

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Costurado desde o fim dos anos 1990, o acordo comercial entre os dois blocos teve sua primeira etapa concluída em 2019, ainda sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde então, os termos passaram à fase de revisão por parte dos países envolvidos, mas pouco se avançou até aqui.

“Como fiz na recente Cúpula do Mercosul, em Assunção [Paraguai], reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o quanto antes, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões. Explicitei que o avanço das negociações depende de os europeus resolverem suas próprias contradições internas”, afirmou Lula em seu pronunciamento.

“Medidas como a taxa de carbono imposta de forma unilateral pela União Europeia podem afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano. A redução das emissões de CO2 é um imperativo, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que vão impactar as vidas dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos”, prosseguiu Lula.

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Sobre a visita do presidente da Itália ao Brasil, Lula afirmou que ela representa “o ponto alto da celebração dos 150 anos da imigração italiana, que tornou as trajetórias dos nossos países para sempre indissociáveis”.

“Esses laços se reforçam por meio de demonstrações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Somos muito gratos pela doação de 25 toneladas de ajuda humanitária que recebemos do governo da Itália”, agradeceu o presidente brasileiro.

Fluxo de comércio precisa aumentar

Em seu discurso, Lula disse que a corrente comercial entre as economias brasileira e italiana ainda está aquém do potencial e da força dos dois países no cenário global.

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“Itália e Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo. Dois países dessa estatura devem ter um fluxo de comércio e investimentos à altura da sua riqueza”, afirmou o brasileiro.

“Nossa corrente de comércio, de aproximadamente US$ 10 bilhões, só agora retornou aos níveis registrados há uma década. Compartilhei com o presidente Mattarella o desejo de diversificar a pauta e incrementar as exportações brasileiras”, defendeu Lula.

G20, guerras e combate à fome

Em sua fala durante a cerimônia, o presidente da República destacou que o Brasil preside atualmente o G20 – grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana – e a Itália está no comando do G7.

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“Na presidência do G20 e do G7, respectivamente, Brasil e Itália têm a oportunidade de liderar a busca por soluções para os problemas compartilhados”, afirmou Lula.

“A guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza mostram que abrir mão do diálogo e da diplomacia leva a consequências nefastas”, prosseguiu o presidente, em alusão aos conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Lula lembrou, por fim, que a Itália, como país-sede da FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] e do Programa Mundial de Alimentos, “convidou o Brasil a participar do Grupo de Trabalho sobre a Segurança Alimentar do G7”.

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Leia a íntegra do discurso de Lula:

É motivo de grande satisfação poder retribuir a hospitalidade com que fui recebido na Itália, pelo presidente Mattarella, no ano passado.

Este ano, novamente, por ocasião do G7, contei com a generosa acolhida da primeira-ministra Giorgia Meloni.

O presidente Sergio Mattarella vem ao Brasil pela primeira vez em um momento particularmente auspicioso.

Esta visita representa o ponto alto da celebração dos 150 anos da imigração italiana, que tornou as trajetórias dos nossos países para sempre indissociáveis.

Esses laços se reforçam por meio de demonstrações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul.

Somos muito gratos pela doação de 25 toneladas de ajuda humanitária que recebemos do governo da Itália.

O material doado certamente aliviou a enorme perda sofrida pela população gaúcha, que reúne uma parcela numerosa dos mais de 35 milhões de descendentes de italianos no Brasil.

Na presidência do G20 e do G7, respectivamente, Brasil e Itália têm a oportunidade de liderar a busca por soluções para os problemas compartilhados.

Na reunião de hoje discutimos alguns dos complexos desafios da atualidade.

Manifestei minha satisfação com a vitória das forças progressistas nas recentes eleições no Reino Unido e na França. Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo.

A guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza mostram que abrir mão do diálogo e da diplomacia leva a consequências nefastas.

País-sede da FAO e do Programa Mundial de Alimentos, a Itália convidou o Brasil a participar do Grupo de Trabalho sobre a Segurança Alimentar do G7.

Retribuí a confiança convidando a Itália a se somar à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que lançaremos no Brasil por ocasião do G20.

O pioneirismo italiano em mecanismos de troca de dívida por alimentos será muito valioso para nossa iniciativa.

Outra causa que nos une é a da transição justa, em especial a convicção no potencial da bioenergia.

Vamos seguir trabalhando juntos na Aliança Global para os Biocombustíveis lançada no ano passado, na Índia, para disseminar o conhecimento e a tecnologia necessários para ampliar o uso dessa alternativa.

Itália e Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo.

Dois países dessa estatura devem ter um fluxo de comércio e investimentos à altura da sua riqueza.

Nossa corrente de comércio, de aproximadamente US$ 10 bilhões, só agora retornou aos níveis registrados há uma década.

Compartilhei com o presidente Mattarella o desejo de diversificar a pauta e incrementar as exportações brasileiras.

A retomada, em breve, do Conselho Brasil-Itália de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Industrial e Financeiro poderá contribuir muito nesse sentido.

Como fiz na recente Cúpula do Mercosul, em Assunção, reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o quanto antes, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões.

Explicitei que o avanço das negociações depende de os europeus resolverem suas próprias contradições internas.

Medidas como a taxa de carbono imposta de forma unilateral pela União Europeia podem afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano.

A redução das emissões de CO2 é um imperativo, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que vão impactar as vidas dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos.

A Itália é uma importante fonte de investimentos para o Brasil – as quase 1500 empresas italianas instaladas aqui geram mais de 150 mil empregos diretos.

Desde o início deste mandato trabalhamos para atrair ainda mais investimentos. Vemos interesse renovado da indústria automotiva pelo Brasil.

No ano passado, o grupo Stellantis, resultante da fusão da Fiat Chrysler e da Peugeot, anunciou 30 bilhões de reais para modernização e ampliação de suas fábricas no Brasil.

É o maior investimento da indústria automotiva em toda a América do Sul.

Um setor em que a Itália já está bem posicionada é o de energia. Os parques eólicos e fotovoltaicos de empresas italianas e o interesse delas em hidrogênio verde, mostram o potencial a ser explorado nessa área.

Um exemplo é o investimento de mais de 2 bilhões de reais no Complexo Eólico Aroeira, na Bahia, feito pela Enel.

Abrir novas frentes de cooperação não significa abandonar nossa tradicional colaboração em outras áreas.

No passado, a cooperação tecnológica no desenvolvimento do caça AMX permitiu à Embraer um salto na produção de jatos.

Hoje, a empresa tem condições de colaborar com a força aérea italiana por meio do fornecimento de aeronaves C-390 Millenium.

A maior força propulsora dos vínculos entre a Itália e o Brasil são nossas sociedades.

E é do nosso interesse aproximá-las por meio de medidas simples que apoiem esse intercâmbio.

Por isso, estou satisfeito com a assinatura, hoje, de acordo de reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação.

Espero que esse instrumento incentive o turismo e os negócios e facilite a rotina dos brasileiros que vivem na Itália e dos italianos que moram no Brasil.

A USP e a EMBRAPA também assinaram hoje Memorandos de Entendimento com a Universidade de Turim nas áreas de cooperação acadêmica e pesquisa em segmentos da cadeia agroalimentar.

Em 2007, no meu segundo mandato, firmamos uma parceria estratégica que deu novo impulso ao relacionamento Brasil-Itália.

Quero que esta visita represente a renovação dessa parceria, inaugurando um período de contato intenso e dinâmico entre Brasil e Itália.

O presidente Mattarella ainda viajará para o Rio Grande do Sul e passará por Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador nesta sua primeira visita ao Brasil.

Estou certo de que será capaz de formar uma boa perspectiva da diversidade, das riquezas culturais e naturais, e do potencial do nosso querido Brasil.

Muito obrigado.

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”