Boulos culpa “incompetência” de Nunes por apagão; prefeito acusa Lula de omissão

Candidatos trocam acusações sobre crise de falta de energia na cidade; concessionária Enel é atacada por ambos

Marcos Mortari Fábio Matos

Publicidade

No primeiro debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo (SP) após o primeiro turno das eleições municipais de 2024, realizado pela TV Bandeirantes nesta segunda-feira (14), o apagão provocado pelas chuvas da última sexta-feira (11) assumiu a centralidade das discussões entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).

Logo na abertura do evento, Boulos lembrou das 300 mil famílias que seguem sem fornecimento de energia elétrica e que não poderiam assistir ao debate três dias após as chuvas que resultaram em diversas quedas de árvores pela cidade. Durante sua fala, o deputado criticou a atuação da concessionária Enel, mas também responsabilizou seu adversário pelas consequências enfrentadas pelos paulistanos.

“Esse apagão tem 2 grandes responsáveis: a Enel, que é uma empresa que presta um serviço horroroso e que eu, como prefeito de São Paulo, a partir de 1º de janeiro do ano que vem, vou trabalhar para tirá-la daqui. E o Ricardo Nunes, porque não fez o básico, o elementar, a lição de casa: poda de árvore na cidade de São Paulo, manejo arbóreo. E olha que tivemos um apagão há menos de um ano, e nada foi feito de lá para cá”, disse.

O parlamentar, que larga atrás nas pesquisas neste segundo turno, disse que a cidade hoje é “refém dessas duas incompetências” e prometeu, caso eleito, trabalhar para garantir os recursos necessários para ações de zeladoria, como a verificação da situação das árvores e a realização de podas.

Já Nunes citou os desafios enfrentados pelo mundo todo pelas mudanças climáticas e destacou a criação de secretaria específica por sua administração para tratar da questão. Ele lamentou os transtornos causados pelas chuvas à população e centrou carga contra a Enel e o governo federal − porém, sem citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“É inaceitável o que essa empresa Enel tem feito com a cidade de São Paulo. É inaceitável que o governo federal, que é quem detém a concessão, regulação e fiscalização, não tenha feito nada desde novembro do ano passado”, critiou.

Continua depois da publicidade

“Entrei com 3 ações judiciais contra a Enel. Fui a Brasília, ao ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira], pedir a rescisão do contrato. Fui ao TCU, pedindo a rescisão do contrato. Tive várias reuniões com o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica. Infelizmente não houve nenhuma ação e a Enel continua aqui atrapalhando a nossa cidade”, prosseguiu.

Além do que apontou como “falta de ação” do governo federal contra a empresa, Nunes também criticou Boulos por não ter atuado politicamente pela resolução do problema. O prefeito cobrou seu adversário por não ter apresentado no Congresso Nacional um projeto alterando lei federal para permitir que prefeituras tivessem maior discricionariedade sobre os contratos de concessão de energia elétrica.

“Infelizmente, não houve, por parte do governo federal, nenhuma ação. Nós, prefeitos, não temos ação contra a Enel, porque a concessão, regulação e fiscalização é do governo federal. Assim como Diadema, que é governada pelo PT também, está sofrendo sem energia. E você, como deputado federal, infelizmente não fez nada”, afirmou.

Continua depois da publicidade

“Por que não fez nenhum projeto de alterar a lei? Eu, como prefeito, tive que ir lá fazer o papel dele, apresentar o projeto”, disse em outro momento.

Em resposta, Boulos disse ficar “impressionado” com a “falta de capacidade” de Nunes em assumir responsabilidade. “Sempre o problema é do outro. Você não faz poda de árvore e o culpado é o Lula? Nunca o problema é seu, nunca a responsabilidade é sua. Você devia ter mais humildade (…) de assumir sua responsabilidade. Não é feio assumir um erro. Você errou. Não fez o elementar”, disse.

O parlamentar também alegou que, em nível federal, a fiscalização da Enel cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que hoje é comandada por Sandoval Feitosa, indicado ainda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que apoia Nunes. E sugeriu que seu adversário intervisse junto ao aliado em busca de soluções.

Continua depois da publicidade

No mesmo confronto, Boulos dirigiu-se ao eleitor que acompanha o debate: “Você, que está assistindo em casa, que ligou para #156 [número de telefone da Central de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura], pedindo poda e remoção de árvore, como várias que caíram ontem, que tinham pedido há mais de um ano, acha que ele fez o trabalho dele? Ele está dizendo que contratou tantos… Você está se sentindo satisfeito? (…) É isso que está em jogo. Não adianta vir com palavra vazia.”

“A chuva e a ventania de sexta-feira foi de menos de 1 hora. Em São Paulo, ficou mais gente sem luz do que na Flórida, com o furacão Milton”, comparou o deputado.

Ao responder sobre podas de árvores, Nunes disse que em 6 mil casos a responsabilidade é da Enel, por estarem em contato com a rede elétrica. O prefeito também aproveitou para ressaltar medidas direcionadas ao meio ambiente em sua administração, citando a inauguração de parques, o aumento da área de cobertura vegetal e a desapropriação de territórios de mata verde da capital paulista.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.