Boulos tenta versão mais “enérgica”, mas eleitor não responde

Nos primeiros dias da campanha do segundo turno, Boulos adotou nova postura, mirando eleitores que votaram em Pablo Marçal, mas ainda não colheu resultados

Estadão Conteúdo

Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Reprodução/YouTube)
Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (SP) (Foto: Reprodução/YouTube)

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O deputado Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo (SP), tem apostado em diversas frentes para atrair o eleitorado de Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 1,7 milhão de votos.

Nos primeiros dias da campanha do segundo turno, Boulos prometeu incorporar propostas que dialoguem com esse segmento, além de adotar um tom mais enérgico alinhado ao discurso de “mudança” – estratégia baseada na percepção de que parte dos votos no influenciador teria sido em protesto ao sistema político tradicional.

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No entanto, a segunda pesquisa do Datafolha pós-primeiro turno, divulgada na quinta-feira (17), mostra que a estratégia não ajudou a impulsionar a campanha do parlamentar, que segue com 33% das intenções de voto.

O prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) registrou 51% das intenções de voto – 4 pontos porcentuais de queda em relação à primeira consulta feita pelo Datafolha no segundo turno, antes do apagão que tomou conta de bairros de São Paulo em razão das chuvas de uma semana atrás na cidade. Nunes avisou ontem, em cima da hora, que não participaria do debate promovido pela Folha/UOL/RedeTV!.

Segundo o novo levantamento do Datafolha, 14% dos eleitores afirmaram que votariam em branco ou anulariam o voto caso o pleito fosse hoje. São 4 pontos porcentuais a mais do que a última pesquisa do instituto. Outros 2% não sabem em quem votar.

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O Datafolha entrevistou 1.204 eleitores de São Paulo entre os dias 15 e 17 de outubro. A margem de erro do levantamento é de três pontos porcentuais para mais ou para menos, e o nível e confiança é de 95%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o SP-05561/2024.

Na pesquisa do instituto publicada no dia 10 de outubro, Nunes figurava com 55% das intenções de voto, e Boulos com 33% das menções. Nela, a maioria dos entrevistados, 85%, afirmou já estar “totalmente decidida” sobre o voto em seu candidato escolhido. Os outros 15% disseram que ainda poderiam rever e mudar de decisão.

Em jogo

Boulos tem se colocado como o “candidato da mudança”, em oposição ao “mais do mesmo”, representado, em sua visão, pelo prefeito Ricardo Nunes.

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“O que está em jogo nesse segundo turno é o seguinte: só há dois caminhos. Quem quer que a cidade permaneça como está? Quem quer o mesmo grupo político no poder? Está com o meu adversário. Quem quer mudança? Se você sabe que precisamos de mudança, está com a gente”, afirmou Boulos em uma agenda de campanha na última sexta-feira (11), no bairro da Brasilândia, zona norte da capital paulista.

O Estadão apurou que, para a campanha de Boulos, o eleitorado de Marçal foi motivado mais por um voto de protesto de eleitores descontentes com a política tradicional, representada por figuras como Nunes, do que por motivos ideológicos. Assim, a estratégia do deputado passa por atrair esse segmento insatisfeito, buscando conquistar parte dos votos que, até o momento, estão majoritariamente com o emedebista.

Boulos tem intensificado suas falas contra o opositor tanto em atos de campanha quanto em entrevistas. No pronunciamento logo após o resultado do primeiro turno, ele já sinalizou a mudança de postura ao dizer que Nunes “tem histórico de relação com o crime organizado, com tráfico de drogas, e botou o crime organizado no comando da Prefeitura de São Paulo.”

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Durante o evento de campanha “Plenária Arrancada da Vitória”, realizado na semana passada, Boulos criticou a gestão de Nunes em diversas ocasiões, chamando-o de “pau-mandado do centrão”, em referência aos partidos que compõem a coligação do prefeito de São Paulo.

Poucas horas antes, na sabatina realizada pelo jornal O Globo, há uma semana, o candidato do PSOL acusou seu adversário de fazer uso de “caixa dois”, prática ilegal de financiamento de campanha.

Na sequência da mesma entrevista, Boulos aproveitou para rebater a percepção de que, neste início de segundo turno, estaria adotando um tom mais agressivo. “Onde talvez vejam estridência, eu vejo firmeza”.

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Apagão

Da mesma forma, no debate da Band, na última segunda-feira (14), o deputado intensificou os ataques a Nunes, especialmente em relação ao apagão que deixou mais de dois milhões de pessoas sem energia na região metropolitana de São Paulo após o temporal da última sexta-feira (11).

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Em um dos intervalos, a equipe do emedebista chegou a reclamar com a produção, alegando que o candidato do PSOL estava utilizando a regra que permite movimentação pelo palco para se aproximar do prefeito com a intenção de intimidá-lo.

Nas propagandas eleitorais, a campanha também tem buscado associar Nunes ao crime organizado, destacando, por exemplo, a relação de um servidor de carreira da Prefeitura com um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ao expor os casos relacionados ao emedebista, a campanha busca, portanto, posicioná-lo como um político que representa o sistema e, ao mesmo tempo, aumentar a rejeição ao atual prefeito.

Medidas

Em outra frente, o candidato também tem atuado no plano programático, prometendo incorporar uma das propostas de Marçal: as “escolas olímpicas”, que buscam equipar as instituições públicas de ensino para a prática de esportes olímpicos.

Além disso, ele se comprometeu a implementar iniciativas do plano de governo de Tabata Amaral (PSB), como o “Jovem Empreendedor”, que oferece crédito para jovens que desejam empreender e abrir seu próprio negócio, fomentando o empreendedorismo na capital – uma das principais bandeiras do influenciador.

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Poucos efeitos

O cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública (DOXA), Bruno Schaefer, avalia que, embora a estratégia de Boulos seja válida, as sinalizações do candidato têm poucos efeitos eleitorais, já que Marçal escolheu o deputado como seu principal alvo, dificultando a transferência de votos nesta reta final.

Schaefer também afirmou que o tom mais elevado adotado por Boulos, embora necessário por estar atrás nas pesquisas, pode ser arriscado e aumentar ainda mais sua rejeição, que já está na faixa dos 60%.

Nunes, por sua vez, apesar de contar com o apoio natural desse segmento, promete um programa focado em empreendedorismo. Durante agendas na primeira semana do segundo turno, o prefeito evitou criticar diretamente Pablo Marçal, afirmando que pretende avaliar quais de suas propostas podem ser implementadas em sua gestão, caso seja reeleito. Como mostrou o Estadão, o influenciador não apoiará Nunes e liberou seus eleitores para adotarem a posição que quiserem.