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SÃO PAULO – Os primeiros meses de governo de Jair Bolsonaro (PSL) têm sido marcados por uma confusão entre as figuras do candidato e do presidente, realidade que tende a impor desafios na formação de uma base aliada sólida no Congresso Nacional para a aprovação de medidas complexas.
Essa é a avaliação que faz o jornalista e consultor político e econômico Thomas Traumann, autor do livro “O pior emprego do mundo” (Ed. Planeta), que trata dos desafios enfrentados pelos ministros da Fazenda. Ele participou do programa InfoMoney Entrevista desta quarta-feira (13). Assista à íntegra pelo vídeo acima.
“Bolsonaro continua agindo como um candidato de oposição. Ele não se coloca como presidente, mas como alguém que é contra uma série de coisas. Agora, vai haver um momento em que esse governo vai ter que começar a trabalhar”, avaliou.
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Para o especialista, o presidente deveria ter se esforçado na construção de uma base partidária mais clara no parlamento, tendo em vista os tradicionais desafios para a governabilidade no sistema brasileiro. Ele lembra que mudanças mais profundas, que envolvem a aprovação de emendas constitucionais, demandam maioria de 3/5 das duas casas legislativas (308 deputados federais e 49 senadores).
Apesar do discurso do fim do chamado “toma lá dá cá”, Bolsonaro poderá ter de lançar mão de instrumentos tradicionais de que a Presidência da República dispõe para fazer sua agenda legislativa avançar. Alguns desses movimentos ainda são ensaiados com timidez, como a distribuição de recursos para emendas parlamentares, a abertura de indicações para cargos, que passarão por recrutamento.
“A realidade se impõe. É natural que, durante a campanha, se fale que vai ser tudo diferente. No primeiro ano do governo Lula, a agenda de reformas passou, houve mudanças internas importantes, mas a parte mais claramente petista foi um fracasso. Eles tiveram que se readaptar para conseguir uma base no Congresso. Esse governo vai ter que mudar e entrar no mundo real, que é conseguir 308 votos. Não vai ser fazendo tweet que ele vai conseguir isso”, pontuou.
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É o caso para a reforma da Previdência, pauta prioritária do governo neste início de mandato. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição), apresentada há três semanas, deve iniciar sua tramitação nesta quarta, com a instalação das comissões especiais na Câmara dos Deputados. Parlamentares insatisfeitos, contudo, dizem que as discussões só começarão após o envio de projeto que trata da aposentadoria dos militares.
Enquanto alguns membros do governo falam em 260 votos a favor da proposta e votação em plenário ainda no primeiro semestre, Traumann adota tom mais cauteloso. Ele espera um ritmo mais lento e diz que o Planalto teria motivos para comemorar se aprovasse um texto com impacto fiscal entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões em dez anos. A versão original prevê uma economia de R$ 1,16 trilhão.
“Este era o momento de o governo levantar quem são as pessoas (deputados) firmes e dispostos a aparecer na televisão, votarem e enfrentarem a discussão a favor da reforma, e montar uma maioria sólida. Está faltando certo senso de urgência”, disse o especialista.
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Paralelamente à articulação política que ainda patina, a comunicação com o eleitorado a partir das mídias sociais é outro instrumento estratégico para o atual governo. Na avaliação do especialista, pontos específicos da reforma, como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), as aposentadorias rurais ou as alíquotas cobradas ao funcionalismo público, serão temas que reverberarão no debate digital e o governo precisará mostrar-se pronto para essa disputa por narrativas.
“O governo tem que estar pronto para isso, fazer uma contra-argumentação, preparar os deputados, preparar as argumentações. Isso vai ser fundamental para entender o futuro da reforma, e o governo não se mostrou preparado. Como ele tem talento para isso e conseguiu ser eleito assim, é hora de mostrar prioridades. A prioridade é ficar tuitando sobre bloco de Carnaval em São Paulo ou sobre a reforma da Previdência?”, questionou.
Mesmo com os atuais desafios, Traumann acredita na aprovação de uma reforma previdenciária. Seu cenário base considera um texto significativamente diluído, com tramitação mais lenta do que a esperada pelo governo.
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“Há um otimismo que acho correto. Se pensarmos a médio prazo, teremos uma reforma que será importante, mas ela não vai ser nem de longe nos termos que [Paulo] Guedes (ministro da Economia) está imaginando. Aí, R$ 500 ou 600 bilhões [de impacto fiscal], levante as mãos para os céus, que vai ser um enorme lucro. Porque não há uma base política sólida para conseguir fazer aprovar mais que isso”, concluiu.
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