Bolsonaro reage a críticas ao Renda Cidadã e cobra sugestões do mercado: “Se o Brasil for mal, todo mundo vai mal”

Presidente diz que, caso não seja encontrada solução para 20 milhões de beneficiários do auxílio emergencial, país poderá enfrentar "distúrbios sociais"

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Em meio às reações negativas de agentes econômicos para a opção de financiamento apontada pelo governo federal para a construção do Renda Cidadã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a dar um recado ao mercado e pediu sugestões para atender os beneficiários do auxílio emergencial a partir de janeiro de 2021, quando está previsto o fim do programa.

“Todo mundo tem consciência de que milhões de empregos e rendas foram destruídos com a política do ‘fique em casa, a economia a gente vê depois’. Chegou a fatura”, disse durante breve conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, nesta terça-feira (29).

O mandatário afirmou que, caso não seja encontrada uma solução para a situação de cerca de 20 milhões de brasileiros que figuram entre os beneficiários do programa temporário criado durante a pandemia de Covid-19, o país poderá enfrentar “distúrbios sociais gravíssimos”.

“Tudo que o governo pensa ou gente ligada ao governo ou líderes partidários pensam, isso aí se transforma em críticas monstruosas contra nós”, afirmou. “Agora, temos que ter alternativas. Sabemos que não tem recursos, então está buscando alternativas”.

“Alguns falam ‘pega dos precatórios’, ‘vende algumas estatais’. Vender estatal não é de uma hora para outra assim, não. É um processo enorme, você tem que ter um critério para isso. Não pode queimar estatais, tem que vender estatais para alguma finalidade. Se bem que para essa finalidade, é possível de ser estudado – antes que o mercado desabe novamente”, disse.

Veja a íntegra pelo vídeo abaixo:

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A fala do presidente ocorre após repercussão negativa entre os investidores do Renda Cidadã com recursos de precatórios e do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). Na avaliação de agentes econômicos, o governo fugiu da necessária discussão sobre cortes de despesas e optou por saídas fáceis que podem gerar insegurança jurídica e comprometer as contas públicas.

A ideia do governo federal é substituir o Bolsa Família por um programa com mais beneficiários e repasses mensais mais elevados. Antes batizado de Renda Brasil, o plano enfrenta um impasse para a busca por fontes de financiamento. Membros da equipe econômica chegaram a sugerir a desindexação temporária do salário mínimo e benefícios previdenciários e a extinção de programas sociais que pudessem ser considerados ineficientes. O plano irritou o presidente, que chegou a interditar as discussões sobre o assunto.

Na conversa com apoiadores nesta terça, Bolsonaro voltou a direcionar fala aos agentes econômicos: “O pessoal do mercado também, não estou dando recado para vocês… Se o Brasil for mal, todo mundo vai mal. Aquele ditado ‘estamos no mesmo barco’ é o mais claro que existe no momento. O Brasil é um só, se começar a dar problema, todos sofrem. Pessoal do mercado também não vai ter renda, vocês vivem disso, de aplicação. E nós queremos, obviamente, estar de bem com todo mundo, mas eu peço, por favor, ajude com sugestões, não com críticas”.

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“Eu vou fazer o possível para buscar uma solução. Eu quero a solução racional, preciso de ajuda no tocante a isso, conselhos, sugestões. Agora, se não aparecer nada, eu vou tomar aquela decisão que o militar toma: pior o que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Eu não vou ficar indeciso. O tempo está correndo, está o tique-taque correndo, está chegando janeiro de 2021, precisamos de alternativa para aproximadamente 20 milhões de pessoas que não vão ter o que comer a partir de janeiro do ano que vem”, afirmou.

Interesses eleitorais

Bolsonaro também voltou a dizer não estar preocupado com sua reeleição. “Tudo que faço dizem que estou pensando em 2022, se eu não faço eu sou omisso, se eu faço eu estou pensando em 2022. Agora, não queiram estar no meu lugar”.

Mais cedo, nas redes sociais, o presidente disse que, ao longo de sua vida parlamentar, nunca se preocupou com a recondução ao cargo. “Sempre exerci meu trabalho na convicção de que o voto era consequência dele. Minha crescente popularidade importuna adversários e grande parte da imprensa, que rotulam qualquer ação minha como eleitoreira”, tuitou.

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Na sequência de postagens, Bolsonaro também criticou a política do distanciamento social e disse que “a imprensa, que tanto apoiou o ‘fique em casa’, agora não apresenta opções de como atender a esses milhões de desassistidos”.

“Os responsáveis pela destruição de milhões de empregos agora se calam. O meu governo busca se antecipar aos graves problemas sociais que podem surgir em 2021, caso nada se faça para atender a essa massa que tudo, ou quase tudo, perdeu”, afirmou.

O mandatário, ainda, afirmou que a responsabilidade fiscal e o respeito à emenda constitucional do teto de gastos “são os trilhos da economia” e disse que “o auxílio emergencial, infelizmente para os demagogos e comunistas, não pode ser para sempre”.